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Frente a Frente



Caros leitores(as), para hoje tinha previsto publicar algo sobre a ligação entre o Clube, as suas eleições, e a Net. Como "veterano" das primeiras eleições amplamente discutidas na "net", as de 2000, muito teria para dizer sobre o assunto. Já lá iremos noutro dia, mas virá a jeito, digo desde já.
É que hoje resolvi acabar de vez com um segredo que não é segredo, o sentido do meu voto. Já esperei em demasia por coisas novas, por alternativas ao presente. Do que se sugere, em vez de desenvolvimento vejo, quando muito, cópias toscas. Juntando a isto uns quantos pára-quedas e alguns insultos pessoais fáceis, acabou-se para mim.
Já voltarei ao assunto. Para já aqui ficam umas impressões sobre uma muito interessante reportagem do Jornal Record, realizada por Hélio Nascimento e Carla Pereira. Para mais, é a primeira de uma série (aleluia!).

O tema: património, instalações e imobiliário

Record - Se for eleito, que tipo de atitude vai ter em relação ao projecto imobiliário?

Mendes Palitos - Não sou contra o plano imobiliário. Temos é de ter um perfeito conhecimento do mesmo, porquanto os sócios, contrariamente ao que se diz, não têm um correcto conhecimento do plano, desconhecendo até porque motivo ele foi chumbado pelo IPPAR. O plano imobiliário, segundo consta, implica a alienação de um terço do património do clube e a rentabilidade, segundo consta também, equivale à venda do César Peixoto, ou seja, é de 1,5 milhões de euros/ano (300 mil contos). Não podemos avançar como está. Temos de o conhecer e discutir com pessoas que estão dentro do plano e nos podem informar... informações que não temos. Estamos contra a alienação de património. Qualquer informação que eu peça não é dada ou será sempre filtrada pelo presidente, que faz parte da lista concorrente.
Comentário: Mendes Palitos começa bem, pois parece reconhecer a importância do projecto. Quanto ao resto... poderá ser impressão minha, mas está mais mal informado que eu, comum consócio. O motivo pelo qual o projecto foi chumado pelo IPPAR é óbvio, tal como iria ser chumbada a construção de um novo estádio. Mas mais que lançar a dúvida, o que irá fazer em relação ao chumbo, dado que é a favor do plano? E em relação à tal Associação de Moradores (AMBEX)?
Quanto à alienação de 1/3 do património do Clube, não percebo muito bem do que está a falar. Não deverá ser em termos de valor, pois a área do complexo destinada é de 8.500 m2, face aos 130.000m2 do total do Complexo, sendo terrenos há muito desaproveitados: o Maracanãzinho, o parque automóvel ao pé da Repsol e os terrenos acima do Topo Norte. Deverá estar a fazer confusão com a àrea de construção em “altura”, isto é, o total das áreas dos escritórios, lojas e apartamentos, esse sim, ascende a 25.000 m2 (portanto 33.500 m2 no total). Esses 25.000 m2, por não existirem, não são obviamente património do Clube. Aliás, se não fosse a parceria, nem chegarão a existir.
Quanto à alienação, só 5.700 m2 da superfície actual vão ser alienados à Somague (habilmente apelidada de “construtora”), isto é, 4% da área actual da superfície do nosso Complexo. Para além disso a Somague custeará a construção nos restantes 2.800m2, que fica na posse do Clube.
Sobre os 25.000 m2 que vão ainda ser construídos pela Somague (e não pelo Clube), 65% irão ser propriedade da mesma em parceria com o Grupo Amorim ((habilmente apelidado de “corticeira”), ficando o Belenenses com 35% (pelos quais também não pagará a construção). Para além disso fica o Belenenses com opção de compra dos 65% com desconto de 5.5% (enquanto os sócios terão um desconto de 2.5% para compra de habitação).
Quanto ao rendimento anual, ao ser comparado com a venda do César Peixoto, parece coisa de desprezar, segundo Mendes Palitos. Como se a venda do César Peixoto não tivesse sido o melhor negócio (não digo o ideal, é certo) do nosso futebol nas últimas décadas. E como se a receita em causa não fosse quase equivalente à do Bingo.
Quanto à questão da “informação”, existem mais fontes. A Somague e o Grupo Amorim, por exemplo, são obrigados a prestar este tipo de informações ao mercado.

