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Processo de Detecção de Talentos.



Por Sandro Medeiros, treinador de futebol

A Palavra Talento transporta-nos de imediato para um patamar de excelência, e no futebol, talentos são crianças ou jovens geralmente em idades precoces, que identificadas por pessoas qualificadas são capazes de apresentar desempenho, qualidades e capacidades excepcionais.

Essas qualidades não devem ser exclusivamente de ordem técnica, apesar de muitas vezes se olhar para a habilidade, para o jeito com bola do jovem praticante, hoje em dia existem mais indicadores de desempenho a ter em conta. As qualidades físicas e psicológicas entram cada vez mais no processo de selecção e avaliação de talentos. Jorge Griffa, mítico Caçador de talentos Argentino diz mesmo que "a Técnica continua fundamental, mas agora ela é só um ponto de partida."

A selecção de talentos é por isso uma avaliação dos vários indicadores de desempenho do jovem praticante que nos permitem que se possa calcular a médio longo prazo se este irá atingir um patamar de excelência e de qualidade numa determinada função.

Cada vez detectados mais precocemente devido ao elevado numero de pessoas denominados Observadores, ou em alguns casos de uma forma mais depreciativa chamados de Olheiros que procuram de uma forma organizada o Talento.

Ligados na maioria das vezes a um clube ou a empresários, são pessoas por norma com um passado ligado ao futebol, e a sua procura pelos talentos muitas vezes contraria a ciência julgando apenas o jovem praticante pela sua qualidade e pela antevisão do que ela irá atingir enquanto rendimento potenciado.

Surgem aqui as mais diversas histórias dos mais notáveis Observadores como o já falado Jorge Griffa que contra tudo e todos contratou um rapaz gordinho e pouco coordenado que todos achavam não ter capacidades físicas e técnicas suficientes. Griffa ficou célebre por ter marcado posição neste caso com a célebre frase "Ninguém mete quatro golos por acaso!". O Talento desse jovem jogador e o tempo vieram dar razão a Griffa e à sua descoberta de seu nome Gabriel Omar Batistuta.

Assim como este caso muitos outros existem, de talentos descobertos precocemente ou já mais tarde, como o caso de Cafú que só ao fim de 9 treinos de Captação foi escolhido por um dos Observadores para entrar no São Paulo.

Estas redes de Observadores procuram de uma forma organizada e selectiva o Talento, e cada vez mais ele surge em idades precoces, surge na ausência do denominado "Futebol de rua" em Escolas de Futebol que proliferam cada vez mais e em maior numero, e nos clubes que de uma forma organizada competem, dando assim possibilidade a essas redes de Observação de poderem Observar e Avaliar os possíveis Talentos em competição e em diferentes momentos.

Apesar de toda a subjectividade que esta escolha pode ter, hoje em dia já é possível de uma forma mais cientifica prever certos indicadores como a altura em idade adulta ou a idade maturacional.

No entanto é através da qualidade do Observador que passa a principal decisão e é através dele que a primeira informação chega á Estrutura principal. Nos diversos campeonatos, nos treinos das suas equipas os Observadores têm a responsabilidade de avaliarem o Talento nos diversos indicadores de desempenho do jovem atleta para poderem efectuar um prognóstico com a capacidade do mesmo e preverem dessa forma até onde a qualidade do jovem praticante pode ir.

É essa capacidade que faz de homens como Bob Bishop responsável por detectar o Talento de George Best autênticas lendas num trabalho onde existe cada vez mais concorrência e menos lealdade na descoberta do Talento.

A descoberta do Talento nem sempre é feita em idades precoces e em alguns casos só mais tarde é reconhecido talento ao praticante, muitas vezes só depois de ser observado por alguém com capacidades superiores é que esse Talento é visível, e não são raros esses casos de jogadores que só atingiram um nível de excelência mais tarde. Eric Cantona foi um desses exemplos, um talento que apareceu tarde e que nos privou durante muito tempo da sua magia.

Pois o talento apesar de estar no praticante e ser muitas vezes considerado uma qualidade inata também é, e deve ser estimulado, para poder ainda mais sobressair. Estímulos correctos e que apresentem desafio, estímulos que façam o jogador crescer e evoluir ainda mais são necessários, estímulos que não limitem o crescimento do jogador em prol de um grupo ou de objectivos.

Este tem sido um dos grandes problemas para a cada vez maior massificação de jogadores de futebol bons tacticamente mas sem magia para levantarem espectadores dos estádios. O Talento existe, está lá mas não se pode revelar para não colocar em causa objectivos colectivos que determinam o sucesso ou insucesso de clubes/empresas.

Aos Talentosos poucas chances são dadas para porem em prática aquilo que sabem fazer melhor, pois os estímulos incorrectos acabam por reprimir o talento.

São obrigados a passar quando têm sucesso no drible, desgastam-se em tarefas defensivas quando são geniais nas ofensivas, são obrigados a passar a bola quando poderiam progredir no terreno espalhando magia em cada drible ao adversário. Rematam de mais perto pois de longe são obrigados a circular a bola em acções ofensivas insípidas.

Assiste-se constantemente ao treino táctico com rotinas de jogo que limitam o Talento, com rotinas onde a tomada de decisão está previamente estabelecida não deixando por isso margem de criatividade ao Talento.

É pois por isso cada vez mais difícil encontrar talento, ou potencializar talento, pois o treino e o modelo de jogo está a terminar com os nossos artistas, com os Talentos!

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