Voltar à Página Inicial

Uma entrevista de Gonçalo Brandão



Notas Prévias:

Lá temos de agradecer aos fugitivos não termos o defesa centarl que muita falta está a fazer ao José Carlos Pereira.

Ainda por cima foi formado por nós e os fulanos que se dizem ter apostado na formação encarregram-se de despachar a formação: Gonçalo Brandão e Eliseu.

Ambos intrenacionais A da Selecção, se bem que aquilo com Queiroz esteja a saque.

Aos 22 anos, o defesa do Siena conta ao Destak como foi na estreia pela Selecção e revela que decidiu ir para Itália muito por culpa dos dois anos no Belenenses com o técnico do Benfica.


João Tomé jtome@destak.pt

Ser chamado à selecção nacional equivale à cereja no topo do bolo de ser profissional de futebol?

Sim, posso dizer que sim. Embora seja um termo forte, porque ainda tenho 22 anos e espero alcançar mais coisas. Mas em termos de época foi a cereja no topo do bolo, porque consegui chegar à Serie A e impor-me na equipa [Siena] e a chamada à Selecção Nacional foi mais do que estava a espera este ano. Fui o último a saber da chamada à selecção, porque estava no treino. O meu empresário e família já sabia e acabei por ser informado por um jornalista que me ligou.

Existem praxes dos jogadores mais velhos? Quem é o mais divertido e o mais tímido?

Por acaso nos sub-21 fazemos praxes aos novatos, mas na Selecção principal não houve disso. Conhecia cinco ou seis jogadores das selecções mais jovens e outros de jogar contra. O Rolando, que jogou comigo no Belenenses, o Nani e o João Mourinho acolheram-me logo. Depois tinha o Cristiano [Ronaldo], o Eduardo, pessoas com quem já convivia há muitos anos como adversários. E acolheram-me muito bem, desde o mais internacional ao menos internacional. Como dizemos no seio da selecção, desde os sub-16 introduz-se o termo de família, porque nos damos todos bem e estamos a representar o país.

Sentiu muita diferença entre as selecções jovens e a principal?

(suspira) Senti, senti. É um orgulho enorme e é o objectivo para qualquer jogador. Ao sonhar ganhar título e representar os melhores clubes, sonhava também chegar ali. Há muita pressão também. A jogar nos sub-21 e nas outras categorias mais jovens sempre tive mais moral, tinha peso no balneário e titularidade. A chegada à selecção A foi diferente e tem mais valor. Até se viu nos telefonemas e mensagens, com muitos a brincarem sobre se ia aguentar a pressão de jogar na selecção A, até nos treinos… com jogadores como o Cristiano ou o Deco.

Quem destacaria como os mais divertidos na selecção e mais tímidos ou estrelas?

Divertidos eram todos, mas o Raul Meireles era o principal, punha o balneário todo a rir. Depois o Nani também é dos mais extrovertidos, dentro e fora do campo. Surpresa pela positiva foi o Simão Sabrosa. Falei muito com ele. Algumas pessoas têm ideia de que ele é um bocado convencido, mas não achei nada disso. Há uns mais reservados do que outros, mas o ambiente é bom.

Com foram os primeiros momentos com Carlos Queirós?

Ele deu-nos os parabéns, a mim e ao Eliseu, para continuarmos assim porque ele estava atento. Tinha visto todos os jogos e achou que era a devida altura para nos chamar.

Os jornais têm influência no estado de espírito dos jogadores na selecção?

No futebol profissional aprendemos que depois dos jogos não se deve ler os jornais, porque há sempre opiniões diferentes. Neste momento na selecção massacram mais o Cristiano e acho que não é justo, não só pelo o que ele fez pelo Manchester mas pelo que ele já fez pela selecção. Penso que omassacraram demais, mas já são jogadores que estão habituados à pressão. Não influencia muito, tirando colocar um pouco mais de pressão.

Qual a evolução que teve no Belenenses até chegar a profissional?

Tive a sorte de começar no Belenenses, que é um clube onde a formação é muito boa. Embora só agora se conheçam mais jogadores lá formados (Ruben Amorim, Rolando, eu, Eliseu). Do onze titular dos juniores tínhamos nove nas selecções nacionais. Naquela passagem de juniores para seniores, aí penso que o Belenenses pode fazer melhor. A minha evolução foi boa. Estreei-me com 16 anos, com o mister Manuel José, em Alvalade. Passados dois jogos, o Filgueira ou o Wilson teve uma lesão e estreei-me como titular contra o Porto e embora tivéssemos perdido consegui fazer o golo na minha estreia.

A partir daí foi uma ascensão grande. Depois também por culpa minha estive mal fisicamente e estive pouco tempo em forma e como não estava a jogar optei por ser emprestado ao Charlton, até porque falava-se muito nos jornais que me tinha estreado muito cedo e depois não tinha explodido. Decidi ir para fora.

