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Próxima estação: Campo Grande; correspondência com a linha Azul?



Ao falar de jogos entre o Sporting e o Belenenses é inevitável “folhear” de novo as muitas páginas da história do futebol português e de Lisboa. Este “derby”* é por isso considerado um “clássico”. Não só por ser antigo, mas por já ter decidido títulos.

* - A palavra “derby” refere-se exclusivamente a desafios entre equipas da mesma cidade/localidade (há quem cometa o erro de pensar que são jogos entre “grandes”). A “história” é a seguinte: ainda no Séc.XIX e numa localidade próxima de Derby, em Inglaterra, jogava-se um jogo primitivo antecessor do futebol, sempre disputado por duas equipas locais (basicamente os de “cima” e os de “baixo”). Em 1880 um desses desafios descambou em violência (que até era relativamente normal) e tiveram que chamar a polícia de Derby. Assim ganhou fama esta disputa exclusivamente “local”, passando a designar semelhantes desafios no futebol.

Por certa simpatia (ou menor antipatia) mas sobretudo para meter "pirraça" (aos benfiquistas) alguns sportinguistas falam neste jogo como o “verdadeiro derby de Lisboa”. E o Sporting, sendo o 2ª grande de Lisboa em títulos, talvez tenha maior empatia com o 3º, que somos nós. Mas esse tipo de coisas ultrapassa as minhas intenções. Se houver cordialidade e fair-play entre adeptos, tanto melhor. Com qualquer clube! De resto, somos adversários.


Um pouco de "pirraça" para os nossos vizinhos lagartos (ou gatinhos?).
É que hoje não há "empatias", é a doer...

E aqui temos de referir um pouco da história das visitas do Belenenses ao Sporting, embora um dos Belenenses-Sporting (nas Salésias) tenha marcado - mais que qualquer outro jogo - as relações entre adeptos dos dois clubes. Mas quando fôr o Belenenses-Sporting voltaremos ao assunto.

O primeiro Sporting-Belenenses (e 1º jogo entre si) foi a 18 de Abril de 1920 no Campo Grande, a contar para o Campeonato de Lisboa (então a principal competição). O Belenenses ganhou por 1-0 com um golo do seu fundador e um dos melhores jogadores portugueses de todos os tempos: Artur José Pereira. Curiosamente Artur José Pereira havia saído do Sporting (onde foi figura determinante) para fundar o Belenenses, com a “autorização” do seu amigo Francisco Stromp: “Ó Jorge [Jorge Vieira, capitão do Sporting”], diz ao Artur que vá à merda e que funde o tal clube em Belém!”. Por ser parte da história do próprio Belenenses, trataremos este e outros episódios noutra ocasião (poderão ler alguns na minha página pessoal).
Ainda nos primeiros tempos, um outro jogo com o Sporting (no Lumiar) marcou a história “azul”. Foi em 26 de Março de 1922, disputando-se a final do Campeonato de Lisboa. Embora a atmosfera fosse extremamente cordial (antes de se iniciar o jogo, Artur José Pereira e Francisco Stromp, seu velho amigo, abraçaram-se) o jogo em si foi extremamente violento de parte a parte. O árbitro contudo punia muito mais os Belenenses. Na 1ª parte expulsou Alberto Rio (salvo erro) de forma tão incompreensível que os próprios adeptos do Sporting mostraram a sua desaprovação. E no intervalo o próprio Francisco Stromp ajudou a insistir com o árbitro para que corrigisse o erro, algo que veio a fazer. O Sporting acabou por vencer (2-0), mas os azuis saíram indignados, mesmo considerando os gestos de simpatia do adversário em campo. E este triste jogo acabou por ser... o último jogo oficial de Artur José Pereira.

Passando agora a uma análise dos números: sendo o Belenenses o 4º clube com maior número de presenças no primeiro escalão (1ª Liga/1ª Divisão/Superliga, só “falhou” por 4 vezes) o Sporting-Belenenses é obviamente um dos jogos mais repetidos da história. No reduto dos “leões” (onde centramos a nossa análise) jogaram-se 68 jogos, com um saldo altamente desfavorável para os “azuis”. 50 derrotas, 10 empates e 5 vitórias... Mas atenção, dos clubes que estão actualmente na Superliga, apenas outros 10 conseguiram vitórias (incluindo os outros 2 grandes). E o Belenenses é o 4ª clube com melhores resultados, só sendo superado por Benfica, Porto e... Guimarães (com o mesmo número de empates, conseguiram vencer mais uma vez [6]).
Em termos de golos, a história também é desfavorável, claro: 148 golos sofridos e 55 golos marcados (e aqui o Belenenses é o 3º clube que mais golos marcou).
O resultado mais frequente (por 10 vezes) é a vitória do Sporting por 1-0. De resto, por 21 vezes o Sporting venceu com 1 golo de diferença (é também a diferença de golos mais frequente). Como se pode ver, muito “renhidos” estes jogos...

