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Deixai passar esta linda brincadeira



Quando publiquei a antevisão do jogo com o Nacional adverti para o facto ser meio-madeirense, o que poderia ter alguma influência. Porém essa influência nunca seria no sentido de "favorecer" o adversário em causa, mas sim, fruto do conhecimento privilegiado, para permitir uma análise mais objectiva e detalhada do adversário.
No caso do Club Sport Marítimo esse proximidade até poderia ser ainda mais penalizante, dadas a mais próxima ligação familiar ao Nacional (eterno rival). Por outro lado e ao que apurei um irmão do principal fundador do Marítimo (Cândido de Gouveia) era meu parente por afinidade. Enfim, sendo uma ilha, não é de estranhar que hajam destas voltas!

Olhando agora para um pouco da história do Marítimo, constatamos que foi fundado em 20 de Setembro de 1910, poucos dias antes da fundação da República. E este evento não passa ao lado da fundação do próprio Marítimo, já que as cores das suas camisolas foram precisamente inspiradas nas côres republicanas, que aliás já ostentavam mesmo antes de 5 de Outubro. Sem entrar em política, era manifesto que o Marítimo pretendia ser um clube do povo (e era) e que esse mesmo povo, à altura, ansiava pela mudanças que o novo regime poderia trazer. Pretendia também contrastar com o anteriormente fundado Club Sports Madeira, conotado com classes mais abastadas e partidárias da monarquia. Aliás as côres do Madeira eram - e são ainda - o azul e branco (escusado será dizer que um outro familiar meu foi dirigente do CS Madeira, mais afamado nos tempos recentes pela organização do Rally Vinho Madeira). Por outro lado existia também uma correspondência entre as classes mais favorecidas, que habitavam na parte alta da cidade, com a presença de ingleses na ilha, considerados elitistas e arrogantes. Aliás a prática do futebol, cuja primeira introdução em Portugal terá ocorrido precisamente na Madeira (através de Harry Hinton, em 1875), estava em boa parte reservada aos ingleses, que não se coibiam de utilizar terrenos na parte baixa da cidade, junto às próprias casas dos "marítimos" (os "marítimos" eram todos os que na altura trabalhavam na já intensa actividade marítima que se registava no porto do Funchal, eram o "povo"). Pouco a pouco os marítimos passaram de espectadores a jogadores, utilizando os campos logo que os ingleses se iam embora.
Cedo surgiram adversários de valia para que os marítimos elevassem os seus padrões, entre as inúmeras tripulações estrangeiras que por lá passavam.

Embora o Marítimo se afirmasse como uma equipa forte, a participação em competições nacionais era extremamente difícil, situação que naturalmente se manteria pelo menos até à inauguração do aeroporto em 1964 (seria até mais tarde, como veremos). A alternativa até então eram... vários dias em viagens de barco. Como se pode compreender tal facto acarretava custos insuportáveis para o Clube e para os jogadores.
Ainda assim o Marítimo conseguiu que, por ocasião do 2º Campeonato de Portugal, em 1922/23 (a única competição nacional da altura, antecessora em formato da Taça), o campeão das ilhas fosse admitido. Aliás por largos anos o Campeonato de Portugal/Taça de Portugal passou a incluir os campeões das ilhas (e entre 1957 e 1974 também os campeões das colónias), entrando directamente na competição por altura das meias-finais (até 1925/26), nos quartos-de-final (até 1964/65) ou nos oitavos (até 1971/72). Até 1953/54 os campeões das ilhas tinham que se sujeitar a uma restrição, que os jogos em "casa" fossem disputados em Lisboa. Mesmo quando se passaram a admitir jogos no Funchal ficou determinado que seria sempre a 1ª mão (salvo erro até 1971).
Foram então circunstâncias especiais que afastaram o Marítimo dos campeonatos nacionais, sendo compensado com alguns privilégios na participação na Taça de Portugal, que até 1974 seria então uma espécie de título supremo, acima dos campeonatos regionais (Madeira e Açores), nacionais (só para o continente) e coloniais. Uma espécie de "Brasileirão"...

Voltando atrás ainda, o primeiro encontro com o Belenenses surgiu no final da época de 1925/26, ano em que vencemos o Campeonato de Lisboa. O Belenenses teve que começar pelos oitavos, vencendo os Leões de Santarém por 7-1. Seguiu-se uma suada vitória ao Espinho, que ainda assim acabou com um 4-1. Nesse jogo o grande capitão Augusto Silva fracturou um braço. Em seguida levámos de vencida o então dificílimo Olhanense (campeão em 1923/24) por 2-1, em jogo disputado no Porto. Ficou assim garantida a presença na final. Por outro lado o Marítimo entrou logo na meia-final (com referimos acima), cabendo-lhe enfrentar um adversário de peso: o Futebol Clube do Porto, campeão da edição anterior. O jogo realizou-se na casa emprestada dos madeirenses (Lisboa) e saldou-se numa espectacular e retumbante vitória dos ilhéus, por 7-1. Disse a imprensa de Lisboa que o triunfo havia sido totalmente merecido (até parco), não sendo de excluir alguma "pirraça" para com os nortenhos. Pirraças esses que, como veremos, eram já bastante activas na altura (de parte a parte).

