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Mudar as mudanças - Parte I



Muitas coisas se conjugaram para que o meu tema de hoje seja sobre as eleições que se avizinham. Apareceram candidatos e apareceram idéias, se bem que estas últimas, como é habitual, estão a partir sobretudo dos associados. É o caso do manifesto aqui publicado ontem, elaborado por algumas das “cabeças pensantes” (felizmente cada vez mais e cada vez mais “pensantes”) que a “Net” azul tem vindo a revelar há alguns anos. Também os meus companheiros de blogue, já veteranos nessas andanças (fruto da participação na ML), têm avançado sobre o assunto.
O exercício a que me propus hoje, dada a manifesta falta de tempo, não poderá abarcar talvez nem um décimo do que teria dizer sobre as várias questões que afectam o nosso clube. Por outro lado os pontos de contacto com o “manifesto”, sejam a favor ou contra, são mais sugestões do que uma “reacção” ao referido manifesto. O que hoje vou tentar fazer é o “meu” manifesto. E por isso entendo um conjunto de linhas de força sobre matérias que têm vindo a ser incompreendidas ou maltratadas pelas Direcções do nosso Clube, nalguns casos há décadas e décadas.
Feita essa exposição gostaria de comentar o que penso sobre as candidaturas que já avançaram.

Um manifesto – Parte I

Advertências: este vosso consócio é futeboleiro, isto é, julga comungar do ideal dos primeiros e principais fundadores do nosso Clube, todos eles jogadores de futebol. À cabeça, Artur José Pereira, que sonhava com uma equipa que pudesse rivalizar e superiorizar-se a clubes como o Benfica, o Sporting ou o Porto.
Assim sendo, tudo o que possa prejudicar essa missão, mais, tudo o que possa divergir do sonho de ganhar títulos em futebol, passar-me-á ao lado (notem bem: passar-me-á ao lado).

Equipas de futebol, SAD, SGPS

Muito do que já foi feito veio de encontro ao que eu e muitos associados pedíamos já há algum tempo. Lembro-me que há cerca de 1 ano eu e o Alexandre Trindade (companheiro de ML) nos propusemos elaborar um documento de visão sobre o nosso futebol profissional. No final não conseguimos acabar o tal documento, tendo sido ultrapassados pelos acontecimentos. No entanto transmitimos as principais considerações à Direcção, no meu caso arriscando um incidente com a mesma. [Para os que não saibam (é advertência também obrigatória), tenho um parente que actualmente integra a Beléminveste SGPS, fruto do convite de um elemento dos orgãos sociais que temos em grande estima. Porém e como já poderão ter constatado tal circunstância não me impede de pensar de forma independente.]
No entanto os acontecimentos confirmaram o que parecia evidente. A SAD e o seu anterior modelo não funcionavam.
Tendo em conta o que já foi feito, enumero então aquilo que considero importante fazer.

Reestruturar a SAD, mantendo na Administração três pelouros:

a) Presidência, a ser assumida pelo Presidente do Clube, com responsabilidade directa sobre o Director-Geral e os Directores dos Departamentos Jurídico e de Marketing/Merchandising (ainda que estes dois estejam integrados no Clube e não na SAD, ou no caso do Marketing, numa sociedade autónoma, o que é algo a discutir adiante)
b) Área Financeira
c) Imagem e Relações Públicas (Liga, FPF, APAF, Imprensa, Outros Clubes)

Caberá ao Presidente da SAD (não profissional) o estabelecimento de objectivos desportivos por cujo cumprimento responderá o Director-Geral, tendo em conta o orçamento aprovado e o rigoroso cumprimento do mesmo. Estes objectivos devem ser simples e mensuráveis sem margem para ambiguidades, por exemplo: classificação até ao X lugar na época Y, até ao Z lugar na época W; número de jogadores titulares a obter da formação; número de jogadores referenciados pela prospecção, etc.
Os objectivos devem ser expressamente aceites pelo Director-Geral, que igualmente aceitará a afectação da sua remuneração de acordo com o grau de cumprimento dos objectivos.

O orçamento deverá ser elaborado pelo Administrador da Área Financeira em coordenação com as áreas e departamentos geradoras de receitas/centros de custos, sendo este responsável pelo controlo do seu cumprimento. Isto é o normal e creio que é feito. Faltará apenas maior transparência e detalhe na divulgação das contas da nossa SAD. Para quem seja accionista, como eu, é uma observação a fazer na respectiva AG.
Na minha opinião este Administrador (Financeiro) não deveria acumular cargos no Clube, trabalhando em exclusividade para a SAD. Idealmente deveria seria profissional.
Deverá ser o máximo responsável pela política de preços de bilheteira para o futebol bem como pela angariação de patrocínios e a contratação com fornecedores (principalmente de equipamentos). No entanto e sob a supervisão do Presidente terá que considerar o parecer das áreas de Marketing (que terá de conhecer e estudar as preferências dos adeptos e fazer o benchmarking de políticas de bilheteira) e dos responsáveis pelos fornecimentos e/ou patrocínios das restantes secções do Clube para o aproveitamento de eventuais sinergias (como o patrocínio por pacote para várias modalidades ou o fornecimento de equipamentos da mesma marca para várias modalidades). Porém reforço que esta articulação, sendo desejável, não é imperativa. Ou por outras palavras, cabe ao Administrador da SAD a última palavra sobre os compromissos a assumir pela SAD, agindo no interesse exclusivo desta. Nenhum contrato desta espécie poderá ser decidido ou determinado por elementos estranhos à SAD.