Mas aqui ficam todos os resultados dos SCP-CFB para o Campeonato/Liga, por épocas:

03/04 - 4-2
02/03 - 2-0
01/02 - 2-0
00/01 - 2-1
99/00 – 1-0
97/98 – 1-0
96/97 – 3-1
95/96 – 3-1
94/95 – 2-1
93/94 – 3-1
92/93 – 3-0
90/91 – 1-0
89/90 – 1-0
88/89 – 0-0
87/88 – 1-1*****
86/97 – 4-2
85/86 – 0-0
84/85 – 2-0
81/82 – 2-2**
80/81 – 3-0
79/80 – 2-0
78/79 – 5-1
77/78 – 3-1
76/77 – 4-0
75/76 – 1-0****
74/75 – 1-0
73/74 – 4-1
72/73 – 1-0**
71/72 – 2-1
70/71 – 2-0
69/70 – 2-1
68/69 – 3-2
67/68 – 3-0
66/67 – 1-0
65/66 – 3-0
64/65 – 1-0
63/64 – 2-1
62/63 – 3-0
61/62 – 3-1
60/61 – 2-1
59/60 – 2-0
58/59 – 1-1*****
57/58 – 3-2
56/57 – 2-2*****
55/56 – 1-0*****
54/55 – 1-2***
53/54 – 4-0
52/53 – 1-1
51/52 – 1-1
50/51 – 6-2
49/50 – 0-1
48/49 – 5-1
47/48 – 4-4
46/47 – 3-0
45/46 – 1-1*
44/45 – 2-1
43/44 – 6-1
42/43 – 2-1
41/42 – 1-4
40/41 – 3-1
39/40 – 4-1
38/39 – 2-0
37/38 – 2-1
36/37 – 2-3***
35/36 – 4-1
34/35 – 1-3


* - O Belenenses foi campeão, ficando o SCP em 3º
** - O Belenenses foi 2º no campeonato, o SCP foi 5º
*** - O Belenenses foi 2º no campeonato, o SCP foi 3º
**** - O Belenenses foi 3º no campeonato, o SCP foi 5º


De reparar que a última vitória “azul” já tem... 50 anos. Aliás o Belenenses nunca conseguiu ganhar no antigo estádio de Alvalade. Urge repôr os níveis das décadas de 50, 40, 30... pode "sair" um 1-4 como em 41/42... Ou 0-4, para ficar um resultado mais “redondo”.

Em seguida avançamos no tempo, para analisar encontros mais recentes (mais “relacionáveis” com o de hoje).
O mais polémico – sim, também são polémicos - dos últimos Sporting-Belenenses foi decerto o da época de 2000/01, arbitrado por Paulo Paraty (ui!, dirão alguns). Esse jogo, que até poderemos dizer que o Sporting mereceu ganhar pelo melhor futebol, foi porém marcado por decisões duvidosas. No 1º golo do Sporting (por Delfim), havia razões para marcar fora-de-jogo. Depois Filgueira foi expulso por acumulação de amarelos sendo que o segundo foi causado por um hábil e evidente “mergulho” do adversário (E quem mergulhou? Quem? Quem? Isso mesmo!). O mesmo “mergulhador”, já livre do incómodo marcador, fez o 2-0 para o Sporting. Revoltante...
Para o final do jogo o Belenenses pressionou e conseguiu reduzir por intermédio do Marcão. Antes desse lance, já Wilson tinha ameaçado a baliza adversária com um excelente remate. Talvez por essa razão foi expulso depois do 2-1, de uma forma no mínimo estranha. Num lance junto à linha e junto ao banco do Sporting, Wilson dirigiu uma curtas palavras de desabafo (sim, asneiras) ao auxiliar, sem grande alarido, porém. O árbitro auxiliar, como não foi nem a primeira nem a última vez que ouvira tais coisas (sobretudo de jogadores dos “3 grandes” e até naquele jogo), esteve para deixar passar, se é que percebeu as palavras. Quem tratou da questão foi o Sr. Luís Duque, que já durante todo o jogo se tinha ocupado a pressionar a equipa de arbitragem e estava mais perto de Wilson. Desta vez dirigiu-se ao auxiliar e praticamente exigiu a expulsão do jogador. Como o Sr. Luís Duque não era do Belenenses, a equipa de arbitragem fez-lhe a vontade e ajudou a segurar o resultado. Desde então, cada vez que via (e vejo) outros jogadores a fazerem o mesmo e a passarem impunes (como o “mergulhador” – que até já socou um árbitro num Mundial - o Rui Jorge, o Pedro Barbosa, entre outros)... penso: isto só a nós.

