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Rapazes da praia... e os do Praia



Apenas duas dezenas de quilómetros separam Belém do Estoril ao longo da mesma costa, ainda que em Belém ainda corram os últimos fôlegos do Tejo enquanto no Estoril já é o Atlântico que banha a praia.
Se a praia lá existe (com destaque para o Tamariz) e o clube assim a tem no nome, a génese e a história do Estoril-Praia em pouco têm a ver com a do nosso Belenenses, o Clube dos "rapazes da praia".

No nosso caso, foi na praia do Restelo/Belém que os pioneiros do início do Séc. XX iniciaram-se no desporto. E enquanto existiu praia os jogos de "amigos" aí continuaram por algum tempo (ao contrário das praias da "linha", a praia do Restelo ou até a outrora famosa praia de Algés - para os banhistas neste caso - já não existem). Mas curiosamente e por falar em pioneiros, o Concelho de Cascais até tem primazia, pois foi nessa vila propriamente dita que se jogou o primeiro jogo de futebol ("oficial") em Portugal. Por outro lado a primeira equipa de excelência a existir no nosso país foi o Carcavellos FC, constituída pelos ingleses da Companhia do Cabo Submarino.
Porém não foi dessa tradição nem de jogos na praia que nasceu o Estoril, embora o gosto pelo jogo na "linha" e as referidas raízes possam ter contribuído para o seu sucesso.

Para já a altura da sua fundação (17 de Maio de 1939) desde logo indica uma origem já bem posterior aos tempos do pioneirismo. O Estoril-Praia surgiu por iniciativa da Sociedade de investimentos imobiliários/turísticos "Estoril Plage" ("plage" significa praia em francês, para os que não saibam), proprietária - por exemplo - do Hotel Palácio. A intenção inicial era sobretudo de propaganda à empresa e à promoção do Estoril como destino turístico. Esta associação de uma empresa a uma equipas de futebol, curiosamente, não era algo de insólito para a época (ver o caso da CUF).
Alguns anos mais tarde, porém, o clube autonomizou-se (coincidindo, salvo erro, com o seu primeiro período de "decadência", que veremos adiante).


O Tamariz, no Estoril: aqui há tempos esta praia perdeu
a Bandeira Azul (salvo erro "recuperada" entretanto),
vamos a ver se a nossa bandeira azul os faz perder

Desportivamente e logo nos primeiros anos de vida o Estoril viveu os seus momentos de ouro. Logo na edição de 1943/44 conseguiu chegar à final da Taça de Portugal, tendo deixado clubes como o Guimarães ou o Porto pelo Caminho. Porém e na final em si perdeu com o Benfica por 8-0.
Em 1944/45 disputou o seu primeiro campeonato na 1ª Divisão, acabando em 7º lugar. Em 1945/46, Campeonato ganho pelo Belenenses, o Estoril não participou na 1ª Divisão, por motivos que desconheço. Mas em 1946/47 "aparece" de novo conquistando um notável 5º lugar, seguido por um ainda melhor 4º lugar em 47/48 (ficou o FCP em 5º) e outro 5º lugar em 48/49. Em 49/50 o Estoril já foi 12º, pondo fim ao melhor período de sempre da sua história.
Nas épocas imediatamente seguintes lutou para não ser despromovido, algo que veio a ocorrer em 1953. Só mais de 20 anos depois - já depois do 25 de Abril - é que o Estoril regressou ao escalão principal. Entre 1975 e 1984 permaneceu no "topo", com um descida pelo meio, na época de 1980/81. As prestações foram relativamente modestas, sendo a melhor classificação um 8º lugar em 1976.
No final da época de 1983/84, com nova descida, o Estoril iniciou novo largo período afastado da "ribalta", enquanto curiosamente o Belenenses subia, no decurso da sua primeira "estadia" na 2ª. Curiosamente também o Estoril só voltou a "subir" em 1991, altura em que o Belenenses... desceu novamente. Coincidências... ou não?
De qualquer forma o Estoril voltaria a descer em 1994, novamente sem deixar grandes marcas de registo. Volvidos 10 anos, os estorilistas regressaram, desta vez à "Superliga". Mas o Estoril do Séc. XXI já é um "clube" muito diferente. Aliás isso explica em parte o seu regresso. É o que veremos já a seguir.