O Administrador pela Imagem e Relações Públicas será responsável pela elaboração e comunicação regular e atempada das posições do Clube/SAD nas diversas instâncias e organismos, bem como pela representação da SAD junto destes, sendo também responsável pelo reporte regular de benchmarking e análise da “conjuntura” (“sistemas”!) à Presidência.

O Director-Geral será o responsável superior de todas as equipas de futebol (incluindo equipas técnicas) bem como dos departamentos de suporte: formação e prospecção. Terá a última palavra sobre contratações e renovações de jogadores. Será também o único responsável pela escolha das equipas técnicas, sujeito ao aval do Presidente (inclui "chicotadas").
Será responsável pelo estabelecimento de objectivos e directrizes específicas para cada um dos departamentos sob sua responsabilidade, tendo em conta os objectivos gerais que lhe foram impostos.
Se necessário deverá ser coadjuvado por um Director Adjunto para a planificação das épocas, contratações e renovações (gestão de recursos humanos, digamos).

O Departamento de Formação terá um Director (e não Administrador) que poderá ser não profissional (seria desejável que o fosse) e que será o elo entre o Director-Geral e as equipas técnicas das camadas jovens, podendo ser-lhe delegada competência acrescida quanto aos recrutamentos/contratações e renovações nesses escalões.

O Departamento de Prospecção será responsável pela criação e manutenção de uma lista de jogadores referenciados, coordenando uma rede de observadores para o acompanhamento dos atletas considerados de interesse. Deverá trabalhar conjuntamente com a equipa técnica (sob a supervisão do Director-Geral) para apurar as necessidades do actual plantel e assim dirigir a prospecção em conformidade. O cargo poderá ser ocupado por um elemento não-profissional, sendo sujeito a dispensa caso o Director-Geral assim o entenda (o DG e não o Presidente). Sendo não-profissional, não poderá ser habilitado para encentar e conduzir negociações com empresários ou outros clubes, salvo delegação expressa do Director-Geral, a quem competem tais funções.

O treinador principal será o máximo responsável pela restante equipa técnica e do plantel profissional. Terá a responsabilidade exclusiva da escolha da restante equipa técnica. Poderá indicar jogadores ao Director-Geral e Departamento de Prospecção, sendo que, como dissémos acima, caberá ao Director-Geral a última palavra.

Todos os cargos remunerados, incluindo os jogadores profissionais, deverão ter remuneração progressivamente associada ao cumprimento dos objectivos. Estes objectivos, estabelecidos com diferente grau de especificidade ao longo da cadeia hierárquica, devem ter um denominador comum: querem-se vitórias e boas classificações no final da época. Isto por contrapartida dos prémios por convocatória, por jogo, por golos ou por vitórias sobre o clube A ou Z. Assim estamos nós.

Quanto às parcerias desportivas com outros clubes, nomeadamente para a concessão (mútua ou unidireccional) de direitos de preferência sobre jogadores formados ou para a rotação/empréstimo de jogadores, caberá ao Director Geral a sua escolha, aconselhado para o efeito pelo Director de Prospecção (e eventualmente do de Formação), que deverá assegurar o respectivo acompanhamento quando necessário, sendo que o Presidente reservará para si o direito de “veto”.

Voltando aos Departamentos Jurídico e de Marketing/Merchandising e caso se mantenha a sua transversalidade com funções no Clube, é necessário assegurar maiores níveis de contributo para a SAD e articulação face à realidade do nosso futebol. Por outras palavras, assuntos ou problemas que não digam respeito, directa ou indirectamente, ao futebol, deveriam ocupar cada vez menos tempo dos principais responsáveis destes pelouros. Se necessário e à semelhança do que proponho para as Relações Públicas deveriam existir responsáveis em exclusividade para a SAD.

