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Histórias de Belém VII - Um Olho à Belenenses



O ofício de contador de histórias tem as suas limitações. Não me refiro à capacidade narrativa, que está obviamente limitada pelo engenho de cada um, nem à liberdade criativa que tal acto necessariamente pressupõe. As limitações têm mais a ver com o universo não inesgotável dos temas, sobretudo quando o exercício não é meramente ficcional, assentando antes, e sempre, numa ocorrência real à qual, o passar dos anos, a experiência pessoal noutros domínios e, por que não, as emoções, deram um enquadramento mais romanceado, sem alguma vez, contudo, lhe terem traído a veracidade. Foi este o substrato que, até agora, alimentou as Histórias de Belém.

De facto, os exercícios de escrita que tenho partilhado convosco, o melhor que as minhas limitadas capacidades permitiram, assentaram sempre em factos que vivi, presenciei ou me foram transmitidos, no meu contínuo processo de aprendizagem como ser humano e como belenense. Foram pequenas histórias, episódios, “incidentes” que, a meu ver, ilustram de algum modo a inserção do Clube no dia a dia daqueles que o amam e a maneira como estes dois factores - o Clube e a vivência de cada um de nós - se influenciam reciprocamente.

Para além destas “histórias, episódios ou incidentes”, muitos outros “pormenores” revelam a indesmentível simbiose que existe entre o Clube e a Sociedade em que, num âmbito mais lato, estamos integrados. Estou a lembrar-me neste momento daquilo a que poderei chamar (quem sabe se não estará aqui uma nova fonte de inspiração para futuros exercícios de escrita) “Sinais do Belenenses”. Para melhor esclarecer o que quero dizer com esta expresão, vou dar-vos dois pequenos exemplos.

O primeiro tem a ver com mais um “facto” da minha infância; as histórias e os sinais têm sempre uma base real. Quando eu era miúdo e vivia em Belém (que saudades!) havia uma pastelaria, a ”Rosa D’Ouro”, muito conhecida, na rua de Belém perto da esquina onde começa a subir a Calçada do Galvão, cujos proprietários, a D. Rosa e o Sr. Artur (evidentemente adeptos do Belenenses) eram amigos dos meus avós e dos meus pais. Quando vinha da escola, e mais tarde do liceu, a D. Rosa (ou Sr. Artur) via-me passar e chamava-me:
­- Oh Abel José, anda cá comer um “matateu”.
Um “matateu” era um simples bolo, tipo queque, que levava na sua massa um pouco de cacau, o que lhe conferia uma cor cuja relação com o nome é evidente. Para além do (reduzido) significado gastronómmico, o “matateu” é bem o exemplo da influência e
importância que o Belenenses tinha na vida daquela gente simples e honrada.



O segundo exemplo transcende em muito o bairro de Belém e tem a ver com um património cultural que temos em comum - a língua portuguesa. Quem não se lembra da célebre expressão idiomática “um olho à Belenenses”? Não é necessário explicar a ninguém o seu significado, aliás pouco agradável para aqueles a quem a expressão se aplica, de tal modo ela é conhecida. Não me lembro de nenhum outro clube (e com que orgulho escrevo isto!), em Portugal ou noutro país, cuja existência tenha contribuído para enriquecer uma língua em lenta evolução há vários séculos.



Ficaram aqui registados alguns espisódios pitorescos, histórias, sinais. Mas quantos mais haverá relacionados com o nosso querido Clube? Muitos, certamente! E são esses “muitos” que me levaram a escrever esta crónica de hoje. Por que não outros belenenses, que terão certamente as suas experiências pessoais, a contribuir também para uma grande “história paralela” (mas não de menor importância...) do Clube de Futebol “Os Belenenses”? Fica aqui o desafio. Não é só por sentir a minha fonte de inspiração a esgotar-se, mas sobretudo por pensar que uma tarefa de maior dimensão só será possível com o contributo de muitos.

Aqueles que se sintam com vontade de escrever, incentivo-os a fazê-lo. Os que acharem que não têm jeito, ou tempo, ou seja lá o que fôr (que é sempre respeitável) podem, se estiverem de acordo, como aliás já aconteceu, dar-me conhecimento dos tais factos, episódios, sinais... Eu depois tento compôr uma história com essa matéria prima real.
Se gostarem do resultado, óptimo. Se não gostarem, podem cascar à vontade. Eu não me importo. Assumo o risco de ficar com um olho à Belenenses...

Saudações azuis.



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