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À Beira do Azul... e dos azuis



Quando comecei a publicar neste blogue artigos de antevisão aos jogos da Superliga, a intenção inicial seria a de abordar os jogos mais “importantes” (com os “grandes”?). Para o Belenenses-Boavista porém, abri uma excepção, pois a “importância” já era de uma natureza diversa. Passado esse jogo (infelizmente mais um de má memória) solicitaram-me que continuasse, desta feita para a deslocação a Aveiro. Afigura-se assim uma série de artigos para todos (ou quase todos) os jogos, um pouco à semelhança do que se faz noutros blogues ou no site oficial. Como em tudo o resto não vamos “concorrer”, vamos tentar dar outra perspectiva (embora haja coincidências), nalguns caso bem resumida!

Mas com o aveirense Beira-Mar, curiosamente, não faltam afinidades. Senão vejamos alguns excertos da quasi-biografia do fundador do Belenenses que compilei para a minha página pessoal e o site oficial, acrescentados com uma citação directa da “História do Belenenses (1919-1960)” de Acácio Rosa:

“[Sobre uma digressão ao Brasil em 1913 de uma Selecção da AFL onde se incluía Artur José Pereira, fundador do Belenenses em 1919] A acompanhar esta digressão em missão oficiosa seguiu também uma grande figura dos primórdios do desporto em Portugal: Mário Duarte (pai), autêntico sportsman aveirense, ex-praticante de muitas modalidades. Segundo se viria a saber, ali travou conhecimento com Artur José Pereira, de quem ficou amigo e grande admirador. Desde então dizia sempre que Artur era o melhor e seria bom em qualquer equipa do mundo, como relataria o seu filho (também Mário Duarte) anos mais tarde.
(…) Em 1918 Artur conheceu Mário Duarte (filho), que aceitou o repto de um outro jogador para ir treinar ao Sporting. Contou mais tarde Mário Duarte que, como guarda-redes, nunca tivera oposição tão feroz, tal era a potência dos remates, sobretudo de Artur José Pereira, o “baluarte”. Este só dizia “Oh calmeirão [Mário Duarte tinha uma estatura bem cima da média], não ponha as mãos à frente, encaixe, encaixe!”.
Mário Duarte saíu do treino de mãos escaldadas e deveras impressionado. Já nos balneários foi interpelado por Artur José Pereira: “Você é alguma coisa ao Sr. Mario Duarte que foi conosco [Selecção da AFL] ao Brasil em 1913?”. “Sou o filho mais velho”, respondeu Mário Duarte. “Venha de lá um abraço!”, disse logo Artur, satisfeito com o encontro. Segundo Mário Duarte, foi a partir de aí que ficaram amigos.
(…)
Chegados a Dezembro de 1919, a equipa principal [do Belenenses] já estava formada.
Artur José Pereira tinha conseguido convencer o guarda-redes aveirense – e “calmeirão” - Mário Duarte a alinhar na aventura, não só por ser seu amigo (e do seu pai), mas também porque este último e por acaso até residia nessa altura em Belém (estava em Lisboa a tirar o seu curso). Importa referir que Mário Duarte havia rejeitado no ano anterior continuar como futebolista no Sporting, por não gostar do ambiente dos jogos!
(…)
[do livro de Acácio Rosa]“A 1ª visita a Aveiro. No regresso [de uma digressão ao Porto], o Belenenses visita Aveiro pela primeira vez, ganhando ao Galitos [antigo clube de Mário Duarte] por 7 a 1.
Foi este desafio - 1 de ,Novembro de 1921- que fez renascer o gosto pelo futebol em Aveiro. Os Belenenses, talvez por incluirem na sua equipa Mário Duarte - hoje nosso cônsul geral no Rio de Janeiro, filho da região, foram recebidos com exuberante manifestação de simpatia. Desta viagem nasceu a afeição da boa gente aveirense pelo Clube e que ainda perdura nos tempos de hoje e da excelente jornada de propaganda
resultou a nomeação de Sócios Honorários Mário Duarte (Pai) e sua esposa Baronesa de Recosta, a primeira senhora que mereceu essa distinção. [aliás foram os primeiros sócios honorários!]”

