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Pérola vulcânica



Poderia não ser a pessoa mais indicada para fazer uma antevisão de um Nacional-Belenenses. É que por razões familiares tenho uma simpatia muito especial pelo Nacional, embora não possa dizer que seja o meu 2º clube. Isto não só porque sou acima de tudo do Belenenses, mas também porque na minha opinião considerar clubes como "segundos" de pouco vale para os ditos emblemas. Tal como um benfiquista, portista ou sportinguista dizer que o Belenenses é o seu segundo clube (muito bem, podia ser pior, mas em Clube que se preze como o nosso, não se quer simpatia em 2ª mão, quer-se apoio).

Assim sendo, não hajam dúvidas, qualquer resultado adverso para o Belenenses é adverso para mim. De qualquer forma espero ajudar a conhecer e compreender melhor o Nacional, algo que aliás tenho procurado fazer também para os outros clubes. Pelo fair-play e pelo civismo. Depois que ganhe o melhor... esperando que o Belenenses seja melhor!

O Clube Desportivo Nacional (mais conhecido por Nacional da Madeira) é uma instituição relativamente antiga, tendo sido fundado em 1910, apenas uns meses depois do seu maior rival, o Marítimo. O futebol na Madeira, porém, apareceu bem antes, embora ficasse reservado em boa medida à comunidade britânica. Aliás alguns atribuem a Harry Hinton a introdução deste desporto pela primeira vez em território nacional (em 1875). Mas quer o Marítimo quer o Nacional foram impulsionados sobretudo por portugueses, iniciando assim uma verdadeira tradição futebolística madeirense. No caso do Nacional foi escolhido o preto e branco para as camisolas (no caso do Marítimo foram as cores da bandeira da República). Se o nome "Nacional" pode suscitar algumas dúvidas... "políticas", atente-se a este trecho do hino (que sei quase de cor): "Defendemos nosso brio; Com orgulho e altivez; Porque somos; Desta raça; Deste povo Português".

Quanto ao percurso histórico do Nacional, é inegável e óbvia a "sombra" do maior rival, o Marítimo. Saiba-se porém que o Nacional foi o representante madeirense nas edições de 1933/34 e 1934/35 do antigo Campeonato de Portugal, não tendo obtido grande sucesso (na altura com entrada directa nos quartos de final). Na primeira vez ainda vendeu cara a derrota frente ao forte Barreirense (seria finalista da edição); na segunda participação foi "cilindrado" pelo Sporting. Não chegou a cruzar-se com o Belenenses, na altura já vencedor por 3 vezes do troféu. E poderia tê-lo sido por mais uma vez (pelo menos), não fosse uma estranhíssima final na edição de 1925/26 da qual saíu vencedor... o Marítimo (a actuação arbitral foi de tal forma que a nossa equipa saíu de campo antes do final do jogo).

Uma outra curiosidade é o facto de o Estádio dos Barreiros ter sido construído... pelo Nacional, tendo sido inaugurado em 1927. Como é que passou a ser propriedade do Governo Regional da Madeira (partilhado por todos os clubes) e agora espaço exclusivo do Marítimo, é assunto delicado (que não nos diz respeito!). O facto é que o Nacional inaugurou em 2000 um novo estádio, bem longe do centro do Funchal, em plena serra (o campo da Choupana, baptizado com o nome de Rui Alves, presidente que levou a cabo a obra). Quanto às relações com o Governo Regional, devo dizer que não são... simples. Sem querer novamente politizar ou desviar-nos demasiado, é de referir que Alberto João Jardim (no seu jeito peculiar) recentemente adjectivou o Nacional, como sendo um "clube de elites privilegiadas", o que não é verdade.
Por outro lado e em 1997 Alberto João tentou a fusão dos 3 grandes clubes da Região (sendo ele maritimista era legítimo duvidar qual o objectivo), sem sucesso, pois a ela se opuseram quase todos os adeptos, começando pelos próprios maritimistas. Enfim, não basta subsidiar para destinar... Afinal era como tentar fundir Belenenses, Sporting e Benfica: só interessa a quem pensar ficar bem por cima.
Não deixo porém de ver algumas semelhanças no tratamento dado ao Nacional comparando com o nosso Belenenses, salvo as devidas distâncias (já que o Belenenses é maior que o próprio Marítimo... por enquanto! Ah, e nenhuma entidade pública nos apoia, claro!). Esse aliás foi o meu objectivo principal, não esquecendo também o tratamento que o próprio Alberto João Jardim tem dispensado ao nosso Clube ("mapuatas", "clube de bairro"). Por isso - e não pela política - lhe dedico estas linhas. E que se lembre dos 3-0.
Ah, é também arreliante quando certos conhecidos "continentais", ao saberem que alguém é da Madeira, logo perguntam pelo Marítimo. Ui - na minha família já estão habituados(as), como Belenenses e Nacionalistas (Benfica ou Sporting? Porto?!??!? Académica?!?!?!?!? Boavista?!?!?!?!?!?).



Tantas vezes envolto no "capacete" funchalense (o nevoeiro que se eleva da serra)
o campo da Choupana proporciona uma atmosfera algo intimidatória.
Nas alturas do Engº Rui Alves "mora" também a única, incansável
e afamada claque feminina, a quem desejamos um
simpático desgosto para amanhã.