Em 2001/02 o Belenenses chegou a Alvalade bastante moralizado. Na 1ª volta tinha humilhado o Sporting na estreia de Boloni, vencendo por 3-0! Desta vez porém o Sporting foi superior e o Belenenses perdeu só por culpa própria. César Peixoto, que até fez uma grande exibição, fez-se expulsar por acumulação de amarelos. Primeiro, um penalti desastradamente simulado. Depois, uma “gravata” ao “verdadeiro artista”. Justa e infantil expulsão, quiçá a boa exibição propiciou outros tiques de vedetismo...
Os dois golos, por sua vez, foram “pecados mortais” para a época: deixar o Jardel cabeçear sozinho por 2 vezes... (embora os empurrõezinhos ao Filgueira ajudassem).

Em 2002/03 e apesar da arbitragem estar a cargo de Bruno Paixão (Jesus!) o Belenenses perdeu novamente por 2-0 sem grandes argumentos. Neca fez uma excelente exibição, pouco tempo depois das suas internacionalizações pela Selecção (quando voltas a ser o mesmo?). Do outro lado deu-se o regresso do “artista”, depois da suspensão pelo soco ao árbitro na Coreia.
Apesar do valoroso empate nas Antas (2-2), o Belenenses esteve apagado em Alvalade (foi o último SCP-CFB no antigo estádio).

Por fim chegamos a 2003/04 (23/8/2003), quando pelo calendário calhou ao Belenenses “inaugurar” o novo estádio Alvalade XXI e aquela “magnífica" relva, a do fungo (que prejudicou o próprio jogo). De novo o padrinho Paraty (estranho), apesar de não ter tido tanta má-influência desta vez. De qualquer forma houve “mãozinha” prévia, pois Antchouet estava castigado por um jogo da época anterior... castigo esse que era para ser cumprido na 1ª jornada contra o Estrela. Mas como a incerteza quanto à subida do Estrela “arrastou-se”, esse jogo da 1ª jornada foi finalmente confirmado e marcado já só 3 dias depois da dita (por atraso da Liga!) e o castigo passou a ser válido para... Alvalade.
Desta vez foi Manuel José a estrear-se com um amargo de boca no banco do Belenenses. Um pouco ao estilo que quis implantar, o Belenenses tentou jogar de igual para igual e em técnica (ao contrário das cautelas – excessivas? - de Marinho Peres). O Belenenses perdeu, como tem perdido nos últimos anos, mas agora por uns “pesados” 4-2. Após o Sporting chegar ao 2-0 (o 1-0 foi de penalti, falta de Hélder Rosário sobre Toñito - creio que não houve nada a dizer) o Belenenses até conseguiu reagir, sobretudo após o GOLAÇO do Sousa. De fora da área e sobre a direita (ainda bem distante) Sousa desferiu um potente remate que colocou a bola no canto superior esquerdo da baliza sem hipóteses para o surpreso guarda-redes leonino. Logo Leonardo conseguiu o 2-2, “atordoando” os “leões”. Infelizmente o empate durou pouco tempo... um rapazinho que não sei se conheçem – Lourenço! – fez o 3-2 para o Sporting numa jogada em que talvez tenha havido fora-de-jogo (pelo menos fiquei com essa impressão). De qualquer forma o Belenenses “baixou” os braços e já em desorientação sofreu o golo de Toñito, fechando assim a noite.
Destaque neste jogo para a estreia do Gonçalo Brandão (16 anos!), lançado a 25 minutos do fim para render Rui Borges.

E hoje, como será? O Belenenses continua de certa forma moralizado, mas sobretudo confiante em si mesmo e no bom futebol. Bom futebol que tem conseguido mostrar a espaços, mas a veia “goleadora” é um dado novo nos últimos anos. De momento o Belenenses tem o melhor ataque do campeonato com 12 golos (média de 2 por jogo) e Antchouet está empatado com Liedson no topo da lista dos melhores marcadores (4 golos) - esperamos que “desempate” a seu favor!
Quanto ao Sporting, só recuperou alguma confiança ou segurança após a fácil vitória sobre o Estoril (equipa em baixo de forma, é certo, mas o Belenenses não conseguiu marcar na Amoreira). Esperemos que os lagartos ainda estejam em ramo... verde!

