O filme da inauguração do restelo
Este post vem com algum atraso... algo que, entre outros aspectos (como a escolha do próprio assunto), desagradará por certo a muitos leitores. Mas enfim... mantive a intenção de escrever algo sobre o DVD que o Clube colocou à venda com a inauguração do Restelo, agrade a quem agradar e independentemente de quem o fez ou quem o promoveu ou de quaisquer outras questões da vida do Belenenses. Faço-o porque entendo que é de facto um documento histórico deveras interessante, sobretudo para os que gostam de conhecer a nossa história com detalhe (e sem ligar a outros detalhes). Isso não significa que todos os que amam o Belenenses tenham de gostar também, isso é com cada um.
Vou aqui tentar deixar um resumo... e quem achar que merece a pena, pelo menos fica informado!
Mas antes de passar à descrição e "crítica cinéfila" do conteúdo do filme, gostaria de fazer alguns comentários técnicos:
1 - Trilha sonora: na introdução do filme são referidos créditos de locução (a cargo de Baptista da Silva - presumo que seja o Major), de som e de montagem musical, que obviamente não correspondem aos da trilha sonora do DVD, que é composta por dois temas musicais recentes. É de facto uma pena que não tenhamos também acesso ao som original, mas não é de todo verdade que o som original tenha sido "apagado" deliberadamente. E afirmo-o não por saber como foi feito o DVD (desconheço por completo quem e como o fez), mas por conhecimentos técnicos mínimos. Com efeito, e para os que não saibam, naqueles tempos e ao contrário do que sucedeu depois com as cassetes de vídeo e os DVD's, naquela época (e durante muitos anos mais) a trilha sonora era gravada em suporte separado, sendo sincronizada a sua reprodução aquando da reprodução do filme (da "fita" propriamente dita). Repito, é pena que não se tenha recuperado essa trilha sonora, mas muito provavelmente não terá sido encontrada, ou poderá estar bastante danificada. Aliás, nem sei onde estava esta película, desconhecia em absoluto da sua existência e só por si foi uma exclente surpresa saber que de facto existia (alguns se calhar não se lembram ou não imaginam bem como eram as coisas em 1956)...
2 - Côr: esta foi a segunda boa surpresa. O filme é colorido e é muito provavelmente a colorização original, uma vez que não evidencia algumas das falhas mais básicas (embora cada vez mais ténues) dos actuais processos de colorização por computador. Além de que este tipo de processos, dada a antiguidade e singularidade do filme, seria demasiado moroso e dispendioso, e serviria também para corrigir outras falhas, (que são as que refiro no ponto seguinte).
Para já, a cor que ali se vê (o nosso azul, os grandes jogadores, o mar de gente) é bem agradável de ser ver. E basta pensar nas imagens tantas vezes repetidas do Mundial de 66. Temos o jogo com a Inglaterra, a cores, mas a qualidade destas, passados 10 anos sobre o "nosso" filme, não é muito melhor. E depois temos os outros... a preto e branco (ainda, 10 anos depois! - com as imagens do jogo com a Coréia do Norte, referência que nada tem a ver com aquele assunto actual).
3 - Qualidade de imagem: a qualidade da imagem não é de facto das melhores. Mesmo descontando o facto de o filme ser de 1956, os "riscos" e poeiras visíveis são os que são frequentes em películas que não foram conservadas em condições ideiais nem sofreram qualquer processo de restauração exaustivo.
4 - "Layout" do DVD: quanto ao "layout" do DVD, é sem dúvida "minimalista"... A capa está bem, mas alguma informação no interior não seria difícil e seria útil (não digo um livro, mas pelo menos um sumário), bem como alguma referência, mínima que fosse, na face estampada do disco em si (que está em branco).
Não sei, disto, o que poderia ou não ser demasiado caro ou não tenha sido possível por eventual falta de tempo. Penso que possa ser esta última razão, e com maior antecipação creio que se poderia ter feito melhor...
No entanto, e continuando a escrever para os "taradinhos" pela história, estes detalhes não passam disso mesmo, e perdem qualquer importância perante o que se vê, para além de que nestas últimas décadas a divulgação de quaisquer documentos históricos ter sido praticamente um deserto (1 livro, em mais de 10 anos - obra de Barros Rodrigues).
Vamos então abrir o apetite!
Começa o filme com uma vista da paisagem a Sul do Estádio (talvez a parte da fita com pior qualidade de conservação, o que chega a assustar... mas como é a "ponta" da fita, felizmente o resto dela está bem melhor!!!). Desde logo são de notar algumas curiosidades com certa graça. Quem procurar a Ponte sobre o Tejo, não encontra nada - só seria iniciada a sua construção 6 anos depois (sendo concluída só 10 anos depois, em 1966). Em contrapartida, quem procurar o Cristo-Rei, também não o encontra propriamente - mas então?... - mas encontra já o pedestal! Com efeito, a contrução deste (iniciada em 1950) foi concluída precisamente no final de 1956, enquanto o monumento final (com a imagem) veio a ser inaugurado 3 anos depois...
