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Defenda-se o azul da continuidade




Publico aqui uma crónica de Homero Serpa, no jornal "A Bola".
Tal crónica até julgo conter um erro, uma vez que indica que as eleições no Belenenses são daqui a duas semanas. parecendo-me que o acto eleitoral é na 1º semana de Abril.
Mas contém outras questões que me preocupam sobremaneira, nomeadamente o próprio título, o qual me faz lembrar a sucessão de Salazar pelo "primaveril" Caetano, do qual se esperava profundas alterações à ditadura de então, coisa que, como a História o indica, não aconteceu.
Pessoalmente nada me move contra o candidato A ou B, mas não vislumbro em nenhuma candidatura outra coisa que não seja um facto mais ou menos aceite pelo Conselho dos Sábios da Família Belenense.
E assim, não evoluiremos de facto.
E não evoluímos na justa medida em que se todos estiverem lembrados, Homero Serpa fez campanha pela candidatura de Sequeira Nunes e na dita campanha foi aquele que mais acerrimamente defendeu o Belenenses como um Clube prestador de serviços.
Ele fala muito no ecletismo do Clube como bandeira de um qualquer D. Quixote que os ventos modernos não fazem poupar os seus gestos face a tão poderosos moínhos mais sofisticados.
Também o meu pai se orgulha do ecletismo do Clube, não sabendo, porém, que tal ecletismo está a por em risco a actividade principal, como, de resto, ficou provado numa conversa que com ele tive aqunado baptizado da minha neta, pensando ele que apenas nos tinhamos profissionalizado no Andebol, quando afinal já vamos com com cerca de 4,5 modalidades profissionalizadas.

Crónica de Homero Serpa, em "A Bola"

O Belenenses está a pouco mais de duas semanas das eleições.
Este acto estatutário surge num momento de estabilidade na vida, muitas vezes conturbada, do clube e reflecte o trabalho equilibrado da sua administração na continuidade de um plano concebido para o manter numa zona da qual poderá subir a socalcos mais altos do desporto nacional, arquitectado especialmente por Ramos Lopes e seguido por outros dirigentes da mesma qualidade e entusiasmo.
Sequeira Nunes, meu amigo há longa data, teve a virtude de se deixar mobilizar pela prudência porque se a vida dos clubes precisa de sonhos e de temeridade, também necessita, diariamente, de precauções, de sentido das realidades, de uma presciência agudizada e sediada na experiência. Escarmentado exactamente por amargos episódios do passado, o presidente do Belenenses que vai terminar em tranquila pose o seu mandato, soube puxar as rédeas das leviandades e cumprir um tempo que eu considero de recuperação da instituição belenense. Padejou o grão que o clube podia pôr à sua disposição, dele fez o pão da verdade, provavelmente contrariando aqueles que ainda julgam o desporto profissional, caso do futebol, uma irresponsável idionomia. Este trabalho, melhor dizendo esta doutrina, que não foi apenas dele mas tambémda sua equipa, precisa de ser continuada, quer dizer não é tempo, como nunca foi, de aventuras.
O Belenenses deu-se sempre mal com as ambições desmedidas e os oníricos castelos que quis construir ou o obrigaram a edificar, como foi o caso do Estádio do Restelo, que hoje nos parece obra fabulosa sem nos preocuparmos em descontar no nosso encanto as contrariedades que ele nos trouxe, até os golpes hipócritas que no clube vibraram os instintos camarários e as ordens urgentes para abandono das Salésias quando se podia ter analisado o problema com mais calma e, sobretudo, mais respeito pela obra do clube. Estado, Belenenses e Casa Pia poderiam ter sido parceiros das iniciativas que cada qual defendia, havia espaço suficiente para isso, só não existia vontade. Ao fime ao cabo, por trás da expulsão do Belenenses já se agigantavam os poderosos interesses da construção civil.Sobretudo, a saída do Belenenses das Salésias concentrou a mobilização de todos os recursos do clube na construção do Estádio, estiolando simultaneamente a força desportiva, aliás muito abalada pela contundente perda do Campeonato Nacional nas condições que todos conhecemos e só os pacóvios julgaram normais. Mas eu, que lutei pela causa do estádio sob o beneplácito de A BOLA, e vi como as coisas estiveram tremidas, eu que sabia da inópia da tesouraria, do desânimo da população azul, da eventual desagregação dos belenenses, penso que a aventura de manter em Belém o campo de jogos não tinha alternativa.
Se o Belenenses tivesse sido empurrado para longe do seu bairro, provavelmente o Monsanto, onde o eng. Duarte Pacheco pretendeu que se edificassem as instalações do Benfica e do Sporting, sem êxito, evidentemente, perderia a sua identidade, como o Sport Lisboa, ao abrigar-se em Benfica, a perdeu.À custa de sacrifícios e vexames, o Belenenses manteve o Estádio do Restelo, erguido de uma pedreira, no lugar dos fornos da cal utilizados pelos árabes, que deu origem ao topónimo Alcolena. Foi uma insensatez deliberada, mas concordei e concordo com ela,mas o mesmo não posso dizer de outras atitudes levianas relacionadas com a formação de equipas de futebol, dos dinheiros esbanjados, dos enliços vários e lamentáveis que diminuíram a competitividade das modalidades. O Belenenses não pode deixar morrer o eclectismo que lhe dá personalidade de clube grande, nem abandonar a coesão e belenensismo a nível nacional que está a conseguir no estreitamento das relações com filiais e delegações, e tem de continuar a política, cautelosa mas decidida, de insistir no projecto imobiliário já em poder da Câmara Municipal. A sua concretização terá influência extremamente importante na vida do clube para além de representar o reconhecimento da autarquia por tudo quanto os belenenses fizeram por Lisboa e pelo País, obviamente em termos sociodesportivos.
Já li para aí umas pachouchadas a respeito da obra, mas não tenho interesse em defende-la, procurando noutras latitudes eventuais favoritismos e alegadas corrupções. Os outros são os outros e eu não preciso desse tipo de argumentos.
O azul que hoje nos cobre terá de ser o azul de amanhã.



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