Outra questão específica que gostaria de abordar é relativa ao código de conduta, que já existe mas não conheço. Deve vincular todos os elementos da SAD e das equipas de futebol (incluindo técnicos). Nele devem ser estabelecidos e expressos detalhadamente todos os procedimentos e sanções relativos a actos de indisciplina, abstenção/férias, comunicação com terceiros e quebra de sigilo (imprensa, empresários e elementos de outros clubes), situações de desrespeito ao Clube e seus adeptos em geral. Aqui a área de Imagem e Relações Públicas pode acumular um papel importante para a definição e verificação do cumprimento do estipulado (olhando também para a realidade de outros clubes).
Na medida do possível (dentro do enquadramento legal) e para os profissionais contratados os deveres e obrigações devem ser incorporados nos contratos, prevendo assim sanções com maior eficácia. Aqui deve entrar o trabalho da área jurídica.
Creio que nestes aspectos esta SAD já melhorou um conjunto de situações, mas algumas há ainda por corrigir. Há muita gente com gosto em trazer toda a vida da nossa equipa para os corredores (e até para os blogues), para fazer de boatos notícias.
Para já tenho apreciado o secretismo das contratações e renovações, bem como as atitudes tomadas quando o necessário segredo é quebrado, por culpa de outros elementos do Clube, dos jogadores (principalmente aliciados por certos jornalistas), dos empresários, jornalistas ou de certos adeptos que consideram isso um privilégio e até um meio para obter a estima e consideração de outros adeptos.
Aliás é giro ver como para esse efeito é esgrimido o “direito à informação” quando o acompanhamento regular do desempenho da equipa é por vezes tão escasso e deficiente. Quando a fuga de informação é claramente prejudicial aos nossos interesses, dispenso o tal “direito”. Bem sei que todos gostam de estar a par de tudo ou quase tudo, mas este é um mal, e um mal bem antigo que terá de ser cortado pela raiz.
Quanto ao "balneário", que fique claro que o "chefe" é o "mister" (enquanto o "chefe" dele entender que ele deve permanecer no cargo).
Mas sobre o conteùdo de um código de conduta, mais haverá a dizer (futuramente).

Quanto à SGPS e enquanto meio de controlo do Clube sobre a SAD, deverá encarregar-se, como hoje, de assuntos que não digam exclusivamente respeito ao funcionamento da SAD e envolvam o património (corpóreo ou não) do Clube. Uma vez que no modelo em causa o Presidente da SAD é o Presidente do Clube as funções de fiscalização e intervenção da SGPS relativamente ao funcionamento da SAD poderão ser reduzidas. Caso contrário deverá ter as maiores responsabilidades nesse sentido.
No entanto o Presidente do Clube não deve indicar ou determinar unilateralmente a composição dos cargos de administração da SAD, devendo para o efeito e como é natural obter o consenso dos administradores da SGPS, que por sua vez deverão ser escolhidos de acordo com o escrutínio das instâncias relevantes do Clube (Eleições/AG’s).
Voltando aos assuntos sob gestão da SGPS, inclui-se já hoje o projecto imobiliário, devendo ser consumada a constituição de uma sociedade específica para o efeito, detida em parceria pela SGPS e uma empresa do sector. Porém seria de muito bom tom explicar em sede do Clube (AG) quais os critérios e opções que presidem ou presidiram às escolhas subjacentes. Quando não permitir o direito de veto, mas isso já pode ser algo mais obstruidor. Mas por uma questão de princípio...
Quanto a outros assuntos e pegando de novo no Marketing/Merchandising, poderia bem ficar na alçada da SGPS sob a forma de uma empresa constituída para o efeito, incluindo talvez e também a área de TI/Multimédia. A única questão a resolver seria a articulação destes meios para a informação, divulgação e suporte a outras modalidades do Clube. Mas, como é natural, é algo de fácil resolução.
Quando refiro uma empresa responsável pelo Marketing, Merchandising e Multimédia obviamente incluo a gestão da marca e da(s) Loja(s) do Clube (incluindo a online) ou a distribuição de produtos fora de portas, com estrita articulação em termos de promoções e conteùdos com a SAD (política de bilheteiras, publicações no site, etc).
Esta é a via alternativa que considero mais aceitável para a questão do Marketing/Merchandising. A actual opção, de concessão a uma empresa externa, tem defeitos e virtudes. Tem algumas das virtudes que terá de ter uma empresa detida pelo Clube: tem de fazer pela vida, tem de dar lucro vendendo a nossa marca. Por outro lado alguns dos defeitos são mais imputáveis ao fornecedor de equipamentos oficiais. Mas estas questões reservo-as para artigos posteriores.

Por agora fica um “desenho” da SAD e umas “dicas” sobre a SGPS. Ainda assim há assuntos específicos no âmbito da SAD que merecerão maior atenção. Não tantos como alguns consócios têm referido, pois entendo que algumas questões são tão específicas que estaria a contradizer os princípios aqui expostos, ao determinar coisas para as quais quero delegação de competência (e bastante competência) e muito tempo de trabalho aplicado. Não quero dedicação, essa já tivémos muita. Quero trabalho, trabalho avaliado pelos resultados. Sem ingerências, ambiguidades ou indefinições. Presidentes ou vices a escolher jogadores (ou quem lhe der na gana), jogadores a mandarem no balneário, jogadores e técnicos sem responsabilidades ou objectivos claros, enfim, toda uma série de situações que quero ver cada vez mais erradicadas.

Como podem ver, este “manifesto” ficou pela parte I. É difícil escrever pouco sobre questões tão complexas. Porém será possível retirar algumas idéias-chave do que escrevi. Talvez num último artigo de súmula o faça...
Continuo noutro dia...



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