Cabral Ferreira - Os vários projectos imobiliários que têm sido apresentados foram os assuntos mais discutidos pelos sócios, quer em AG’s quer em sessões de esclarecimento. O Belenenses tem um activo imobiliário incomparável, que terá de ser rentabilizado. As áreas marginais à actividade desportiva são neste momento objecto de projecto imobiliário em aprovação na Câmara Municipal de Lisboa. O projecto vai utilizar 6% dos cerca de 130 mil metros quadrados que compõem o complexo e terá de servir os interesses do Belenenses e dos munícipes da zona de influência do clube. Através de diálogo construtivo com a CML e o promotor imobiliário, chegar-se-á a uma solução final do agrado de todos. Refiro ainda a alta qualidade urbanística do projecto.
Comentário: Quanto a Cabral Ferreira, tem razão ao dizer que foram assuntos discutidos em Assembleias Gerais. Também tem razão quando diz que corresponde a 6% do complexo. O que não concordo é com a suficiência das AG’s (bastas vezes marcadas para maus dias e más horas) e das tais “sessões de esclarecimento”. Mas o facto é que foram muitos os sócios que não compareceram nas tais AG’s, incluindo curiosamente os elementos da lista adversária...


Record - As infra-estruturas desportivas são suficientes?

Mendes Palitos - As infra-estruturas não são suficientes e serão ainda menos se conseguirmos pôr em prática tudo aquilo que pensamos para o clube, pois queremos dinamizá-lo e apostar forte na formação: é com base nela que o clube cresce.
Comentário: Embora vaga, é uma resposta “politicamente correcta”. Mas pergunto eu, o que irá ser feito em concreto, dado que concorda com o plano imobiliário no geral? Que novas infra-estruturas tem para propôr?

Cabral Ferreira - As infra-estruturas desportivas recentemente reformuladas são já exíguas no horário nobre para a prática de centenas de jovens que diariamente passam pelo Restelo. Sendo o Belenenses uma instituição de utilidade pública, é óbvio que necessita de mais espaço para a prática desportiva.
Comentário: Mais uma resposta “politicamente correcta” e vaga. Porém conta com a obra já feita. Mas, novamente, o que irá ser feito? E será devidamente aproveitado?


Record - O estádio está remodelado mas nunca enche. Porquê?

Mendes Palitos - É um problema que vem de trás e queremos ultrapassar. Queremos chamar os sócios. Se conseguirmos reforçar a equipa de futebol, ela será a âncora de todo o desporto no clube. Ter mais sócios, revendo os preços dos bilhetes e colocando-os ao nível de um bilhete de cinema.
Comentário: A parte do “reforçar a equipa de futebol” deixa-me apreensivo, dados os antecedentes do candidato nessa matéria. Trata-se de construir uma “super-equipa” que chame os adeptos? Será que os 5 reforços prometidos vão nesse sentido?
Quanto ao preço dos bilhetes, inteiramente de acordo, embora dispensasse a comparação com os bilhetes de cinema. Tem alguma lógica, mas uma política de bilheteira para o futebol tem que ser muito mais elaborada. Até porque os preços dos bilhetes de cinema já não são tão convidativos como isso.

Cabral Ferreira - Só precisamos de inovar para encher o estádio. Temos de fidelizar os sócios, de apostar na juventude, de conseguir boas prestações desportivas. E de cativar novos públicos alvos, tais como as mulheres ou as comunidades de emigrantes.
Comentário: Não terá sido o candidato da Lista A, mas alguns seguidores jocosamente reduziram estas declarações a “o problema são as mulheres e os emigrantes?”. Da minha parte, vejo primeiro o que primeiro é referido. Estou de acordo com a fidelização e chamamento à juventude, mas é o último elemento, a meu ver, que tem de “puxar a carroça”, deveria ter sido mencionado em primeiro lugar: boas prestações desportivas. E por isso não estou a falar de algumas vitórias, estou a falar de uma equipa que dê garantias continuadas de lutar pelos primeiros lugares. Não é de um 3º lugar e depois lutar para não descer. Os adeptos querem sucessos sustentados e contínuos. Não época-sim, época-não.
Quanto às mulheres e emigrantes, porque não, é interessante. Mas também é óbvio que não vai representar 20 ou 30 mil lugares que andam vazios. Mas é uma medida complementar, as políticas de bilheteira também precisam delas.


Record - Um centro de estágio está nos seus planos?

Mendes Palitos - Falou-se de um centro de estágio, em Oeiras... e caiu. Pensamos contactar as autarquias próximas do estádio e procurar dinamizar o clube, através dessas autarquias.
Comentário: A intenção é boa, mas a resposta parece demasiado curta. Não são as autarquias de Lisboa, Amadora, Almada e Oeiras as mais próximas do estádio? Qual vai ser a “dinamização”? Por miúdos...

