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As Salésias são nossas!!!



Primeiro que tudo vamos à história. E aqui quero desde já salientar que me baseei nos livros do Acácio Rosa que são, segundo os meus conhecimentos, os únicos livros onde a história do Belenenses é retratada.
Quando o clube começou em 1919, começou por utilizar o antigo campo FNAT também conhecido por Campo do Pau de Fio (porque nele existia um poste de electricidade!!!) para treinos. Nos jogos oficiais o Belenenses usava os campos dos adversários como a sua casa. Convém lembrar que o Belenenses foi fundado por gente humilde que não tinha posses para comprar terrenos. No início nem sede tínhamos e as primeiras reuniões foram feitas num banco de jardim.
Pouco tempo depois, o Belenenses foi obrigado a alugar o Campo do Lumiar para efectuar os jogos oficiais. Foram mais de 7 anos sem um campo. Foram 7 anos a acartar com a trouxa e a jogar em “casa” nos campos dos adversários ou a ter de alugar um campo.
Finalmente a 26 de Dezembro de 1926, pelo Decreto Lei Nº 12.823, o clube obtém o terrenos que deram origem ao primeiro campo relvado em Portugal: as Salésias. Finalmente a 29 de Janeiro de 1928 torna-se realidade o sonho daquelas gentes que tiveram a ousadia de sonhar com um clube diferente dos outros que já existiam. A 29 de Janeiro de 1928 foi inaugurado o Estádio do Belenenses. Foram inauguradas as Salésias.
Foram precisos esperar 3050 dias ou seja 8 anos, 4 meses e 5 dias para que o Belenenses tivesse o seu campo! A 21 de Junho de 1931 é inaugurada a bancada central e pouco tempo depois são inauguradas as bancadas laterais, os camarotes e a cobertura.
Oito anos depois o Belenenses consegue através de contratos com a Direcção Geral da Fazenda-Pública o direito de ocupação de mais 9800m2 que se destinam à construção de um campo de treinos.
Finalmente a 24 de Abril de 1947, depois de o Belenenses ter arrelvado às suas custas o estádio, é inaugurado o primeiro campo relvado em Portugal.

Tudo parecia correr bem, o clube estava a crescer e tinha-se tornado campeão nacional de futebol um ano antes. Nada poderia ser mais falso. No mesmo ano o Belenenses recebe o aviso que terá de abandonar as Salésias devido a “exigências da urbanização”.
Em 1948 o Belenenses aceita construir um novo estádio numa pedreira marcada a negro no mapa da cidade. Um terreno que ninguém queria e que não tinha previsão de aproveitamento pela CML. No entanto e para quem não sabe, as condições impostas ao Belenenses para usufruir desses terrenos foram bastante sui generis. Aqui ficam elas:
a) concessão pela CML para a utilização dos terrenos a título precário, pelo prazo de 25 anos;
b) regresso dos terrenos à plena posse da CML, no termo da concessão, com todas as construções, parques e jardins neles implantados sem direito, por parte do clube, a qualquer indemnização;
c) resgate, pela CML, da concessão, a todo o tempo, mediante indemnização ao clube;
d) pagamento pelo clube à CML de uma renda mensal de 83.304$70 de Janeiro de 1958 a Dezembro desse ano e a partir de Janeiro de 1959 até 1979 de uma renda mensal de 149.874$70;
e) pagamento da percentagem de 10% pelo clube à CML sobre todas as explorações não desportivas realizadas no Estádio;
f) na falta de pagamento da renda, dentro dos prazos estabelecidos, (de 1 a 8 de cada mês), o direito da CML à plena posse do Estádio sem pagamento de qualquer indemnização ao clube.
Sim meus caros leitores, o Belenenses começava a incomodar muita gente. Aquela gente humilde pensava que podia ganhar títulos assim sem mais nem menos? A Viscondes, “Cósmicos” e afins? Nem pensar...
