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Esta vida de pastel



Fazendo contas à vida, nos meus 32 anos o Belenenses teve cerca de 39 treinadores de futebol, cerca de 19 Presidentes da Direcção (contando com os elementos de Juntas), tendo passado pela nossa casa umas boas centenas de jogadores. Já conto 3 tipos de cartão de sócio e 2 números de sócio diferentes (salvo erro) e assisti às 3 descidas de divisão. Não conheci as Salésias, obviamente, mas cheguei a ir a um Restelo onde pontuava um marcador manual (e colorido) com o Totobola (assim se sabia como iam os outros), onde havia uma cabine no meio da bancada dos sócios (cujo telhado era “bancada” dos putos, como eu), onde haviam umas colunas no topo norte que só anos mais tarde percebi para que eram (para sustentarem uma cobertura adiada quase 50 anos), onde ecoavam músicas dos Abba e dos Status Quo (alternadas com um “Belarte, a publicidade que está em toda a parte”… ou o anúncio a um restaurante na Costa da Caparica que oferecia um almoço a quem marcasse um golo) e onde não havia vedação a separar os adeptos do campo. Por isso mesmo numa certa tarde vi a multidão invadir o campo em festa, pois tínhamos sido campeões da segunda. Num outro dia vi uns quantos aparecerem com uma tarja a dizer Fúria Azul (“olha, já temos uma claque!”, disse eu) com uns quantos consócios a se queixarem que com o fumo e as bandeiras não conseguiam ver o campo (nunca tal havia acontecido). Numa outra tarde ainda, vi um senhor, já entradote, entrar campo adentro acenando para as bancadas. Já tinha ouvido falar no nome dele imensas vezes, mas só quando o meu pai me apanhou a bandeira das mãos (nunca o tinha feito nem nunca mais o fez), desatou a agitá-la e disse “para este é que é”… só então que percebi verdadeiramente quem era o Matateu.


Jogar no Belenenses não era para qualquer um


E as vezes que ainda vi o estádio completamente cheio, com mais uns quantos “maduros” que, ficando de fora, se penduravam nas árvores do lado da bancada nascente, mais uns quantos encostados à vedação por cima do topo norte?

Enfim, nostalgia, recordação de pequenas alegrias, pequenas emoções que não se esquecem e coloriram o coração de um azul que não desbota. Mas… e as grandes alegrias? Quais os grandes momentos que, com a exigência e selectividade que são devidas, foram verdadeiramente especiais, daqueles fizeram explodir de alegria gente de Norte a Sul e Ilhas e no estrangeiro, daqueles que os “outros” ficaram a invejar? A reposta é… uma Taça de Portugal, em 1989. Lacónica, mas a única que consigo encontrar.

Bem sei que ainda são muitos os que, com mais uns anitos de sócio que eu, puderam presenciar outros, maiores e abundantes momentos de glória. Como os que viram, por exemplo, a magia de Matateu. Também sei perfeitamente que o Clube ultrapassa-me em mais de meio século de idade (como o País, este em mais de 800 anos - e não sou menos português por já termos visto melhores dias). Mas a minha vida de sócio, ironicamente iniciada quase em simultâneo com a 1ª descida de divisão, tem coincidido com um grande período de “seca”.

Valeu a pena? Claro, dirá qualquer um de nós, a alma anda apertada mas não é pequena. Sofre-se mas vive-se (e não, como se diz, que se vive para sofrer). E o amanhã é o depois de hoje e não o antes. E a esperança, se morrer, será só quando já nada sobrar (nem eu próprio). É a conversa do costume, de quem não gosta de como se está e quer melhores dias (embora haja quem não ache o mesmo). Mas se há tanta gente que acredita em tanta coisa impossível… porque não? E não é impossível. Mas atenção, não se abuse, porque não se ganha a lotaria sem comprar bilhete…



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