Como foi a experiência em Inglaterra? O futebol inglês revelou-se totalmente diferente?

Sim, totalmente diferente. Foi um choque em termos de futebol, por ser muito rápido e muito físico, mas foi bom para mim. Eles lá têm os reservas, que é já um nível profissional. Nas reservas fiz os 40 jogos que poderia ter feito e na equipa principal consegui fazer seis jogos na Premier League e Taça de Inglaterra, tinha 17 anos. Foi um ano muito bom que me permitiu voltar ao Belenenses com mais maturidade e mais forte. Joguei na época seguinte, depois veio o mister Jorge Jesus e tive azar, com uma lesão.

A partir daí veio um jogador que agarrou muito bem a oportunidade. Acabei estar quase sempre no banco ou a entrar como suplente. Ao fim do primeiro ano com o mister Jesus havia a hipótese de ser emprestado, mas ele apostava em mim e eu achei que iria ser importante para mim em termos de aprendizagem. Passei 16 anos no Belenenses, cresci lá como homem e tive pena da maneira como saí. Mas vai ser sempre o meu clube.

A passagem para o Siena como surgiu?

Foi o Verão passado, estava para renovar com o Belenenses. Era uma fase difícil, porque vinha de um ano sem jogar. Mesmo assim tive a sorte do mister Rui Caçador apostar em mim nos sub-21, já me conhecia há muitos anos e foi titular no Campeonato da Europa. Graças a esses jogos o Siena e o Málaga observaram-me e entraram em contacto com o Belenenses.

Sempre dei prioridade ao Belenenses, mas a direcção pareceu-me que estava mais preocupado com as finanças do que com o plantel e achou que o que eu estava a pedir era demasiado e eu decidi mudar de ares e ir para Itália.

Porquê ir para Itália e não Espanha?

Foi difícil, porque ambos os campeonatos são dos melhores do mundo. Mas eu tenho um fascínio pelo estilo de defesa italiano muito se calhar também pelos dois anos que passei com o Jorge Jesus. Sendo defesa central achei que poderia evoluir mais lá, embora seja um futebol diferente e muito físico. Arrisquei e até agora deu certo.

Como conseguiu chegar à titularidade no Siena?

A linguagem foi uma barreira no primeiro mês. Tinha de fazer força para entender, porque só assim poderia arranjar lugar na equipa. Como é um futebol muito táctico, a linguagem é muito importante. Fiz uma boa pré-época, já lá estavam jogadores mais experientes, não era titular.

Depois na 7ª jornada houve um jogo da Taça de Itália que me correu muito bem, mas tive o azar de me lesionar. Tive três meses parado. Foi o período mais difícil, porque não é fácil ver a oportunidade fugir. Depois acabei por beneficiar de um colega, que fez uma rotura de ligamentos. O mister colocou-me no jogo antes do Inter, e depois fui titular e a partir daí agarrei a oportunidade.

Houve contacto com os outros portugueses em Itália?

Sim, tive oportunidade de falar com o Quaresma, que já conhecia das selecções mais jovens. O Figo não conhecia, mas as palavras durante o jogo existem sempre e depois do jogo deu-me os parabéns e desejou-me boa sorte. Com o José Mourinho contactei ao intervalo, no túnel. Quando me estreei no Belenenses, foi contra ele, no Charlton estreei-me contra o Chelsea (era ele o treinador) e agora no Inter a mesma coisa. Brincou comigo e disse se não fosse ele eu não me estreava em campeonatos.

Depois no fim do jogo falámos, mas só para desejar para boa sorte. Ele fala com todos os jogadores, mesmo os outros italianos. Ele conhece bem todos os jogadores, até porque tem um observador perito nisso, o André Villas Boas. Nunca tive uma palestra com ele, mas pelos livros que já li vai mesmo ao pormenor.

A titularidade mudou a relação com os outros colegas de equipa?

Nem por isso, mudou mais com os adversários. Senti-me mais respeitado. Lembro-me de um jogo na primeira volta que entrei uns minutos contra a Fiorentina e o Gilardino fez-me uma entrada por trás e nem sequer desculpa pediu. Na segunda volta como já estava a jogar e era internacional A, quando me deu uma cotovelada veio-me pedir desculpa e no final teve uma palavra. Sente-se essa diferença.

Enfrentou alguns dos melhores avançados do mundo. Há algum mais difícil de marcar?

O Ibrahimovic é aquele jogador talentoso. Mas o mais difícil foi o Amauri da Juventus. É um jogador muito forte e muito técnico e que não pára. Chateia a defesa. Está sempre a fazer diagonais e a movimentar-se. O Ibrahimovic é aquele jogador mais fino. Quando tem a bola nos pés é dos melhores do mundo, mas espera pelo momento certo. Não está sempre à procura. O Amauri batalha constantemente e vem buscar jogo atrás.

