Fomos Campeões! - parte II
O acto de entrega das taças conquistadas pelos campeões ao Clube
O meu pai é de origem de uma família quase inteiramente de belenenses (aliás, naquele tempo ninguém na família tinha autorização para outro tipo de credo desportivo), coisa não muito fácil até então num Alentejo onde o vermelho ainda pontifica mais na área desportiva que na política.
O meu pai herdou tal gosto do meu avô paterno, já falecido em 1956, tinha eu 4 anos, a quem me foi legado a herança da cruzada belenense.
E foi assim naquele dia 26 de Maio de 1946. Haviam várias pesssoas ligadas afectivamente ao Belenenses que queriam ver o jogo e não apenas a passagem dos jogadores pela Estrada Nacional nº 4, coisa muito costumeira na minha terra, já que antes era atravessada logitudinalmente por esa via nacional, constituíndo uma antiga espinha dorsal de Vendas Novas.
Voltemos, então, a Elvas e ao que o meu pai viveu.
O meu avô paterno ocupava o lugar de Regedor, equivalente nos dias de hoje, ao de presidente de junta de freguesia, já que à data ainda se vivia sob a tutela do espartilho montemorense do qual nos livrámos nos anos 60. E na qualidade de regedor foi ter com o comandante da Escola Prática de Artilharia (adiante designada de EPA), o qual não soube dizer que não ao pedido formulado por um homem respeitado e com obra feita.
Só havia um problema. Passar por Estremoz sem serem fardados, já que lá existe uma unidade militar e seria, no mínimo, estranho, que um carro de transporte militar de caixa aberta levasse civis.
Pois bem, os civis que foram a Elvas tiveram de se fardar da cintura para cima e lá foram. Não com a ração de combate, mas com os seus farnéis levados de casa.
Claro que levaram ornamentos alusivos à possibilidade de se vencer, tanto mais que as probabilidades eram muitas.
O carro ficou junto ao aqueduto e eles que se desenrascassem a pé até ao campo do Elvas.
A alegria de sentir-se campeão nacional ainda hoje perdura dentro do meu pai e é nessa qualidade que ele tem vivido a sua condição de belenense ao longo de toda a sua existência já que ele nasceu no ano da fundação do Clube, havendo uma diferença na idade de mais 2,5 meses a favor do Clube.
Equipa Campeão Nacional da época de 1945/46
O meu pai foi campeão, viu o seu Clube e aquele Clube que me legou a mim e ao meu irmão ser campeão.
O meu pai festejou um campeonato nacional da I Divisão. Riu, chorou, gritou e no regresso a Vendas Novas, até o comandante da unidade de Estremoz já tinha informado o comandante da EPA: "Soubemos dum carro vosso pelos nossos domínios, mas não há problemas porque eu também lá fui vitoriar o Belenenses, porque sou belenense".
Eu e o meu irmão, bem como todos os primos ou primas, das 1ª à 4ª gerações esperamos que algo de bom venha do lado de Belém para também podermos festejar como o meu pai o fez em Elvas, vai para 59 anos, como abaixo se documenta, após o final da pugna entre o Elvas e o Belenenses, cuja equipa era constituída por jogadores de alto amor à camisola como sejam Quaresma, Mariano Amaro, Serafim, Vasco (presentes em 22 jogos); Armando (21 jogos), Feliciano, Francisco Gomes (20), Capela, Rafael (19), Manuel Andrade (14), José Pedro (13), Elói (10), Mário Coelho (9), José Sério (3), Francisco Martins, Mário Sério (2), António Martinho (1 jogo).
As pessoas querem e gostam de sentir o sabor da festa e da alegria na conquista de títulos.
As pessoas são mais facilmente captáveis para o nosso emblema por via do Futebol, por via de títulos porque é disso que a 1ª página do jornal trás à estampa.
Porque foi assim que o jornal "A Bola" nos deu destaque e imagine-se quantos novos belenenses ganhámos nesse dia:
E já agora, um breve resumo da forma como ganhámos o jogo em Elvas:
Rafael – 12
José Pedro – 6
Mário Coelho – 4
Feliciano – 2
Elói – 1
Martinho – 1
Vasco: a amostra da cepa dum campeão
Feliciano: a raça dum campeão
Nota Final
Naqueles tempos, lembro-me perfeitamente de assistir a uma prática instituída pelo meu avô e seguida pelos seus filhos:
nada cobrarem às comitivas do Belenenses nos almoços ou simples refeições nas suas deslocações a Évora para defrontar o Lusitano de Évora, sendo certo que alguns deles até andaram comigo ao colo, como foi o caso do Estêvão, do qual não sei se está entre nós ou não, tendo-o visto pela última vez a jogar ao bilhar quando o Clube ainda tinha a sua delegação na Av. de Liberdade
Venham mais títulos e jogadores de classe, que suem a camisola e nos tragam mais alegrias é este o meu sentido apelo aos actuais e futuros dirigentes do meu Clube.