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"Lisboa, 3 de Dezembro de 2005"



Cabe-me antes demais agradecer o convite endereçado pelo excelente “Canto azul ao Sul”. É uma honra fazer parte deste privilegiado espaço de discussão sobre o nosso Clube, o qual procurarei dignificar na mesma medida que faço todos os dias com o nosso Belenenses.

A poucos dias do embate com o Vitória de Setúbal, procurando fugir um pouco da tónica depressiva que teima em não nos largar, tento relembrar a quem de Direito, como um simples jogo de futebol da nossa equipa, com 1.500 adeptos presentes e contra um clube que ainda há pouco tempo militava na divisão de honra, pode ter tanto impacto na vida de um Belenense.


Sábado, 3 de Dezembro de 2005, 12 h:08 m.
Acordo com uma tremenda dor de cabeça. A nova vida sedentária de advogado estagiário faz com que as 4 cervejas bebidas na noite anterior causem graves estragos na minha consciência matinal. Olho à minha volta, e quando recupero os sentidos, dois pensamentos batem na minha cabeça como um raio:

1. Hoje não tenho de ir trabalhar.
2. ...... O Belenenses joga hoje!!!! No Restelo!!!!!!!

O dia está ganho e ainda mal começou.... Pouco tempo depois, o almoço está na mesa, faltando ainda algumas horas para o pontapé de saída. Nada como fazer uma antevisão do jogo de hoje no excelente PES 3! Depois de há muito ter editado a nossa querida equipa, com todos os pormenores possíveis e imaginários, escolho o estádio mais parecido com o nosso lindo Restelo e faço várias partidas contra o Nacional da Madeira. Isto promete... 5-2 em jogos, para o Belenenses.

18h: 20m
Saio de casa em direcção a Belém julgando que os 55 minutos que faltam para o início da partida são mais que suficientes para chegar do Parque das Nações ao Restelo, seguindo sempre pela Marginal.

Quatro quilómetros depois....uma realidade assustadora. A marginal está completamente entupida. Meu Deus e agora (será que esta gente vai ver o jogo? LOL)? Não tenho forma de sair daquela fila. Vou perder o início do jogo. O desespero abarca-se numa questão de segundos. Como qualquer português julgo-me mais esperto que os outros; meto-me pelo interior da Baixa, tentando contornar a interminável fila de carros.

Imediatamente apercebo-me que esta gente não vai ver o jogo (Duhhh...), mas sim tratar das compras de Natal... na Baixa..!! Completamente entupida! O desespero passa a uma raiva desmedida contra todos os cidadãos e contra a minha própria estupidez. Durante muitos minutos grito todos os piores palavrões possíveis, embora ainda hoje não saiba contra quem. Bato no volante do carro com toda a força, enquanto os restantes condutores olham para mim com receio.

Sete minutos antes do começo do jogo consigo sair da Baixa; o caminho até ao Restelo está desimpedido. Sou um defensor das leis mas sou forçado a andar a 110 Km/h em plena marginal.

19h. 17m - 2 minutos de jogo
Entro no habitual sector 04, rapidamente me apercebendo que já perdi um grande momento. Os jogadores trouxeram consigo uma faixa expressando “Belém até morrer”. Que falha, em 20 anos de memória que tenho de futebol nunca tinha visto tal coisa no Restelo...

A bola rola...sentado ao lado do meu pai noto que alguma coisa está diferente. A ansiedade sentida pela equipa nos últimos jogos foi substituída por uma desmedida vontade de vencer. Os jogadores correm todo o campo, lutam até ao fim em cada embate como se a sua vida disso dependesse. Contudo, cedo uma bola nos coloca em sentido, com mais uma brilhante defesa do nosso imperador. Pouco depois, numa excelente jogada do nosso ataque, Meyong faz a bola passar a rasar o poste. Nem quero acreditar que esta bola não entrou.

Poucos minutos depois desta jogada um pensamento estranhamente certo assalta-me de novo a cabeça (o terceiro do dia): “Vamos ganhar este jogo, não sei muito bem é como, nem quando, mas vamos com toda a certeza ganhar este jogo, será só uma questão de tempo”.

Pouco depois do apito para início da 2.ª parte, sem eu lhe perguntar nada, o meu pai trata de me esclarecer parte da dúvida que permanecia: “Filho, vamos marcar o golo pouco antes do fim, assim não dá tempo ao Nacional para recuperar”. Como o meu pai é que sabe, nem pestanejei.

Assim, aos 80 minutos continuo com a minha certeza que tem tanto de inexplicável como inabalável. "Vamos ganhar este jogo, não sei é muito bem como (apesar de já saber quando)".

20h : 58m - 86 minutos de jogo
Parece-me Rui Ferreira que vai pela meia esquerda, aquele poço de força regressado ao nosso meio campo. No interior da área estão cerca de 4 jogadores do Nacional. Dentro deste aglomerado, está o Camaronês Meyong. Rui Ferreira num jeito um pouco atabalhoado cruza a bola, Meyong em esforço desfere um primeiro remate que parece embater num defesa, a bola sobra para outro defesa.

Neste momento, desaparece a última dúvida que permanecia. Ao tentar aliviar o perigo, a bola embate com estrondo em Meyong e encaminha-se vagarosamente para a baliza. Aquele meio segundo parece interminável. O guarda redes lança-se para tentar evitar o pior...........tudo pára num milésimo de segundo..............até que........ GOLO!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! Nem dá para acreditar, a bola entra!!! Os 1.500 adeptos soltam um Broaaahh de raiva que se ouve no outro lado do Tejo!! Já ninguém tem dúvidas, a vitória arrancada a ferros é nossa e ninguém nos vai tirar!!!! Poucos minutos depois o jogo termina com a confirmação da nossa alegria que há tantos jogos não surgia no Restelo!!!!

Acima de tudo foi uma vitória não tanto do poder, mas sim do querer, essa curiosa força mental que tantas vezes faz milagres como o deste dia. As pessoas saem do Restelo com uma descontracção visível, muitas mulheres descansam porque sabem que esta semana será com certeza mais alegre para os seus maridos.

Quanto a mim, ainda vou a uma sessão de cinema ver o Harry Potter (sem comentários). O meu estado de espirito é tão relaxado que adormeço no cinema cerca de 10 vezes.

Domingo, 04h : 30m da manhã
O Nókia dá o “ti ti” da SMS...A esta hora não pode ser coisa boa... Confirma-se, é daquelas mensagens que põem qualquer homem em sentido, quando ouvimos o “não me sinto segura”. O teor da mensagem é grave, não pode ser levado de ânimo leve e tem de ser resolvido nos próximos dias.

Contudo, e em jeito de socorro, um último pensamento deste dia me abraça naquele momento....:

O Belém ganhou.




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