Obviamente o clube não pode suportar tal renda mensal. Estávamos em 1958 e o clube tinha gasto nos dois anos anteriores 34 mil contos na construção de um Estádio. E a CML ainda queria quase 150 contos por mês pelo uso de uma pedreira entretanto transformada pelo clube num dos mais belos estádios do mundo à altura. As dívidas à banca atingiam várias centenas de contos ao ano. Era incomportável.
Foi decidido então pela Direcção que o clube entregaria à CML o estádio do Restelo mediante uma indemnização ao clube. O clube passaria então a pagar um aluguer pela utilização do estádio. Foi um duro golpe para todos os Belenenses. Apesar de ter iniciado conversações com a CML em 1958 só em 1961 esta aceitou a proposta do clube. Com a condição de que o clube antes do resgate pagasse todas as rendas em dívida acrescidas de juros de mora. Eram cerca de 7.000 contos. Com o dinheiro do resgate pagámos as dívidas à CML e a outros. Mesmo assim ficámos sem estádio e ainda devíamos 2.500 contos. Em 1961. A 29 de Junho de 1961 o Belenenses entregava à CML o Estádio do Restelo.
A CML tornou então pública a ideia de não conceber o resgate sem pôr o Estado em regime de pura municipalização. O clube pediu então que apenas o relvado principal e as bancadas fossem objecto de arrendamento e as demais instalações ficassem em regime municipal. Não foi aceite. Pedimos então que ao menos fosse arrendada a Sala de Troféus e as dependências onde se armazenava o material, o posto médico e rouparia. Também não foi aceite. Aliás, a CML fez questão de todas as Taças do clube serem retiradas do Restelo.
Um pouco antes, 06/11/1952 o Benfica conseguia da CML a escritura de terrenos com a área de 120.000 m2 com uma renda mensal de 5.000$00 a partir de 1954... Diferenças...
O Belenenses passou a pagar por um estádio por nós construído numa pedreira 16 contos por mês com o direito de usar o relvado, o pelado e a pista de atletismo, mais uma quantia por usar o posto médico, mais uma taxa para usar os campos de hóquei, basquetebol e ténis, mais os ordenados de dois funcionários do estádio. Em 1962 o total era de 22 contos mas ainda quiseram que fôssemos nós a tratar da conservação do relvado. Ao menos aqui conseguimos uma pequena vitória.
Em Setembro de 1963 o Belenenses deixou de pagar avenças pela utilização do estádio passando a ser cobrado à hora pela utilização dos recintos e tendo de entregar à CML uma percentagem pelas receitas dos jogos.
A partir de 31 de Julho de 1965 voltámos ao sistema de avenças... Que nunca pagámos devendo à CML em 1969 o valor de 1500 contos.
Finalmente a 31 de Detembro de 1969 a CML devolve o Estádio ao Belenenses. Oito anos depois... alguma justiça. Não sem que antes a CML de Lisboa tivesse vendido (por valores simbólicos) ao Benfica e ao Sporting os terrenos onde se encontravam os seus estádios para “assegurar com a sua intervenção a perpetuidade da existência dos dois clubes”. O estádio volta para o Belenenses por um prazo renovável de 25 anos (não incluído no acordo estava a piscina em construção) cedendo ainda ao clube cerca de 4.000 contos para o pagamento das dívidas do clube à CML, para realizar obras de melhorias eléctricas e para a construção de um campo polidesportivo de patinagem e basquetebol a ser pago em duas prestações iguais. Finalmente devolveram o que era nosso.
Em 1982 e sob a Direcção de Mário Rosa Freire o Belenenses consegue o direito de superfície durante 50 anos do complexo do Restelo. Mais tarde e com o Engenheiro Krus Abecassis na CML o Belenenses adquire os terrenos de forma definitiva por um preço de 55$00 /m2.