Seguem-se planos do Estádio acabado de fazer, logo antes da inauguração (ainda vazio). Ainda hoje, e mesmo sem cadeiras, imponente!
Depois vem um momento verdadeiramente mágico... as imagens passam para as Salésias, onde o Presidente Pascoal Rodrigues conduz a cerimónia de homenagem no Monumento ao Pepe (que só mais tarde passaria para o Restelo). Ali, vê-se o muro do Estádio, a bancada coberta dos sócios, o relvado, aquilo que desapareceu, a grande obra nossa que nos estragaram a troco de nada!
Dali vê-se partir e acompanha-se o cortejo para o Restelo, numeroso, ainda que afectado pela chuva que caía naquela altura..
A cena seguinte é o hastear da bandeira no novo Estádio, com a "guarda-de-honra" composta por ciclistas do Clube. Uma bonita imagem (que só conhecia a preto e branco).
Seguem-se algumas condecorações e a chegada das grandes "figuras" (ai com estavam ainda os terrenos a Sul...).
Depois temos uma imagem geral do Estádio pronto para a cerimónia - só não estava cheio porque havia partes reservadas não preenchidas (na bancada nascente)... e
o acto da condecoração do nosso Estandarte pelo Presidente da República (visto de um ângulo "novo" para mim, uma vez que a foto mais conhecida e publicada foi tirada à esquerda).
Segue-se o desfile, liderarava uma banda juvenil e depois as delegações dos inúmeros clubes que marcaram presença.
Depois, mais um momento de grande magia. Começa o desfile dos nossos atletas, liderado por Francisco Pereira (sócio fundador e irmão do nosso principal fundador), ladeado por Georgette Duarte e Rui Ramos, os campeoníssimos mais "recentes", enquanto atrás estão Joaquim de Almeida (futebolista "eclético" das nossas "super" equipas dos anos 20/30, grande obreiro das Salésias), Augusto Silva (herói da equipa das Olímpíadas de 1928, verdadeiro sucessor de Artur José Pereira no comando da equipa de futebol, como jogador e depois, como treinador, sendo campeão em 1946 - o primeiro treinador português a conseguir a conquista do Campeonato da 1ª Divisão) e César de Matos (também herói da equipa das Olímpíadas de 1928, o "jogador que voa", um dos "colossos" dos anos 20/30)... ou seja, o glorioso passado do Clube, ali, em movimento... para quem gosta da nossa história, é de dar um nó na garganta!
Sem esquecer outros, se ali estivessem Pepe e Artur José Pereira... não fosse o triste destino...
Prosegue o grandioso desfile de todas as nossas "secções", cada uma apresentada por atletas em cima de "jeeps" (um toque de modernidade!). As nossas cores, o nosso emblema, sempre em destaque (naquela altura não havia "enganos" a esse respeito).
Entram depois os principais artistas, para a principal atracção, o jogo com o Sporting. E mais um momento especial... ver ídolos como o Matateu, Vicente, Di Pace... há uma parte em que filmam apenas o Matateu, a preparar-se... mesmo para quem não soubesse quem era, percebe-se pela pose, pelo possante físico, pelo destaque, que aquele é um "monstro sagrado" do futebol.
Quanto ao jogo em si, temos muito pouco (nem 1 dos 2 golitos que nos deram a vitória), cerca de 2 minutos, quando seria decerto espetacular ver o jogo todo. Mas assim foi feito o filme original... paciência. Na altura se calhar não imaginavam o valor de imagens daquelas hoje em dia...
Nas imagens de acima vê-se o capitão, Raul Figueiredo, cumprimentando o adversário; e José Pereira (o "pássaro azul", "magriço" de 1966), que despeja uma bola...
Termina a parte histórica com uma mensagem do Presidente: "É esta a nossa grande vitória, o triunfo da fé, da vontade e da capacidade realizadora dos belenenses."
Segue-se uma parte moderna, ao som de uma música castiça, sendo toda esta parte assim também simpaticamente castiça. Está bem conseguida, bem montada e dá uma sensação de alegria, dinamismo e jovialidade. Tendo em conta a "depressão" em que estamos, diria mesmo que deve ter sido difícil...
Vê-se as várias modalidades em acção, vários adeptos, a Fúria em grande...