O Estoril constituiu a sua SAD em 2000, estando assim entre os primeiros clubes a enveredar por esta opção. Porém já se sucedeu algo que normalmente só vemos lá fora: o GD Estoril-Praia deixou de ser accionista maioritário. Esta é uma grande questão que se coloca no futebol de hoje em dia, que merecerá maior e mais detalhada análise (e discussão) noutras ocasiões. São as "abrahmovichizações" e afins...
Para já vejamos outros aspectos "interessantes" na evolução da Estoril-Futebol SAD. Manuel Damásio, conhecido e (mal) afamado ex-dirigente do Benfica tornou-se no homem-forte do Estoril, sendo um dos seus principais accionistas até 2003. Em 2003 outro afamado personagem, José Veiga (que está agora no Benfica), assumiu o controlo de 81% da SAD estorilista, incluindo a aquisição da participação de Manuel Damásio. Já em 2004 e em virtude da assunção do seu cargo na SAD do Benfica, José Veiga vendeu as suas participações directas, calculadas em 41.7% do capital, a três misteriosas empresas sediadas no Reino Unido, que assim e em conjunto se tornaram no maior accionista individual. Entretanto, Manuel Damásio e António Figueiredo (também ex-Benfica da era-Damásio e mentor da trafulhice "Paulo Madeira") continuam à frente dos destinos do Estoril, sendo que a questão dos accionistas parece continuar um mistério. Senão vejamos as recentes declarações de Figueiredo ao jornal "O Jogo" sobre as tais empresas inglesas:
"Não sei quem são ou o que fazem. (...) Não faço ideia. Tive uma conversa telefónica com alguém que se intitulava dono ou representante das empresas, mas não passou disso. Infelizmente, ninguém [dos accionistas ingleses] esteve presente na última assembleia de accionistas, no mês passado".
Tudo isto é insólito e concerteza serve para esconder... mais trafulhices. Com os personagens em causa (Damásio, Veiga), não é de estranhar. Ai do Belenenses se estivesse numa situação idêntica (sem sequer saber quem detém a SAD ou fazer de conta que não sabe)!

Desportivamente falando é claro que o Estoril tem saído beneficiado com este "entorno". Regressou ao primeiro escalão com relativa facilidade, servindo de "plataforma" de rotação para jogadores e negócios dos seus principais "manda-chuvas". Por exemplo - e agora que o Alverca está na Liga de Honra - coube ao Estoril albergar Yannick e Amoreirinha depois das respectivas passagens pelo Benfica. No outro sentido também passam jogadores (Carlitos), sem se perceber muito bem se existe justo equilíbrio de benefícios entre os clubes que negoceiam. Isto significa que as verdadeiras ambições do Estoril têm concerteza os seus limites, algo que os adeptos estorilistas porventura não se importarão (serão muitos do Benfica, também provavelmente).
O que me mais me preocupa neste género de coisas é que o Belenenses queira fazer o mesmo pela política de empréstimos. Do Benfica temos Cristiano e Rodolfo Lima, qualquer um deles agora afastado da titularidade (em contrapartida não fazemos o "frete" de os pôr a titulares mesmo que não rendam). Agora Carvalhal chegou à conclusão de que Cristiano é central e não lateral (não é descabido, diz quem conhecia o jogador dos seus tempos do Beira-Mar). Mas no fundo e sem olhar aos actuais atletas não gostaria de ver um Belenenses "estorilizado" (quase esterilizado) ou "alverquizado". Sem ofensa para os adeptos ou as respectivas localidades.

Quanto aos resultados passados no Estádio do Restelo, o saldo é favorável, embora já tenhamos perdido por 2 vezes e o número de empates seja proporcionalmente considerável (5). Sobram 9 vitórias com um saldo de 36-16 em golos.
Curiosamente as melhores "sequências" ocorreram durante o período de "ouro" do Estoril (1944-53), com 6 vitórias nossas, 1 empate e 1 derrota. É que o Belenenses de então ainda era mais valioso! De salientar vitórias expressivas por 6-2 (48/49) e 6-1 (52/53)!
No segundo "período" do Estoril no primeiro escalão, entre 1975 e 84, o saldo já evidencia mais a "crise" azul: 2 vitórias, 3 empates e 1 derrota.
Nos dois últimos jogos, já no ainda mais difícil princípio da década de 90, ficaram um empate a zero (1992/93) e uma vitória (1-0, em 1993/94).