Porquê esta história toda? Porque quero recordar as declarações do nosso antigo presidente o Dr. Sequeira Nunes. Retiradas do site do clube:
• 24/09/2003: «Não sei se será hoje, amanhã ou depois de amanhã, mas o Belenenses vai voltar às Salésias»;
• 31/03/2004: «não vou sair de presidente do Clube de Futebol Os Belenenses sem que as Salésias voltem ao Restelo (Belenenses)»;
• 02/12/2004: «ao longo das várias rondas de negociações não havia conhecimento, nem dos membros camarários, nem do governo, em relação a um projecto imobiliário já anteriormente aprovado para a zona. Foi com estupefacção que tomei conhecimento do facto, e de esse projecto ter como beneficiários a Casa Pia e outras entidades. Como a teimosia absurda não leva a lado nenhum e nada trás de benéfico para o clube, nas negociações encetadas com o Ministério da Educação e com a Casa Pia, procurámos preservar um espaço para o Belenenses nesse complexo imobiliário, que será propriedade do clube e ficará para a perenidade em relação às origens que aquela zona teve. Essa será uma condição fundamental para que o projecto avance. Convém recordar que se trata de um espaço que não é nosso, apesar do triste passado, e que como tal teremos que aceitar avanços e recuos no processo. Infelizmente nenhuma outra direcção, antes, tomou a iniciativa de abordar este assunto. Se isso tivesse acontecido, haveria já um histórico de avanços e recuos. Esta direcção já teve avanços e recuos neste processo que, repito, ninguém anteriormente havia abordado. Estamos agora na fase de avanços», adiantando ainda que «há o compromisso, que está em fase de estudo, de ser atribuído um outro espaço mais próximo do Estádio do Restelo para que o Belenenses possa construir mais um campo relvado, como era intenção fazê-lo nas Salésias»
Desistimos assim sem mais nem menos? E desistimos do que é nosso? Sim, as Salésias são nossas!
A devolução do Restelo não foi nenhum favor que nos fizeram. Foi apenas o devolver de algo que nos pertencia por direito.
O motivo pela qual as Salésias nos foram retiradas não se concretizou. Elas continuam lá. Não houve construção. Temos de exigir a devolução dos terrenos, bem como uma indemnização (com juros de mora como sempre nos foram exigidos) por todos os transtornos causados e devemos ainda pedir outra por discriminação em relação aos outros clubes clubes de Lisboa.
Este Verão levei o meu pai a ver as Salésias e vi a tristeza nos seus olhos. Foi a primeira vez que ele lá foi depois daquele jogo fatídico onde perdemos o campeonato na última jornada para o Benfica. Já lá vão 49 anos!
Tiraram-nos aquilo para transformar o primeiro campo relvado do país (tal como a tableta da CML diz) para a transformarem numa lixeira e onde uns pobres desgraçados vivem em habitações super degradadas. E agora querem ceder os terrenos ao Casa Pia? Mas que direitos têm eles aos terrenos? Nenhuns!

E o Dr. Sequeira Nunes fala em outros terrenos... o que ele não percebe é que os outros terrenos até podem ser maiores e mais valiosos mas que as Salésias são parte do sonho de quem fundou o Belenenses. Fazem parte do sonho de todos os Belenenses.
Não aceito que a Direcção desista assim de um sonho. Não aceito que não se mobilizem todos os Belenenses para uma acção de protesto. É uma ofensa aos fundadores do clube e a todos os Belenenses que lutaram contra a injustiça que foi a expropriação e todos os pressupostos da construção/aluguer do Estádio do Restelo.
Não sonho com um novo estádio nas Salésias mas sonho com a construção de campos onde os nossos jovens possam treinar e sentir o sonho de quem formou um dia num banco de jardim um clube diferente. Tenho esse direito? Deixo isto à consideração de todos vós e em especial à Direcção do clube e ao Engenheiro Cabral Ferreira. Ah! Já quase me esquecia ao Conselho Geral que “é o garante da identidade do Clube e rege-se pelos presentes Estatutos e pelos seus próprios regulamentos” , isto segundo os estatutos do clube.




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