Analisando agora para o historial dos jogos Nacional-Belenenses, logo se vê que é reduzido. Com efeito só em 1975/76 é que o Nacional ascendeu às competições nacionais (3ª Divisão); em 1977/78 ascendeu à 2ª Divisão, onde se manteve até alcançar a primeira presença na 1ª Divisão, facto que ocorreu em 1988/89. A estreia do Belenenses foi boa, com uma vitória por 0-1. Em 1989/90, porém, um descalabro: derrota por 3-0. Recordo que nesta época a Madeira teve a presença de 3 equipas na 1ª Divisão (incluindo também o Marítimo, claro, e o União). O Funchal juntou-se assim a Lisboa e Porto no restrito grupo de cidades que já tiveram pelo menos tal número. O mesmo se passou no campeonato de 1990/91. Se nessa época o resultado do Belenenses foi novamente positivo (vitória por 0-1), o mesmo já não se poderá dizer da classificação final dos dois clubes: acompanharam-se mutuamente na descida de divisão, o Belenenses em 19º e o Nacional em 20º. A luta foi muito renhida (o CDN-CFB foi o antepenúltimo jogo), com mais de metade das equipas do campeonato em risco até bem próximo do fim. Calhou a "sorte" a clubes do Sul e ilhas (juntando o Estrela da Amadora).
De recordar ainda que a melhor fase nacionalista foi conduzida por um adepto da escola do "nosso" Marinho Peres (seu ex-adjunto): Paulo Autuori.

Em 1991/92 os dois clubes estiveram então na 2ª Divisão, sendo que o resultado, se bem me recordo, foi uma derrota por 0-1 (presenciei o jogo, mas já foi há algum tempo!). O golo nacionalista, porém, foi irregular. Para além de ser em tempo de descontos "esticado", foi precedido de um centro efectuado para lá da linha de fundo. Com que autoridade o digo? Bem, bastará dizer que um parente do próprio Presidente do Nacional assim me confirmou, estava no enfiamento da jogada (não sabia é que eu era do Belenenses, concerteza!).

O certo é que o Belenenses conseguiu regressar ao primeiro escalão. O Nacional, por sua vez, iniciou um longo "calvário". Só regressou dez anos depois, com 3 presenças na 2ª B pelo meio.
Em 2002/03 o Belenenses não conseguiu melhor que um empate na Choupana.
Em 2003/04 o Nacional-Belenenses marcou um segundo passo no descalabro que se começava a adivinhar (a "fase da asneira"). Após o primeiro passo (derrota em casa por 1-4 com o FCP) a nossa equipa foi goleada pelo Nacional por 4-0, levando apropriadamente com um... "bailinho". Com isto preparou-se a saída de Manuel José. Muito se disse sobre essa deslocação, incluindo uma suposta saída nocturna de certos jogadores, supostamente com a conivência de mais alguém. Nunca soube se seria mais que um boato, portanto como boato deve ficar. Mas atenção, num passado mais distante já pude de facto comprovar comportamentos menos próprios da nossa equipa na "Pérola do Atlântico". Toda a envolvência da bela ilha convida à descontração, é certo, e a própria viagem de avião pode confundir alguns entre o que é trabalho e o que é turismo. Espero (e tenho quase a certeza) que desta vez não vamos fazer turismo... a mais.

Quanto ao actual momento da equipa e tendo em conta as advertências acima referidas - mais uma boa viagem e aterragem, pois por vezes podem perturbar os menos habituados - espera-se que possa aproveitar o momento de "graça" após o massacre imposto ao Benfica. Seria bom ter mais 3 pontos a juntar a esses outros 3 (infelizmente não foram mais que 3). O Nacional está a realizar um campeonato muito discreto, talvez acusando em demasia a saída de Rossato para o Porto (entretanto emprestado à Real Sociedad, enquanto Paulo Assunção foi pela mesma tabela para o AEK). Adriano que o diga...
Quanto a Casemiro Mior, depois de manter e até superar o legado de Peseiro com a melhor classificação de sempre (4ª lugar e lugar na UEFA, por sinal a 1ª vez que ficou à frente do Belenenses), tem a imagem algo desgastada junto dos adeptos nacionalistas. Se o técnico recomendado por Scolari atingiu alta cotação na época transacta, já esta época preocupa mais os adeptos o facto de contarem com 13 brasileiros no plantel contra 9 portugueses (mais 1 espanhol e 1 argentino), nem todos com valor indiscutível.
Mas o Belenenses só será superior se ganhar. É claro que a sorte dita muita coisa, mas não vamos deixar que seja ela a decidir. Nas alturas da encosta vulcânica da serra madeirense, FORÇA BELÉM!

P.S.: para os que têm acompanhado de perto os recentes dias deste blogue, poderão estranhar a natureza (e a extensão) deste artigo. Para que não continuem "mal" habituados informo que a intenção de reduzir o trabalho implícito mantém-se.
Algo que gostaria, isso sim, é que por uma vez só os que habitualmente lêem estas antevisões me pudessem exprimir (atravás dos comentários) o que mais gostam e/ou o que gostariam de ler nas mesmas. Repito, por uma vez só que seja!



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