Voltar à Página Inicial

É preciso começar a dar a volta



Para quem já seja leitor deste blogue há algum tempo saberá (porque assim já o revelei) que tenho uma relação especial com o Nacional da Madeira. Por via familiar (materna) o Nacional é o mais próximo que tenho de ser meu “segundo” clube. Digo “próximo” porque no Belenenses costuma ficar bem dizer que se é do Belenenses, só do Belenenses e de mais nenhum. E é um bom costume, digo eu, mas compreendo em boa medida certas simpatias por outros clubes, sobretudo quando têm a mesma origem, isto é, quando resultam de naturais laços afectivos com a família (e a família é mais do que qualquer clube, direi eu –creio mesmo que seja virtude que assenta bem aos Belenenses).

Acontece que nalguns casos sucede que a “herança” familiar leva a dividir paixões entre o Belenenses e algum dos outros “três” grandes, coisa que à luz da origem e vivência do nosso Clube parece contra-natura, para mais quando esses “três” conseguem resultados desportivos superiores e não raras vezes (ou quase sempre) prejudicam o Belenenses de forma óbvia e repudiável. Mas mesmo estes casos contam com a minha compreensão, nem me passaria pela cabeça desqualificar o Belenensismo de quem se encontra naquelas circunstâncias. Atenção, falo de quem divide essas paixões porque assim ditou um afecto familiar. Não me refiro aos que, fartos de ver o Belenenses perder (ou de outra qualquer coisa), relegam o Belenenses para segundo plano, passando-se para os “outros” porque “ganham”. Como se a única diferença entre o Belenenses e os “outros” fossem os resultados. Não é, felizmente, e os que assim procedem bem fariam em se passar completamente para esses “outros”, porque pouca falta cá fazem. Muitos desses, inversamente, são só muito vagamente do Belenenses porque alguém na família o era.
Ainda assim note-se, se o Belenenses tivesse continuado a ser o que foi, um clube de sucessos, estas questões nem se colocavam. Mais puristas ou menos puristas, não interessaria tanto a composição de um Restelo cheio, a apoiar um Belenenses vencedor, acima ou ao nível dos “outros” (embora tudo isso fosse relevante – claro - quando se esvaziou).

O meu caso, porém, é outro. E se pensarmos numa realidade de há 10, 20 ou 30 anos atrás (que eu conto 32), ser-se do Belenenses e ter o Nacional como segundo clube nada teria de especial nem suscitaria quaisquer reparos. Até há não muito tempo os nacionalistas eram um grupo para quem a presença na 1ª divisão era por si só uma festa, quanto mais poder ombrear com qualquer clube que, como o nosso, tivesse rico historial no escalão maior. Aliás essa mesma circunstância, entre outras, levou-me a acarinhar o Nacional como sendo uma espécie de Belenenses da terra materna (como também a minha própria mãe passou a ser mais do Belenenses como se este fosse um Nacional em grande – para além do efeito de sofrimento solidário com o resto da família).
Pois é, ser-se destes dois clubes era sinónimo de grande sofrimento. Lembro que o Nacional foi quem ergueu o campo dos Barreiros, depois “discretamente” passado a património municipal. Lembro que até 1974 o acesso de equipas madeirenses a competições nacionais era pelas leis da FPF reservado apenas à Taça de Portugal, onde só poderia ir o “campeão das ilhas”. Que, na maior parte das vezes, acabou por ser o rival maior (que até se apropriou daquele adjectivo). Aliás, esse rival maior sempre me lembrou também os rivais do nosso Belenenses. São encarnados com riscas verdes (caramba, está bem que é por serem as cores da bandeira nacional, mas…), têm a simpatia do Presidente da R.A.M. e a esmagadora maioria das pessoas, quando se dá conta das minhas origens madeirenses, logo pergunta “então também és do Marítimo!” ou, de vez em quando, “como é que vai o teu Marítimo?”. Tais coisas, naturalmente, indigna-me tanto como quando nos perguntam (aos Belenenses) se somos do Benfica ou do Sporting.

Alimentada então esta simpatia com semelhanças entre clubes, chego aos dias de hoje e constanto o que na minha infância e juventude parecia impensável. Está o Nacional líder do campeonato e nós no fundo da tabela. Poderão pensar vocês que assim sendo poderia passar a “torcer” para que o Nacional assim se mantenha ou que andaria bastante contente com a coisa. Nada disso. É certo que a alegria dos que me são próximos (bem como a saudade de alguns que já não estão entre nós) não me passa ao lado. Mas a tristeza com o que se passa com o Belenenses é infinitamente maior. E isso inclui, obviamente, o facto de equipas como o Nacional sairem-se bem melhor que nós. Talvez se o Belenenses fosse campeão e o Nacional segundo dificilmente ficaria mais contente. Mas nem uma nem outra coisa deverão acontecer. E começando por hoje, espero que o Nacional perca os três pontos, sem quaisquer margem para dúvidas. Nem é o caso de “ganhem a todos menos ao Belenenses”, porque por estes dias só quero que o Belenenses ganhe.

O Nacional, discretamente, vai “acertando” em muito do que nós falhamos. Tem “arriscado” com treinadores algo “desconhecidos” mas que trabalham a sério e, mais importante, mostram resultados. Tem “arriscado” com contratações no mercado brasileiro (que continua a ser barato), não se preocupando se depois saem em levas, que logo chegam outras. Construiu um novo campo, modesto mas aconchegado; longe do centro mas que lhe reforça a identidade e onde chegam na mesma (ou cada vez mais) as procissões de indefectíveis (em vez de irem de carro para os Barreiros, vão para a Choupana - assustadoramente vem-me à recordação o nosso ordálio com uma pedreira porque não quisémos ir para o longínquo Monsanto. Os tempos – e transportes – eram outros, está bem). Tem um presidente que a mim não parece ser propriamente exemplar (mais os seus métodos e o sempre presente apoio do Governo da RAM) mas que com menos lanchinhos/almoçaradas e perante a perspectiva de se ir embora o Major teve melhores hipóteses e probabilidade de ser o sucessor na Liga. Ou seja, parece que sabe mexer-se muito bem onde é preciso. E à pressão do “rival” Marítimo têm respondido com melhores classificações, sem pudores ou baixas “psicológicas”.
Em suma, temos muito a aprender.

Mas de novo, hoje, espero que o Belenenses seja “à Belenenses” e ganhe, dê por onde der. Ainda ficará a faltar muito para que possamos aspirar a uma classificação condigna e minimamente satisfatória; faltam reaver ainda muitos pontos para compensar os que foram estupidamente perdidos; faltará ainda muito mais para repôr o Belenenses no lugar e estatuto que já teve e legitimamente ambicionamos. Assim sendo não vão ser os 3 pontos de hoje que vão dar um impulso significativo para tudo isto. Mas são 3 pontos que não se podem perder, de forma alguma!
Quando Manuel Machado aqui veio na época passada com um “super” Guimarães, saiu em branco. Desta vez fazemos o mesmo e que o dito (que aprecio como treinador, contudo) vá afogar mágoas para a cervejeira da marina.



Enviar link por e-mail

Imprimir artigo

Voltar à Página Inicial


Weblog Commenting and 
Trackback by HaloScan.com eXTReMe Tracker