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Meninos de Cristal – Parte I



Desengane-se quem ao ler o título do artigo que verá aqui mais uma crítica aos jogadores profissionais do meu clube. Desengane-se também quem julga que vou passar mais um cheque em branco às suas últimas e miseráveis exibições. E atenção que eu escrevi exibições e não resultados.
Após mais a derrota em casa frente ao Marítimo muitas têm sido as vozes que criticam tudo um pouco desde os jogadores, ao treinador, a SAD e a Direcção. Eu tenho sido uma delas. Não tenho poupado nada nem ninguém.Serão as críticas merecidas? Eu respondo que nas actuais circunstâncias são. E as minhas até têm sido leves. Tenho tentado evitar uma crítica mais pessoal falando sempre no geral dirigindo-me aos jogadores, à SAD e à Direcção. Não o fiz relativamente ao treinador porque este é um indíviduo e não uma pessoa colectiva.
Quero no entanto fazer uma nota sobre o que aconteceu quando li esta semana no diário desportivo “O Jogo” as suas afirmações onde dizia “que se o problema era jogar em casa passariam a jogar fora do Restelo”. Critiquei-o e muito porque tais afirmações são um insulto grave e acho que seriam passíveis de despedimento com justa causa pela entidade empregadora. São uma falta de respeito para quem lhe paga o ordenado. E pouco me interessa que José Couceiro seja o sócio 7000 e tal. Aliás o seu não retratamento ou explicação perante tais declarações levar-me-iam caso estivesse em Portugal a pedir uma AG Extraordinário para o expulsar de associado do clube perante tão má educação e arrogância perante os restantes associados.
Feito este aparte, retomarei a minha crónica intitulada “Meninos de Cristal” explicando o título. Escolhi este título ao lembrar-me daqueles “biblots” que todas as mães têm e que resolvem por a salvo dos filhos traquinas. É que toda a atitude do clube e da SAD (fazendo de “mães”) perante os associados (“os meninos traquinas”) no que respeita aos jogadores (“os meninos de cristal”) faz-me lembrar exactamente algumas histórias de infância...
Como alguns de vós sabem eu vivo na Alemanha e aqui o contacto entre os adeptos e os jogadores é bastante incentivado pelos clubes. Não só no caso concreto dos clubes principais da minha cidade (Hamburgo e St.Pauli) mas um pouco por toda a Alemanha sem excepções tanto que eu saiba.
No meu clube passa-se exactamente o contrário.
E começa logo por estranhamente por o enquanto Clube de Futebol “Os Belenenses” não ter, ao contrário do que acontece com o andebol e o basquetebol, um site dedicado exclusivamente a esta modalidade.
Mas porquê a tal página da internet? Bem, serviria por exemplo para informar os associados sobre o dia a dia da modalidade que é a razão do associativismo da maior parte dos sócios.
Eu por exemplo quando me desloco a Portugal e uma vez que os jogos que tenho possibilidade de ver são poucos tento ver alguns treinos. Pois bem, a informação sobre o dia, as horas e o local do treino parecem-me sempre algo de super-secreto ou que só é disponibilizado aos sócios pelos meios de comunicação social escritos. E todos nós sabemos o tratamento discriminatório a que somos sujeitos por parte destes (e de outros) media. Seria um serviço fácilmente implementado.
Outro ponto interessante seria a colocação das datas e horas dos jogos do futebol juvenil bem como dos resultados e classificações dos mesmos (isto já chegou a ser feito anteriormente mas ultimamente tem sido feito de forma bastante irregular).
Parece que o clube tem necessidade de proteger os jogadores dos seus associados.
E este afastamento não só é prejudicial aos associados como o é também aos jogadores e em última instância ao clube. Passo a explicar.
É prejudical aos associados porque para muitos de nós que gostamos de futebol temos uma certa tendência em ver os jogadores como ídolos pela função que desempenham. Este tal afastamento pode ser (é) facilmente transformado numa sensação de arrogância por parte dos jogadores em relação aos adeptos. Ora, eles podem desempenhar funções que podem ser (ou seriam no meu caso e dos leitores mais maduros) as nossas profissões de sonho mas são homens como nós (perdoem-me as senhoras que estão a ler este artigo). Alguns tímidos, alguns extrovertidos mas felizmente poucos deles serão arrogantes.
Por outro lado leva a que os associados cada vez menos se identifiquem com os jogadores e os tomem em situações mais extremas como “mercenários que estão ali a ganhar milhões e que estão-se a cagar para os sócios e adeptos querendo apenas o dinheiro no final do mês”.
Este ponto é não só uma desvantagem para os adeptos como o é também para os os próprios jogadores. Ninguém gosta de ser etiquetado de tal forma.
E este afastamento leva também a uma visão de um jogador máquina. Alguém que deixou de ser humano e que não tem sentimentos, preocupações, alegrias, tristezas, enfim toda a panóplia de sensações que um ser humano tem. Esta visão é extremamente prejudicial aos jogadores especialmente no caso, como está neste momento a acontecer, dos resultados serem negativos e das exibições serem no mínimo sofríveis. Leva a uma maior incompreensão por parte dos adeptos dos erros do profissional “humano” que se encontra numa situação de exame perante milhares ou milhões de (tele)espectadores. Ora todos nós já fizémos exames na nossa vida e sabemos o quão mais à vontade nos sentimos se conhecermos melhor os nossos examinadores.
Por todas estas razões a pressão que os associados fazem sobre os jogadores e as direcções aumenta levando a despedimentos ou dispensas perfeitamente evitáveis.
Um caso ainda mais evidente desta pressão e do rendimento negativo acontece a jogadores estrangeiros, muitos deles miúdos de 20 e poucos anos, que pela primeira vez se encontram fora do país e fora do alcance da sua família levando apenas e só ao deterioramento do seu rendimento devido a uma quebra psicológica. Esta é, no meu entender, a razão pela qual o clube falhou redondamente em cerca de 95% das aquisições de jogadores no mercado internacional.
Mais uma vez não gosto de criticar sem apontar soluções. Mas como o artigo já vai longo deixarei as medidas que proponho para um outro post que sairá no próximo dia 6.



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