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Belém! Belém! Belém!



Hoje seria dia de antevisão sobre o jogo com o Gil Vicente. No entanto confesso que me faltam as palavras para tal. Perante tudo o que tenho lido e ouvido (e enfim, observado) sobre o nosso Belenenses, já nem sei como reagir. Mas pior que isso ainda é observar o estado em que se encontra a nossa massa adepta… a fiel, pelo menos. Há quem desista de sócio, quem jure não voltar tão cedo ao Restelo. Não concordo, não apoio, mas compreendo – como compreendo! Constato que o desencanto, até agora reservado aos milhares que – como se não fossem tantos! – se têm afastado ao longo destas décadas, alastra por fim e também entre os indefectíveis, entres essas poucas dezenas de renitentes teimosos. Indefectíveis, não só os que contra tudo (até a lógica) confiam e mantêm um optimismo quase inabalável (e injustificável?), mas também aqueles que, tantas vezes rotulados de pessimistas, nunca mostraram menos apego… só porque entendem que ser crítico, ser uma constante voz de alarme, é o melhor serviço que podem prestar quando os piores receios tomam corpo, ano após ano… e a inércia fossiliza o Clube! Uns e outros dispendem horas e horas dos seus dias (aí a “net” só veio agudizar a “doença”) a sentir, a acompanhar o seu Belenenses, como se de uma necessidade vital se tratasse. Respiram e transpiram azul.

Hoje não quero saber o que disse ou não disse o técnico, o que disse ou não disse a SAD/Clube, nem sobre quais os reforços que vêm ou não vêm, nem de onde, nem de como havemos de jogar nem com quem, nem de quem foi o último e pérfido ex-jogador que escarrou em nós e no nosso emblema. Hoje é dia de me entregar à “doença”. Não sei se poderei estar presente hoje no Restelo, por motivos extra-Belenenses, mas muito gostaria de poder não falhar. É muito forte.

No outro dia, quando já nem esperava que ainda fosse possível (nestes dias que são como são), tive uma “recaída” como já não sentia há muito. Estava prestes a iniciar-se o Belenenses-Nacional. Eu e todos os Belenenses desesperados por uma vitória. Tão desesperados que muitos, como eu, decidiram que era sofrimento a mais, que mais valia ficar em casa e evitar sequer ver o jogo. Chegado o momento, acenei a rendição... e acendi a televisão. Entraram as equipas. Foi então que, de repente, já nem sei que azul era o das camisolas (se o "desbotado "ou não), mas vi que estava ali a MINHA equipa. O azul das bancadas, ainda que com pena se descobrisse - por estarem vazias as cadeiras, também era o MEU, do MEU Estádio. Deixei de pensar se poderíamos ou não ganhar o jogo, deixei de pensar se jogaria este ou aquele (e se por amor à camisola ou não), deixei de pensar se o técnico seria capaz ou não, se seria bom ou mau. Deixei de pensar. De todo. Aí a minha mulher viu qualquer brilho nos meus olhos e disse-me: “mas tu queres ir lá, não queres?”. Como uma criança a quem acabavam de prometer uma colorida guloseima, decidi-me e parti para o Restelo, já a bola rolava no ecrã. Não era um qualquer brilho nos olhos. Eu estava prestes a chorar. Não me abandones, querido Belenenses, eu não te abandono!
Horas depois só queria gozar o momento e sentir-me feliz (ainda que com tão pouco, dirão): Ganhámos! Ganhámos! Naquela noite, por uma rara de tão raras vezes, senti-me compensado. Senti-me inteiro.

É assim que por estes dias sinto o Belenenses. Mais triste - tão triste! - mas com mais força. É quase um “amar-te-ei até morreres” ou… “amar-te-ei até me matares”. Não é que tenha a minha vida refém desta “doença” – que absurdo, para além de inapropriado face às verdadeiras e mais importantes coisas da vida (família e saúde) - mas ela entranhou-se... e não tem cura. Não posso ouvir o nome do meu Clube, seja onde e a que propósito fôr, sem que o meu coração arrepie o palpitar. Não consigo ver e ouvir algo de Belém, do Azul, da Cruz de Cristo, sem que veja ou ouça algo que é MEU, sem sentir que sou eu próprio que me encontro. Senão vejam, ainda por estes dias: vi um(a) consócio(a) que agitava a nossa bandeira à partida do “rally” Dakar (“olha, o Belém!”)… ouvi o toureiro Chibanga, no outro dia, num concurso da TV (que mal vejo) a falar no Matateu, no Vicente (“espera, terei ouvido esses nomes?!?”), seus antigos vizinhos e companheiros em Moçambique… uma criança desconhecida que na rua envergava a nossa camisola, excepção entre encarnados e verdes que o rodeavam - trocistas, o nosso com todo o altivo orgulho de quem é diferente e autêntico… um estandarte no retrovisor de um carro ou um autocolante numa janela a centenas de quilómetros do Restelo… o azul de um céu limpo, ou de novo o mesmo azul espelhado num mar sereno… tudo, tudo isto dá-me alegria imensa, são dias que de cinzentos se fazem solarengos, tudo isto mostra-me que esta “raça Belenense” resiste e resistirá, mesmo esquecida, mesmo desprezada, ingénua e irracionalmente optimista ou cínica e irremediavelmente pessimista, seja como fôr.

Mesmo que calem os ecos da história… mesmo que não queira invocar - com amarga nostalgia - as diáfanas memórias de grandes vitórias passadas… mesmo que não haja mais daquela velha cêpa de laureados campeões - que com indómita exuberância e galhardia desafiavam tudo e todos… mesmo que se rasguem as páginas onde em grandes e áureas letras gravámos imensas e perenes glórias… mesmo que queira fechar os olhos ao estádio, que é e será o mais lindo do Mundo… tal como veja que quem enverga a nossa camisola pouco ou nada de tudo isso honra… até nem importa. Ou melhor, hoje não quero que importe.
Já só quero fazer esvoaçar a nossa bandeira, se não fôr como símbolo de vitória, seja como símbolo de tenaz e singular resistência. Seja contra quem fôr ou contra ninguém que seja, mas sempre pelo MEU Clube. Como eu gosto do Belenenses!

Belém! Belém! Belém!

Nem que um dia nos reste apenas aquele banco de jardim, resistiremos!




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