Chegados à final, os regulamentos estipulavam que o campo neutro a utilizar (sendo os finalistas de Lisboa e da Madeira) deveria ser o do Porto. O Belenenses contestou vivamente esta deliberação, considerando que o público do Porto iria estar contra a sua equipa (ao contrário do que sucedia no início da década!). Mas a prova é que tal sucedera no jogo com o Olhanense. O nosso Presidente chegou a admitir que se jogasse a final até no Funchal... tudo menos uma deslocação ao Porto.
Por fim lá se aceitou a ida ao Porto, sendo que o apoio do público não foi tão prejudicial como se esperava, até porque os maritimistas haviam "sovado" o FCP na meia-final!
Porém o jogo em si foi bastante polémico e estranho. Ao que parece o Belenenses dominou e mostrou a sua superioridade... sem conseguir os golos. Aos 55 minutos o Marítimo inaugurou o marcador, havendo os primeiros protestos dos azuis quanto a alguma irregularidade. O pior veio 5 minutos depois, com novo golo dos ilhéus, ainda mais contestado pelos azuis. O nosso capitão Augusto Silva, segundo dizem, chegou a agarrar o árbitro (que era do Porto, por sinal) insultando-o, facto que lhe valeu a ordem de expulsão. Revoltado com a injustiça Augusto Silva recusou-se a abandonar o campo até que o árbitro se viu obrigado a acabar o jogo com a saída em bloco da nossa equipa.
E assim o Marítimo, tendo vencido o Porto e o Belenenses, conquistou o seu único grande título nacional.

A vingança viria na edição seguinte. O Belenenses começou o Campeonato de Portugal nos 16 avos (claro) só parando na conquista do título. Pelo caminho deixou o Marítimo (ainda com acesso directo aos quartos de final) com um expressivo 8-1. De realçar que pela primeira vez o Campeonato contava com um número alargado de equipas, o que valoriza ainda mais a vitória azul.
As duas equipas voltariam a encontrar-se novamente na edição de 1929/30, sendo eliminado o Marítimo (0-0 no Funchal e 2-1 nas Salésias).

Depois disso e como já referimos o Marítimo continuou a participar apenas na Taça de Portugal (como competição nacional). Só em 1973/74, alguns anos depois da inauguração do aeroporto e após imensas discussões, é que o Marítimo conseguiu o acesso aos campeonatos nacionais. Participou numa liguilha que determinaria a sua presença na IIª ou na IIIª Divisão. A classificação final ditava a participação na IIIª, mas um posterior alargamento do número de equipas na IIª permitiu aos insulares a entrada nesse escalão.
Foi em 1977/78 que o Marítimo chegou por fim à primeira Divisão, tornando-se na primeira equipa não-continental a fazê-lo.

Naturalmente foi a partir dessa ocasião que se iniciaram os confrontos regulares com o Belenenses. A partir daí o Marítimo só desceu de divisão uma vez, findo o campeonato de 1982/83. Dessa forma em 1983/84 coincidiu com o Belenenses, que havia descido em 1981/82. Enquanto o Belenenses foi campeão da IIª divisão em 1983/84, o Marítimo só regressou um ano depois.
Nos 21 confrontos disputados nos Barreiros, os resultados demonstram a dificuldade, com apenas 5 vitórias, 4 empates e 12 derrotas. Aliás para quem como eu já presenciou alguns desses jogos, é notória a desvantagem dos visitantes. Para além da viagem é muito raro ter apoio nas bancadas (cheguei a ver um jogo em que era eu mais... um).

Agora vamos a ver. Este Marítimo já não é claramente o da 1ª volta (Cajuda estaria já quase de saída). Por outro lado o Belenenses quase nunca tem conseguido repetir a exibição do 1ª jogo.
Se por um lado o jogo de Setúbal foi motivador (embora a qualidade do jogo fosse irregular), uma repetição do ainda recente jogo com o Nacional também pode ser temida. Vamos a ver como reage a nossa equipa.
Pelo que tenho visto até agora, precisamos de alguma sorte para trazer os 3 pontos.
Dado que o árbitro é Bruno Paixão... precisamos mais que sorte. Acima de tudo é um péssimo árbitro, independentemente de quem quer favorecer.
Vejo-me quase forçado a dizer que 1 ponto já será bom... mas não pode ser! Temos que lutar como nos últimos 5 minutos em Setúbal!



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