(…) em Abril de 1922 Mário Duarte conseguiu a sua participação [do já retirado Artur José Pereira] num jogo entre equipas de Aveiro, em que Artur José Pereira seria “reforço” de uma delas. Como conta Mário Duarte esta circunstância teve grande divulgação, havendo cartazes na cidade que anunciavam o jogo, referindo-se a Artur José Pereira como valendo por “meio team”!”

Mário Duarte (filho), que se havia iniciado no também aveirense Clube dos Galitos, tornou-se assim num dos primeiros ídolos do Belenenses e grande responsável pela fortíssima presença de “azuis” em Aveiro, até aos nossos dias!
E como todos sabemos, o “Mário Duarte” de Aveiro – o estádio! - tomou precisamente o nome do pai do nosso guarda-redes… o nome do nosso primeiro sócio honorário!
Mário Duarte (filho) viria a tornar-se num notável embaixador de Portugal, prosseguindo a carreira diplomática durante cerca de 30 anos, após os quais voltou a Lisboa, onde viria a falecer em 24 de Maio de 1982. Em 1969 (já em Lisboa), no âmbito das comemorações das Bodas de Ouro do Belenenses, Mário Duarte “presenteou” o Clube numa das conferências então realizadas com uma esplêndida e inesquecível história dos primeiros tempos do Clube, contada na 1ª pessoa. Recomendo vivamente a sua leitura (“História do Belenenses (1960-1984 ou 1919-1991)” ou o original, “Bodas de Ouro do CFB”, ambos de Acácio Rosa).
Entre outras histórias relacionadas com Mário Duarte, há algumas curiosidades:
- no Belenenses chegou a ser conhecido como o “menino Jesus” ou “menino”, pois nasceu em 25 de Dezembro (de 1900)!
- durante o desempenho do seu cargo diplomático no México tornou-se um grande amigo de Ernst Hemingway!
- no decurso de uma agitada Assembleia Geral do Belenenses (salvo erro em Março de 1923) em que se ponderava a desistência do Campeonato, Mário Duarte foi presença activa e determinante, conforme podemos verificar em relato da imprensa de então. Do arrebatador depoimento constam as palavras com que poderia terminar este artigo:
“Em sport, meus senhores a «chance» é, muitas vezes, um factor que faz mais forte os fortes, e mais fracos os fracos. (…) Honrae o sport, porque aquele que o pratica honrosamente ganha mesmo quando perde”

Um dos meus projectos em curso é precisamente a biografia deste grande homem e grande Belenense. Por agora quis partilhar estes “pedaços” de história comum, extensíveis aos auri-negros com uma saudação especial. Em seguida saltamos para o presente…

Infelizmente os dias de hoje, do “profissionalismo”, são outros. E hoje encontrar-se-ão duas equipas instáveis e muito (muuuuito) sedentas de pontos. O Beira-Mar teve um início de época desastroso, com um técnico que pelos vistos não deixou saudades (e eu por acaso já sabia que não tinha deixado saudades na Gra-Bretanha), e agora conta com Manuel Cajuda no comando (é curioso, o Belenenses estreou-se nesta edição da Liga precisamente a derrotar o Marítimo… de Cajuda. E hoje?). A humilhante derrota com o fraco Estoril não ajudou.
Quanto ao Belenenses, recupera de 4 derrotas com uma vitória caseira pelo meio (sendo que a invencibilidade caseira também já foi). Algumas “pedras” na engrenagem parece que persistem. para já, José Pedro fica de fora e... voltará Marco Paulo?
Que farás hoje Carlos?
De qualquer maneira, boa sorte! E o Antchouet tem contas a acertar na lista dos melhores marcadores…
Olhando de relance para a história, vencer no Mário Duarte nunca foi fácil (5 vezes apenas, a última em 2000/01). Veremos no euro-estádio de Aveiro...
Amanhã cá estarei para vermos como foi esta noitada...

PS1: Infelizmente a escassa disponibilidade por motivos laborais não me permitiu a já habitual análise dos resultados históricos, a recapitulação dos jogos mais recentes ou a análise ao árbtiro. Tudo isto sim, fica para jogos “especiais”…

PS2: Hoje no Diário de Aveiro, no suplemento do Beira-Mar, sai um artigo sobre Mário Duarte (pai). Curioso!



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