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Porque não o futebol, outra vez



É Sábado, fim de semana de Páscoa e não temos jogo. Sendo assim um dia “morno” torna-se um pouco difícil escolher assunto. Mas com a “agitação” que vivemos com o próximo acto eleitoral, é difícil escapar-lhe.
Embora já aqui tenha manifestado a minha intenção de votar na lista B não deixarei de analisar a ponderar as alternativas que se apresentam (ou não), nem de apontar o muito que há por fazer. O muito que, mesmo votando em Cabral Ferreira, entendo e defendo que este tem por fazer. E que, naturalmente, não acredito que a lista A de Mendes Palitos tenha credibilidade ou capacidade para fazer. Isto para mal de todos nós, pois creio que – uma vez mais - teremos de assumir com as próprias mãos a tarefa de ser uma “oposição construtiva”, uma oposição que é contra-peso de quem provavelmente ficará no poder mas também uma oposição que não visa ganhar votos, ou seja, chegar ao próprio poder.

E hoje voltarei ao futebol, para mim a “charneira” do nosso emblema. Entre os artigos que já aqui escrevi inclui-se uma análise geral (Mudar as Mudanças – I) do que deve ser a nossa estrutura do futebol, bem como uma análise mais específica e prática (Mudar as Mudanças – II). Face a isso e considerando as primeiras comunicações da cada lista sobre o nosso futebol, escrevi também um outro artigo já confrontando o que cada candidato apresenta face ao que eu preconizo (Ah, estou a falar de futebol, é claro).
No geral devo dizer que, apesar de entretanto terem aparecido mais “idéias” dos candidatos, o meu veredicto é o mesmo. Não vi ainda “o projecto”.
Curiosamente onde tenho visto mais e melhores idéias tem sido... na prática. Li um excelente artigo de Rui Casaca (no Jornal do Clube) sobre os planos para a formação, que recomendo vivamente. Por outro lado, tem sido notória a nova forma de trabalhar, na prospecção e na política de renovações. Sem alaridos e salvaguardando a posição do Clube, sobretudo face aos empresários (que obviamente fazem pela sua vida). De assinalar também a criação do Lar do Jogador e dos treinos de captação em parceria com 5 clubes da região de Lisboa. Para mim, é caso para dizer, continue-se com esta mudança. Mas para melhor, com condições que Sequeira Nunes tardou em dar e que suspeito que Mendes Palitos queira retirar. Porquê? Já veremos.