Cabral Ferreira - O centro está sempre nos planos. Para a sua concretização é necessária a mobilização de vontades exteriores ao clube, nem sempre fáceis de conseguir. Mais perto ou mais longe também um dia teremos um centro de estágio.
Comentário: Cabral Ferreira concretiza a questão do centro de estágio, mas fico sem saber em que pé estamos. Dá a sensação que é na estaca zero. Pelas suas palavras, admito que tenha sido a CMO a inviabilizar o que estava em estudo. Mas, a seguir, o que vamos fazer? E com quem?
Assim temo que o centro continue a ser uma miragem durante muito tempo.


Record - Qual é o aproveitamento das piscinas?

Mendes Palitos - As piscinas têm estado votadas a um certo abandono e desleixo. Têm de ser dinamizadas em termos de limpeza e manutenção. Se não o fizermos, perdemos muitos sócios.
Comentário: Tem razão Mendes Palitos, conheço várias queixas quanto às instalações, tendo sido motivo de afastamento. Também a malfadada cobertura insuflável, que uma das vezes caíu sobre os que nadavam (afastando de vez uns quantos praticantes). Porém estranho que a resposta de Mendes Palitos se resumisse à limpeza e manutenção. Até porque no seu site fala-se muito mais sobre as piscinas. Porque é que não referiu esses outros assuntos?

Cabral Ferreira - São inúmeros os campeões e os recordistas, em todos os escalões etários, a maior parte deles formados nas nossas piscinas. Vai ser estudada a rentabilização de todo o complexo, pelo que irei destacar para o sector um gestor de alto gabarito.
Comentário: Cabral Ferreira tenta apresentar um lado “bom”, mas que não justifica plenamente os outros objectivos principais: satisfação dos praticantes comuns e a rentabilização da exploração. Não “cola” muito.
Porém fala no “gestor de alto gabarito”, como sinal de que a falta de rentabilidade o preocupa. Mas aí e de facto é caso para dizer, porque é que não o fez mais cedo?


Terminada esta análise parcial (por dizer respeito apenas ao património, instalações e imobiliário), já poderão ter concluído sobre qual será o meu sentido de voto. Muitas outras justificações poderia dar (e darei, em artigos próximos), no mesmo sentido em que o meus colegas de blogue já fizeram. Não sou indiferente ao facto de conhecer há mais de 5 anos muitos dos membros da Lista B (através da Net azul, da pioneiríssima Mailing List), sendo que nesses 5 anos muito discutimos e analisámos em profundidade a vida do nosso Clube. Foi só por aí que nasceram as amizades. Deram sempre a cara, vindo de encontro aos internautas com frontalidade. Mais, aceitaram e promoveram a realização de idéias de muitos de nós.
Por outro lado também a Mailing List passou por ser o espaço mais crítico da gestão do Clube, para o bem e para o mal. Custa por isso ver a chegada de anónimos e pseudo-anónimos à Net, atacando quem não acata o que dizem, ignorando que outros mais fizeram pela mudança, desinteressadamente.
Não duvido do Belenensismo de Mendes Palitos (e não o digo levianamente), mas a sua lista não é para mim uma alternativa credível. Embora apregoando a ruptura com a "continuidade", não deixa de ser também ela um acto contínuo das "oposições" tradicionais do nosso clube.
Quanto a Cabral Ferreira, tem muito a provar, sobretudo na parte que mais me interessa, o futebol. Como já aqui escrevi, ainda não vi muita coisa que me agradasse nesta matéria, nem de uma nem de outra lista.
Mas, para além dos pára-quedismos, perturba-me solenemente a manipulação e distorção da informação como arma eleitoral. Ainda por cima quando tanta coisa há ainda por melhorar, custa ver que os alvos até são coisas que têm evoluído muito no nosso Clube. Assim não. A "alienação de um terço do património do clube" é uma distorção habilidosa, tal como é chamar "corticeira" ao Grupo Amorim (como seria chamar mercearia ao Grupo Sonae).
Agora saíu também no site da Lista A um artigo comparativo entre os orçamentos do Belenenses, Beira-Mar e Leiria (porquê só estes clubes?), com uma medida interessante: o dinheiro gasto por pontos conseguidos. Mais do que discutir os valores (estranhando que todos os clubes tenham tido o mesmo orçamento em 4 anos, ignorando também o nº de jogadores por empréstimo em cada clube), pergunto eu, se o agora candidato Mendes Palitos tivesse levado a sua avante quando esteve na SAD e não tivéssemos tido o Marinho Peres, qual seria a conta?




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