Daqui vai um cumprimento a todos os que se prestaram a gritar "Belém! Belém! Belém" e que aquilo de que quem nos ganha ser "Ninguém! Ninguém! Ninguém!", isso sim, isso é espírito Belenense. Só uma coisa, passemos dos filmes para a prática!
E pronto, cá fica isto. Quem quiser que compre, quem não quiser não compre (e quem quiser comentar comente, quem não quiser, até amanhã ou sirvam-se da barra de links).
Vou aqui tentar deixar um resumo... e quem achar que merece a pena, pelo menos fica informado!
Mas antes de passar à descrição e "crítica cinéfila" do conteúdo do filme, gostaria de fazer alguns comentários técnicos:
1 - Trilha sonora: na introdução do filme são referidos créditos de locução (a cargo de Baptista da Silva - presumo que seja o Major), de som e de montagem musical, que obviamente não correspondem aos da trilha sonora do DVD, que é composta por dois temas musicais recentes. É de facto uma pena que não tenhamos também acesso ao som original, mas não é de todo verdade que o som original tenha sido "apagado" deliberadamente. E afirmo-o não por saber como foi feito o DVD (desconheço por completo quem e como o fez), mas por conhecimentos técnicos mínimos. Com efeito, e para os que não saibam, naqueles tempos e ao contrário do que sucedeu depois com as cassetes de vídeo e os DVD's, naquela época (e durante muitos anos mais) a trilha sonora era gravada em suporte separado, sendo sincronizada a sua reprodução aquando da reprodução do filme (da "fita" propriamente dita). Repito, é pena que não se tenha recuperado essa trilha sonora, mas muito provavelmente não terá sido encontrada, ou poderá estar bastante danificada. Aliás, nem sei onde estava esta película, desconhecia em absoluto da sua existência e só por si foi uma exclente surpresa saber que de facto existia (alguns se calhar não se lembram ou não imaginam bem como eram as coisas em 1956)...
2 - Côr: esta foi a segunda boa surpresa. O filme é colorido e é muito provavelmente a colorização original, uma vez que não evidencia algumas das falhas mais básicas (embora cada vez mais ténues) dos actuais processos de colorização por computador. Além de que este tipo de processos, dada a antiguidade e singularidade do filme, seria demasiado moroso e dispendioso, e serviria também para corrigir outras falhas, (que são as que refiro no ponto seguinte).
Para já, a cor que ali se vê (o nosso azul, os grandes jogadores, o mar de gente) é bem agradável de ser ver. E basta pensar nas imagens tantas vezes repetidas do Mundial de 66. Temos o jogo com a Inglaterra, a cores, mas a qualidade destas, passados 10 anos sobre o "nosso" filme, não é muito melhor. E depois temos os outros... a preto e branco (ainda, 10 anos depois! - com as imagens do jogo com a Coréia do Norte, referência que nada tem a ver com aquele assunto actual).
3 - Qualidade de imagem: a qualidade da imagem não é de facto das melhores. Mesmo descontando o facto de o filme ser de 1956, os "riscos" e poeiras visíveis são os que são frequentes em películas que não foram conservadas em condições ideiais nem sofreram qualquer processo de restauração exaustivo.
4 - "Layout" do DVD: quanto ao "layout" do DVD, é sem dúvida "minimalista"... A capa está bem, mas alguma informação no interior não seria difícil e seria útil (não digo um livro, mas pelo menos um sumário), bem como alguma referência, mínima que fosse, na face estampada do disco em si (que está em branco).
Não sei, disto, o que poderia ou não ser demasiado caro ou não tenha sido possível por eventual falta de tempo. Penso que possa ser esta última razão, e com maior antecipação creio que se poderia ter feito melhor...
No entanto, e continuando a escrever para os "taradinhos" pela história, estes detalhes não passam disso mesmo, e perdem qualquer importância perante o que se vê, para além de que nestas últimas décadas a divulgação de quaisquer documentos históricos ter sido praticamente um deserto (1 livro, em mais de 10 anos - obra de Barros Rodrigues).
Vamos então abrir o apetite!
Começa o filme com uma vista da paisagem a Sul do Estádio (talvez a parte da fita com pior qualidade de conservação, o que chega a assustar... mas como é a "ponta" da fita, felizmente o resto dela está bem melhor!!!). Desde logo são de notar algumas curiosidades com certa graça. Quem procurar a Ponte sobre o Tejo, não encontra nada - só seria iniciada a sua construção 6 anos depois (sendo concluída só 10 anos depois, em 1966). Em contrapartida, quem procurar o Cristo-Rei, também não o encontra propriamente - mas então?... - mas encontra já o pedestal! Com efeito, a contrução deste (iniciada em 1950) foi concluída precisamente no final de 1956, enquanto o monumento final (com a imagem) veio a ser inaugurado 3 anos depois...