Quais têm sido as idéias manifestadas pela Lista A para o futebol? Logo no seu primeiro manifesto eleitoral deixou algumas delas bem claras. Entretanto já surgiu uma segunda versão do manifesto (no site da candidatura), que curiosamente reduziu os compromissos e objectivos de 20 para 15. Mas no que toca ao futebol, diga-se, tratou-se apenas de “arrumar” melhor os pontos (e estão, de facto). Notei no entanto algumas “limagens” para mim um pouco mais significativas, pois denotam a adaptação ao “feed-back” recebido. Por exemplo, passou a ser omitida a alegada e misteriosa “onda de contratações de duvidosa qualidade no mercado brasileiro”, a “gestão profissional por objectivos”.
Quanto à estrutura da SAD e tendo em mente aquilo que já escrevi no Canto, o que é proposto pela Lista A coloca-me algumas dúvidas. Desde logo parece-me ser conferido demasiado poder decisório ao Presidente (que desde já esclarecem que será o Presidente do Clube, neste caso o candidato Dr. Mendes Palitos), não sendo claro o que irá fazer por si e o que irá delegar (e exigir!). Mais ainda porque se diz que o Director-Geral tem “um perfil de gestor especializado em Futebol” e “controla as vertentes Administrativa e Financeira do Futebol Profissional”, sendo que no organograma é o responsável directo do Director Desportivo, embora se diga que trabalha em “articulação” com este (no mesmo plano que com o Presidente).
Ora, em minha opinião, a componente financeira deveria ser separada e assegurada numa primeira linha hieráquica que pelos vistos não é mencionada, a administração. Deixar as componentes desportiva e financeira nas mesmas mãos (do Director-Geral) parece-me pouco prudente. Para mais será fiscalizado apenas pelo Presidente, que nesse caso deverá ter competências reconhecidas nas duas áreas em questão (o que é difícil).
Por outro lado e aparecendo como responsável superior do Director Desportivo (o que me parece bem, como já hoje acontece), não deve trabalhar em “articulação” com este. Deve supervisionar, estabelecer e controlar os seus objectivos, sendo o Director Desportivo o máximo responsável técnico em permanência independentemente da equipa técnica em funções (o “mister” e o seu staff).
Por outro lado, não sei o que será o proposto “Secretário Técnico” da Equipa Técnica. Não será uma figura coincidente com o Director Desportivo? Quais as suas funções?
Quanto ao Gabinete de Prospecção, diz-se que existirá em paralelo com a Equipa Técnica, não sendo claro a quem responde afinal. Porque ao chegar ao capítulo da formação se coloca o responsável pela prospecção ao nível do Director-Geral, responderá o primeiro ao Presidente e só a este? Na minha opinião deveria ser ao Director-Geral, a quem responderia também o responsável máximo pela formação.
Relativamente ao dito responsável pela formação, a lista A refere que indicará um gestor profissonal para o efeito, o que me parece bem (embora me pareça mais premente no caso da prospecção). Mas também não vislumbro quem será o seu superior directo, presumindo que será o Presidente (na minha opinião deveria ser o Director-Geral).
As premissas fundamentais da lista A são: ”vai acabar a confusão actualmente existente entre cargos, títulos, funções, responsabilidades. Uma trapalhada que dilui as fronteiras entre o Clube e a SAD e que serve para esconder a falta de profissionalismo e o facto de tudo ter de ser decidido por uma única pessoa.
Pelo contrário, a espinha dorsal da Direcção Mendes Palitos para o Futebol Profissional / SAD é simples, transparente e eficaz.”
De facto, a estrutura apresentada parece-me simples, mas mais no desenho que na explicação. Salta à vista a posição cimeira e plenipotenciária do Presidente, mas não se vislumbram administradores nem a posição do gabinete de prospecção nem da área de formação. Para mim e portanto é mais “simplista” que simples, não sendo assim tão transparente. Falha sobretudo num aspecto fundamental, pois não se vislumbra uma clara segregação de funções e responsabilidades. Como o “desenho” representa, há demasiada “verticalidade”, o que em qualquer organização implica que as áreas/funções de controlo e supervisionamento estão misturadas e comprometidas com as restante áreas.
Face ao que aqui escrevi e face à estrutura actual, caracterizada como uma “trapalhada”, o que é proposto pela lista A parece-me pouco explícito e pouco detalhado. Penso ainda mais no segundo artigo que escrevi, em que justifico a clareza da estrutura como garante fundamental da prevenção de certas situações dúbias. Quem contrata e com o aval de quem? Quem indica jogadores? E aqui o passado e as palavras de Mendes Palitos deitam por terra quaisquer considerações sobre estrutura e organização, contrariando aliás o que a sua lista escreve nos manifestos/site. O passado porque, como bem sabemos, foi Mendes Palitos que contratou 2 jogadores brasileiros (portanto uma “onda”) sem o aval de mais ninguém, nem o seu colega administrador da SAD, nem director desportivo, nem do técnico, tendo armado uma “bronca” quando Marinho Peres rejeitou os tais reforços. A bronca que haverá concerteza com Carlos Carvalhal se este rejeitar os 5 reforços que Mendes Palitos já apregoa ter (uma vez mais por sua conta). Ou seja, diz-se tudo aquilo da organização, da prospecção, da formação, quando na verdade já está quase meia-equipa definida pelo futuro Presidente (“tudo ter de ser decidido por uma única pessoa”?). Assim sendo, para que diz confiar em Rui Casaca e Carlos Carvalhal (já o disse)? Ou será que com Mendes Palitos rapidamente saírão do Belenenses? (eu lamentaria muitíssimo no caso de Rui Casaca).
E que papel vão ter os empresários, tal como quando Mendes Palitos esteve na SAD (tratou unilateralmente com o empresário a contratação dos tais brasileiros)? Que empresário representa os 5 reforços?
E o que quer dizer com “poremos à disposição do Clube os recursos financeiros necessários à renovação do plantel”? É a velha promessa de “meter” dinheiro, com os resultados que todos conhecemos do passado? (desastrosos, claro).