A nível táctico aprendeu muito em Itália?

Alguma coisa, porque já tinha uma boa base com o Jorge Jesus. Mas o que se nota mais é o respeito das equipas grandes pelas equipas mais pequenas a nível táctico. Em Espanha os grandes clubes quando jogam com os mais pequenos arriscam mais. Em Itália espera-se mais pelo erro do adversário.

Fala-se que o futebol italiano está a atravessar uma crise em resultados na Europa. Porque isso acontece?

Tem muito a ver com a evolução que está a acontecer no futebol. Antes os italianos eram os mestres da táctica, que lhe valeu muitos troféus seguindo o jogo de esperar pelo erro do adversário. Agora já não é assim. As grandes equipas de outros campeonatos já viram qual o problema deles e incidem muito na táctica nestes jogos europeus e defendem mais e atacam menos. No parâmetro táctico já se estão a equivaler e depois ganham no ritmo de jogo, que em Itália é muito baixo.

Pretende continuar em Itália? Ir para um Inter?

Gostava, claro. E nota-se que em Itália os grandes clubes não olham para o nome dos clubes quando lhe interessa um jogador. Li recentemente que Inter agora está interessado num central do Lecce, que desceu de divisão. Por isso tenho esperança que esteja a ser observado. Quero manter-me mais uns anos em Itália, porque é um futebol bom para um central. E quando um jogador sai de uma liga italiana sendo defesa cria sempre um bom currículo. Tenho o sonho de experimentar o campeonato espanhol, mas ainda sou novo, vou ter tempo.

---

JORGE JESUS (treinou Gonçalo Brandão duas épocas no Belenenses)

O que pensa de Jorge Jesus?
Não apanhei todos os treinadores portugueses, mas para mim Jorge Jesus é dos melhores treinadores portugueses, juntamente com o Jesualdo Ferreira. Arrisquei ficar mais um ano no Belenenses apesar de não estar a jogar (sabia que ele para aquela posição queria jogadores mais experientes), mas parece que ganhei dois ou três anos. A aprendizagem que tive com ele foi muito boa, isto quando tinha 20 anos. O mister Jesus é um treinador muito exigente que opta por sistemas defensivos italianos, por isso a aprendizagem valeu-me de muito em Itália. Ele estagiou lá muitos anos. O único entrave em Itália foi a língua, porque eles fazem igual ao que o mister Jesus fazia.

O Benfica fez uma boa opção?

Eu acho que sim. É uma pessoa não só forte dentro do campo, como fora dele. É determinado e sabe muito bem o que quer fazer e penso que é isso que o Benfica precisava. Não conheço o balneário do Benfica por dentro, mas acho que a contratação de Jesus é acertada e se calhar peca um pouco por tardia.

Como definiria o sistema defensivo de Jorge Jesus?

É um sistema a nível táctico muito rigoroso. Não há ligação com os pontas de lança. Em Portugal vê-se muito os centrais agarrados aos ponta de lança, os laterais de um lado, tudo descoordenado. Ali não, é tudo muito metódico. Lembro-me que às vezes ele “passava-se” por falharmos uns centímetros na táctica, mas depois íamos a ver no final da época que uns centímetros para o lado esquerdo ou lado direito faziam a diferença, porque a bola já não entrava. Em Itália passa-se o mesmo. Temos treinos de 1h30 ou 2h em que nós, defesas, não saímos do campo até aprendermos bem a táctica. Às vezes nem tocamos na bola, é só aspectos tácticos. Reforça muito a aprendizagem.

E como é Jorge Jesus no relacionamento com os jogadores?

É um treinador muito exigente. Quem for trabalhar com ele agora, se calhar ao principio vai ficar surpreendido pela maneira como ele fala e é exigente (nós não estávamos habituados). Para ele falhar um metro é o fim do mundo. Mas a meio da época já pensávamos e queríamos que ele não fosse embora. Todos sabem que fomos à UEFA com ele e quase eliminávamos o Bayern de Munique. Muito devido à maneira como ele estuda as equipas. É uma excelente aposta do Benfica.

Hoje todas as equipas usam muito o vídeo e estudam muito os adversários. Mas ele vai ao pormenor. Por exemplo, ao falar de um avançado ele não diz só que é forte fisicamente, explica a percentagem de jogadas habituais, pé mais utilizado, etc. O pormenor faz a diferença, recordo-me de vários exemplos em que esse conhecimento foi fulcral.

Etiquetas: ,




Enviar link por e-mail

Imprimir artigo

Voltar à Página Inicial


Weblog Commenting and 
Trackback by HaloScan.com eXTReMe Tracker