Voltar à Página Inicial

Cavalos, um poste telegráfico, urbanização “social”, uma pedreira e…




Escolhi um estranho título para estreia neste blogue, mas os mais atentos à história do Clube de Futebol “Os Belenenses” rapidamente terão adivinhado do que se trata.
Vou aqui muito sucinta e rapidamente relatar uma autêntica “perseguição” do Século XX. Ou será “maldição”, no fim deste artigo melhor se poderá ajuizar.
Num ano em que o nosso País consagrou ao futebol uma dezena de opulentos e sofisticados estádios - cuja construção foi generosamente comparticipada por entidades públicas - mais irónica é esta incursão pelos tempos passados.
Senão vejamos:
- Por volta de 1907/1908 o belenense Sport Lisboa teve de abandonar Belém devido à utilização das “Terras do Desembargador” por um regimento de Cavalaria;
- Pouco tempo após a sua fundação, o Clube de Futebol “Os Belenenses” teve de recorrer a campos emprestados para poder competir em provas oficiais, uma vez que o campo inicial não era regulamentar. Era o chamado Campo do “Pau do Fio”, por se encontrar junto a este (ao pé da linha de meio campo!) um poste telegráfico. Este “pormenor” era uma das irregularidades, pelo que este campo ficaria reservado para treinos e jogos não oficiais;
- O Belenenses teve de recorrer a campos emprestados durante alguns anos, até que a AFL proibiu os empréstimos: cada clube deveria ter campo próprio. A solução foi um campo no cimo da Rua das Casas do Trabalho (actual Rua Alexandre de Sá Pinto), dentro do antigo espaço da cerca do Convento das Salésias - já na altura ocupado pelo Asilo Nun’Álvares – do qual se retirou assim o nome: Salésias.
- Em 1947 a Câmara Municipal de Lisboa informou o Belenenses que iria expropriar as Salésias (já Estádio José Manuel Soares) para proceder à urbanização da zona. Curiosamente o Belenenses havia sido campeão nacional da 1ª Divisão no ano anterior. Curiosamente também era um dos estádios mais modernos do país: foi o primeiro relvado e foi o primeiro a dispôr de uma bancada coberta, bem como uma óptima pista de atletismo;
- A decisão definitiva de expulsar o Belenenses das Salésias veio alguns anos depois. A única contrapartida conseguida, porém, foi uma pedreira. O Belenenses deveria construir aí o seu estádio pela “força da dinamite”. Foi assim que em 1952 se iniciou a construção do Estádio do Restelo;
- O Estádio do Restelo foi inaugurado em 23 de Setembro de 1956 (37º aniversário do Clube), após muitos esforços do Clube e dos seus associados. Os custos do novo Estádio iriam porém revelar-se demasiado pesados no futuro. No lugar das Salésias, entretanto, nada seria feito - até hoje!!!!!;
- Para se ressarcir das pesadas dívidas, a Câmara Municipal procurou em 1961 a expropriação do Estádio, chegando a pôr o espólio do Museu do Clube na rua, em caixotes. Vergados pelo peso das dívidas e perante a inflexibilidade da Câmara (não aplicável a outros clubes), o Belenenses foi obrigado a ceder o Estádio. Uma vez mais, o Clube de Belém ficava sem campo próprio;
- Só em 1969 é que o Estádio do Restelo voltou para as mãos do Belenenses, embora por prazo finito (25 anos). Após sucessivas negociações e dilatações de prazos, o Belenenses conseguiu finalmente em 1991 a posse definitiva do seu estádio;
Mas não ficámos por aí. Alguns anos mais tarde (em 1999, salvo erro) foi decidida em Assembleia Geral do Belenenses a aprovação de um novo projecto que implicaria a demolição do Estádio e a construção de um novo. Ainda hoje subsistem dúvidas sobre a legitimidade desta via. Creio que só daqui a alguns anos se poderá ajuizar o que seria melhor para o Belenenses. O facto é que a Câmara Municipal de Lisboa não autorizou a demolição do Restelo por ser… património arquitectónico da zona.
Em 2003/2004, aproveitando a “embalagem” do Euro, o Belenenses conseguiu levar a cabo importantes obras de modernização e manutenção do Estádio, dotando-o de novas torres de iluminação, novos balneários, novas cadeiras, uma nova pista de atletismo e… a cobertura do Topo Norte, algo já previsto desde o projecto inicial dos anos 50! Para o efeito contou de facto com uma preciosa ajuda da Câmara Municipal de Lisboa (conformado o Clube com a recusa desta em aceitar um novo estádio), embora a chegada ao “comboio”… já tenha sido tardia, direi eu. Os muitos anos de dificuldades deixaram o Belenenses numa situação de cada vez maior subalternidade face as outros grandes clubes da Lisboa, e para tal as questões dos campos/ estádios foram simultaneamente causas e efeitos. Como causas, muitas vezes despoletadas pela inveja de outros; Como efeitos, resultantes do relativo fracasso do Belenenses em reagir e defender a sua posição, ainda que grandes homens como Acácio Rosa ou Homero Serpa tenham evitado o pior por várias vezes. A eles nunca pediríamos mais.
Qual o desafio para o futuro? Para já e tal como paira nas conversas “azuis” (mas não só) a questão é saber… como encher o Estádio? Questão melindrosa… que ficará para outra altura!
Mas para além disso, o que falta ao nosso Estádio?
Sobre algumas destas questões poderão consultar a minha página pessoal sobre o Clube - ver links à direita



Enviar link por e-mail

Imprimir artigo

Voltar à Página Inicial


Weblog Commenting and 
Trackback by HaloScan.com eXTReMe Tracker