Quanto às equipas e em relação ao jogo do ano passado, o Belenenses já não vai contar com Filgueira (retirou-se do futebol), Carlos Fernandes, Hélder Rosário, Rui Borges, Verona, Mauro, Sané, Fábio Rosa, Waldiran e Leonardo! Por outro lado “sobreviveram” Marco Aurélio (titular indiscutível então e hoje, concerteza), Tuck (esteve no banco, onde poderá estar hoje?), Pedro Alves (continuará no banco, salvo imprevistos), Sousa (titular em 2003, ainda recupera da última lesão), Marco Paulo (será que mantém a titularidade?), Eliseu (esteve no banco em 2003, provavelmente de novo hoje), Pelé (então titularíssimo a trinco, hoje titularíssimo a central) e Gonçalo Brandão (como vimos, estreou-se em 2003, mas tudo indica que ficará no banco hoje... é pena). Neca e Wilson encontravam-se ainda a recuperar de lesão enquanto Antchouet, como vimos, estava castigado (deverá ser hoje titular).
Dos “novos”, poderão alinhar Rolando, Amaral, Cristiano (?), Andersson, Juninho (em dúvida por operação à vista, poderá ser Neca?), José Pedro, Rodolfo Lima (Lourenço - fica de fora por decisão do Sporting, mas é das tais coisas, só se sujeita quem quer...), com Brasília a “espreitar”. Pelo menos desta vez o Lourenço já não vai marcar na baliza “errada”!
Eis a lista completa dos convocados para hoje: Marco Aurélio, Pedro Alves, Rolando, Pelé, Amaral, Wilson, Cristiano, Andersson, Tuck, Neca, Marco Paulo, Juninho Petrolina, José Pedro, Ruben Amorim, Eliseu, Rodolfo Lima, Antchouet e Brasília.

E "Duques", haverá? Ou Dias da Cunha, profundo estudioso do sistema, já o saberá melhor dominar?
Quanto ao árbitro, será João Ferreira de Setúbal, internacional desde 2003. Apesar de pertencer à mesma Associação de Bruno Paixão ou Lucílio Baptista, parece-me que tem sido um árbitro relativamente discreto (pela positiva). Na época passada e em jogos do Belenenses "apitou" os seguintes jogos:

- Benfica 3 - Belenenses 1, para a Taça de Portugal: Apesar do 1º golo do Benfica parecer irregular (um fora de jogo posicional mas determinante), a péssima atitude (e exibição) do Belenenses é que foi um autêntico "tapete vermelho"... no caminho dos encarnados (que por sinal venceram a Taça).
- Paços de Ferreira 1 - Belenenses 1, 33ª e penúltima jornada da Superliga: O jogo foi marcado por uma expulsão algo exagerada de Sousa no início da 2ª parte, mais um cartão amarelo a Valdiran "invertido" (foi o jogador azul que sofreu falta)... mas novamente a atitude do Belenenses, frente a um já "condenado" Paços, determinou o resultado. Para quem ainda lutava pela permanência...
- Belenenses 4 - Estrela da Amadora 0, 1ª jornada da Superliga (a tal que foi "adiada"): A facilidade e o encanto do resultado sobressaíram acima de tudo, incluindo a actuação do árbitro.
Noutro plano, João Ferreira foi protagonista - como 4º árbitro - do célebre "caso" de suposto recurso a imagens televisivas (do "cameraman") para assinalar a agressão de um jogador do Guimarães a Simão Sabrosa, do Benfica (agressão que existiu de facto). Polémico... mas afinal e se calhar é um recurso justificável e que faz falta muitas vezes... Um árbitro à frente do seu tempo?
Por outro lado e analisando outros encontros, percebe-se um certo "rigor" disciplinar (não hesita em mostrar cartões vermelhos nas faltas mais duras). Portanto aos jogadores do Belenenses pede-se cuidado e cabeça fria! Não se podem repetir certas situações recentes...

Para acabar, poderemos ter uma certeza: neste “clássico” não se vão repetir os lamentáveis antecedentes e incidentes relacionados com os adeptos de há uma semana (no “outro clássico”). Que seja portanto uma lição de responsabilidade e civismo... e que as coloridas cadeiras estejam cobertas por bastante... azul! E que ganhe o Belenenses!



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