Seguem-se planos do Estádio acabado de fazer, logo antes da inauguração (ainda vazio). Ainda hoje, e mesmo sem cadeiras, imponente!
Depois vem um momento verdadeiramente mágico... as imagens passam para as Salésias, onde o Presidente Pascoal Rodrigues conduz a cerimónia de homenagem no Monumento ao Pepe (que só mais tarde passaria para o Restelo). Ali, vê-se o muro do Estádio, a bancada coberta dos sócios, o relvado, aquilo que desapareceu, a grande obra nossa que nos estragaram a troco de nada!
Dali vê-se partir e acompanha-se o cortejo para o Restelo, numeroso, ainda que afectado pela chuva que caía naquela altura..
A cena seguinte é o hastear da bandeira no novo Estádio, com a "guarda-de-honra" composta por ciclistas do Clube. Uma bonita imagem (que só conhecia a preto e branco).
Seguem-se algumas condecorações e a chegada das grandes "figuras" (ai com estavam ainda os terrenos a Sul...).
Depois temos uma imagem geral do Estádio pronto para a cerimónia - só não estava cheio porque havia partes reservadas não preenchidas (na bancada nascente)... e
o acto da condecoração do nosso Estandarte pelo Presidente da República (visto de um ângulo "novo" para mim, uma vez que a foto mais conhecida e publicada foi tirada à esquerda).
Segue-se o desfile, liderarava uma banda juvenil e depois as delegações dos inúmeros clubes que marcaram presença.
Depois, mais um momento de grande magia. Começa o desfile dos nossos atletas, liderado por Francisco Pereira (sócio fundador e irmão do nosso principal fundador), ladeado por Georgette Duarte e Rui Ramos, os campeoníssimos mais "recentes", enquanto atrás estão Joaquim de Almeida (futebolista "eclético" das nossas "super" equipas dos anos 20/30, grande obreiro das Salésias), Augusto Silva (herói da equipa das Olímpíadas de 1928, verdadeiro sucessor de Artur José Pereira no comando da equipa de futebol, como jogador e depois, como treinador, sendo campeão em 1946 - o primeiro treinador português a conseguir a conquista do Campeonato da 1ª Divisão) e César de Matos (também herói da equipa das Olímpíadas de 1928, o "jogador que voa", um dos "colossos" dos anos 20/30)... ou seja, o glorioso passado do Clube, ali, em movimento... para quem gosta da nossa história, é de dar um nó na garganta!
Sem esquecer outros, se ali estivessem Pepe e Artur José Pereira... não fosse o triste destino...
Prosegue o grandioso desfile de todas as nossas "secções", cada uma apresentada por atletas em cima de "jeeps" (um toque de modernidade!). As nossas cores, o nosso emblema, sempre em destaque (naquela altura não havia "enganos" a esse respeito).
Entram depois os principais artistas, para a principal atracção, o jogo com o Sporting. E mais um momento especial... ver ídolos como o Matateu, Vicente, Di Pace... há uma parte em que filmam apenas o Matateu, a preparar-se... mesmo para quem não soubesse quem era, percebe-se pela pose, pelo possante físico, pelo destaque, que aquele é um "monstro sagrado" do futebol.
Quanto ao jogo em si, temos muito pouco (nem 1 dos 2 golitos que nos deram a vitória), cerca de 2 minutos, quando seria decerto espetacular ver o jogo todo. Mas assim foi feito o filme original... paciência. Na altura se calhar não imaginavam o valor de imagens daquelas hoje em dia...
Nas imagens de acima vê-se o capitão, Raul Figueiredo, cumprimentando o adversário; e José Pereira (o "pássaro azul", "magriço" de 1966), que despeja uma bola...
Termina a parte histórica com uma mensagem do Presidente: "É esta a nossa grande vitória, o triunfo da fé, da vontade e da capacidade realizadora dos belenenses."
Segue-se uma parte moderna, ao som de uma música castiça, sendo toda esta parte assim também simpaticamente castiça. Está bem conseguida, bem montada e dá uma sensação de alegria, dinamismo e jovialidade. Tendo em conta a "depressão" em que estamos, diria mesmo que deve ter sido difícil...
Vê-se as várias modalidades em acção, vários adeptos, a Fúria em grande...
Daqui vai um cumprimento a todos os que se prestaram a gritar "Belém! Belém! Belém" e que aquilo de que quem nos ganha ser "Ninguém! Ninguém! Ninguém!", isso sim, isso é espírito Belenense. Só uma coisa, passemos dos filmes para a prática!
E pronto, cá fica isto. Quem quiser que compre, quem não quiser não compre (e quem quiser comentar comente, quem não quiser, até amanhã ou sirvam-se da barra de links).