Quanto à lista A de Cabral Ferreira, são manifestamente parcas as comunicações sobre estes aspectos. Porém a presunção de que em termos de estrutura e “nomes” pouco se irá alterar poderá servir de base para a análise.
Do que há de novo, Cabral Ferreira referiu a criação de um Comité Técnico dedicado à articulação e planeamento de toda a formação. Não sei exactamente o que é que isto implica. Que exista um responsável máximo (que responda ao Director-Geral, diria eu), é claro e recomendável. Mas pouco mais se percebe, não fosse o trabalho que já é levado a cabo e que se pretende continuar. Só nesse sentido fico mais reconfortado.
Por outro lado a lista A fala na profissionalização da rede de prospecção, o que parece mais interessante (tal como é, no caso da lista A, a profissionalização do responsável pela formação). No entanto e pelo que sei, muito mais haverá a dizer sobre esta “rede” e o seu funcionamento. Do que está escrito, permanece a incógnita. Do que já existe, são evidentes as lacunas.
Quanto à “definição de protocolos com alguns clubes e instituições estrangeiras que permitam aceder em condições preferenciais a ‘canteras’ de jogadores”, parece-me bem, embora pela experiência passada não tenhamos visto resultados sistemáticos e palpáveis. Só isto, assim dito, parece-me pouco.

Resumindo e no geral, os principais problemas que vislumbro são a falta de credibilidade e transparência do que é proposto pela lista A e a falta de... propostas detalhadas por parte da lista B. Continuo a achar, pelo que uma e outra lista “deitam” cá para fora, que o nosso futebol não vai avançar significativamente. Uma e outra lista falam no topo, na Europa e no sonho de conquistar o título. Obviamente que “passei” essas intenções , pois são as de todos nós (não tenho dúvidas que dos dois candidatos também).
A minha esperança reside então em... Rui Casaca. Porque creio que o que preconiza a lista A irá necessariamente colidir com o bom trabalho que se tem feito e com o próprio responsável, é mais uma razão para rejeitar o respectivo projecto. Por outro lado pontuam a promessa de 5 reforços e a dúbia questão dos tais apoios financeiros de origem ainda incerta. Porque parto do pressuposto que a lista B será a mais sinceramente empenhada em que se continue o que de bom se tem feito, ganha para mim vantagem. Com senãos, e não são poucos. O actual gabinete de prospecção parece-me ineficaz, fica por ver o que é que a profissionalização da rede de prospecção significa. Quanto à formação, parece-me que lentamente (tem de ser assim) vai ganhando o lugar que merece. E aqui realço o que já disse por várias vezes e agradou-me ver escrito por Rui Casaca, que o principal objectivo da formação é fornecer bons valores à equipa principal, e não lutar por títulos de camadas jovens como se de uma modalidade mais fosse (digo eu). Nesse sentido também me é obrigatório referir o excelente artigo de Gouveia da Veiga publicado no Blog CFBelenenses. É certo que a lista A também se refere nos mesmos termos, mas lá está, não consigo ver a credibilidade para além das palavras. Sobretudo vindo de quem já quis trazer 2 reforços do Brasil por sua conta e agora já diz trazer meia equipa. Já para não falar nas cumplicidades evidentes com certos empresários de futebol...

Assim sendo continuo na expectativa, centrada no que terá a propôr Cabral Ferreira. Uma coisa é certa, espero que faça mais que Sequeira Nunes, pois ao que sei e contrariamente ao que querem fazer crer, parece-me que poderá apostar numa estrutura mais moderna e com outras ambições. Sequeira Nunes, nesse aspecto, só tardiamente “acertou”, com a tardia remodelação da SAD. Antes disso foi a “fase da asneira”, mas não só, pois desde muito antes se viu que o modelo e o funcionamento da SAD não serviam. Com Mendes Palitos, por lá, não esquecer. Foi Mendes Palitos que afirmou publicamente que Vítor Oliveira poderia renovar, à revelia dos restantes elementos da SAD e do que efectivamente se veio a decidir, a vinda de Marinho Peres. Depois foi o que já referimos, Marinho Peres tornou-se visivelmente um incómodo para Mendes Palitos, que com o episódio dos 2 brasileiros revelou o seu inconformismo com o facto de não poder sondar e contratar jogadores a seu bel-prazer. O curioso é que na altura repudiei fortemente quando Marinho Peres apelidou Mendes Palitos de “idiota”. Achei de tal forma gravíssimo que entendi que o afastamento de Mendes Palitos e a não punição de Marinho haviam sido injustas. Hoje em dia, não deixando de repudiar tal atitude (chamar “idiota” a um administrador da SAD, facto que curiosamente também foi repudiado por muitos dos actuais elementos da lista B), não posso deixar de considerar a origem do problema. E na origem, nunca poderia nem posso deixar de considerar que Marinho Peres percebia e percebe mais de futebol (e de quais são os bons jogadores) que Mendes Palitos. Portanto é mais um temor em relação ao candidato da Lista A, que se queira “vingar”, que queira generalizar a escolha arbitrária de jogadores a seu bel-prazer numa estreita relação com empresários.



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