Quanto às relações entre os dois clubes, pouco haverá a dizer. Com o Estoril "antigo" poderão ter havido alguns pontos de contacto. Curiosamente lembro-me de ver o nosso Zé António com a camisola do Estoril, de onde creio que veio para ser o capitão da nossa férrea defesa nos finais dos anos 80 (ergueu a Taça de 89!) - agora é o nosso director desportivo (ainda, creio). Outros "circularam" entre os dois emblemas. Por exemplo para o Belenenses de 1977 vieram do Estoril o guarda-redes Rui Paulino, Carlos Pereira e Eurico.
Com o Estoril "novo", faça-se a ressalva sobre a preocupação de que as ligações "íntimas" que existem entre Estoril e Benfica não venham a ter réplica fiel no nosso Belenenses. Ter dirigentes e empresários que adulam e servem directa ou indirectamente terceiros... Mais, ser um equipa "B"...

Ah, não poderia deixar de referir ainda uma outra ligação "azul" ao Estoril. É que as últimas Galas de Aniversário do Belenenses têm-se realizado... no Estoril (Casino).

Concretamente sobre o jogo de hoje, temos contas a ajustar. Como foi então unanimemente reconhecido (até pelos estorilistas) o Belenenses dominou e foi claramente superior no jogo da 1ª volta, na Amoreira. Porém não conseguiu o mais importante, os golos, sendo que a arbitragem algo habilidosa também não ajudou. A sorte caíu de bandeja ao Estoril, que como sabemos ganhou por 1-0. Curiosamente o "carrasco" desse jogo (N'Doye) já não está por lá (agora já não dói).
Esse jogo foi verdadeiramente o primeiro grande desaire da nossa equipa esta época. Eu na altura esperei que fosse caso isolado, mas infelizmente outros desaires se seguiram (basta ver também o calendário).
É certo que os estorilistas nesse jogo vingaram de alguma forma um caso inverso, que foi o encontro para a Taça de Portugal do ano passado. Aí fomos nós que levámos um autêntico "banho de bola" e teve de ser o nosso Imperador a salvar a situação nos penaltis.

O Estoril agora parece-me não estar muito melhor do que no início da época (em termos exibicionais) e a classificação reflecte-o. Estão no grupo dos últimos, 2 pontos acima da linha de água, a 6 pontos do Belenenses. Mas isto implica, como é natural, que esta é a altura em que os últimos "acordam" e tentam dar a volta. Temos de estar atentos, embora o Estoril ainda só tenha conseguido vencer fora de casa por uma vez (em casa do também "aflito" Moreirense) e empatado 2 vezes... nas Antas e no Bessa (muito curioso!).

Quanto à nossa equipa, volto a afirmar que gostei do desempenho no último jogo (meu Deus, já fiquei como o nosso "mister"). Volto a afirmar também que é uma pena que o Antchouet tivesse perdido a cabeça, com ou sem "Luciliada" à mistura. Vai fazer falta, embora esteja confiante que outro alguém vai fazer o gosto ao pé. De resto, ficam registadas as "reclassificações" do Cristiano e do Gonçalo Brandão. Do primeiro diziam alguns aveirenses que era muito melhor como central (bom lateral não é de certeza, isso sei). Quanto ao segundo, terá afirmado que se sentia pouco à vontade como lateral (as exibições desse ano têm-no confirmado, infelizmente). Pois muito bem. Tendo em conta que também já veio Renato, afinal ficamos com excesso de opções para o centro (serão mesmo opções?) e diz Carvalhal que ficámos com lacuna do lado esquerdo (só Cabral e Sousa improvisado). Só espero que estas cogitações não tenham sido contrárias e potencialmente conflituosas com as de outro alguém... Com as de Rui Casaca não serão, concerteza. Bom, se há problemas, por pequenos que sejam, que se resolvam sem alaridos.

Em suma, se os 3 pontos da 1ª volta foram mal perdidos, para hoje ainda mais intragável e agoniante será outro resultado que não a vitória. E eu estou confiante nela. Já aqui fiz votos semelhantes e dei-me muito mal (ex.: Gil Vicente ou o próprio jogo da 1ª volta com o Estoril), mas não tenho emenda. Vamos a eles com atenção às "querenças" que possam estar ao serviço dos quereres do adversário seguinte. O Sr. Olegário também já tem uma "ficha" que não é parca em prejuízos nossos. Veremos se os nossos protestos, em parte justos e fundamentados, não se transformam em castigo por não fazermos o devido trabalho de casa com o(s) sistema(s). Ou fazermo-lo mal, com pseudo-alinhamentos que começam desalinhados (ver Ribeiro Telles). Isto é, tortos à nascença e com tiros a sair pela culatra.



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