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Mudar as Mudanças - Parte II



No primeiro artigo desta série fiz, de forma algo resumida, um “desenho” da nossa SAD (do futebol - a única, por enquanto), sugerindo alguns dos princípios pelos quais se deve reger. Fi-lo com o entendimento que – para mim – o futebol é o centro vital do Belenenses, considerando que têm sido as deficiências (ou insuficiências) da sua gestão ao longo dos anos as principais causas para o permanente fracasso do Clube em corresponder com os seus desígnios fundamentais e os anseios da esmagadora maioria dos seus adeptos.
Sublinhando de novo as linhas-mestras desta minha “ortodoxia”, foi o futebol que fez do Belenenses um Grande, tal como os seus fundadores sonhavam. Foi o futebol que fez milhares de adeptos vibrar com a Cruz de Cristo pelo país e pelo mundo fora (por vezes em tempos muito difíceis). E é pelo futebol que voltaremos a ser mesmo Grandes, como grandes que são os maiores clubes europeus de futebol (note-se).
Por outro lado a perenidade de todos estes anos de fracasso (ou sucessos relativos) não reside nos jogadores ou técnicos, obviamente. Estes têm entrado e saído, muitos com provas dadas antes e até depois (o que é mais grave) da sua passagem pelo Belenenses. No Belenenses tarde se percebeu o que são jogadores profissionais (se é que que se percebeu completamente – eu diria que não). E agora tardamos em perceber a diferença entre um clube desportivo e uma organização (designada e formada como SAD, neste caso, mas poderia ser outra qualquer) competitiva para o futebol profissional.
Recomendo uma leitura do primeiro artigo (se ainda não a fez, clique aqui para abrir numa nova janela), pois este poderá parecer descabido. E se não tem comida e bebida por perto, arranje-as e sente-se, que isto vai levar tempo (peço desculpa!). Recomendo igualmente (e em geral) a impressão dos artigos mais longos, facilitada (e mais curta) uma vez abertas as páginas individuais dos artigos (como o link do artigo anterior ou a opção "Abrir página do artigo")

Um manifesto – Parte II

Neste artigo pretendo exemplificar mais em detalhe muito do que referi do artigo anterior. É uma sequência, mas gostaria de realçar que esse primeiro artigo é mais importante e o mais pertinente como “manifesto”, isto é, como mensagem forte para os respectivos destinatários. Comecei, por assim dizer, com as “fundações”. Ou por outras palavras, pretendi começar... pelo princípio, pela matriz, a partir da qual se pode ajuizar sobre questões mais específicas, “condimentadas” com outros aspectos técnicos que no meu entender não devem ser necessariamente ditados por nós, “treinadores de bancada” ou “gestores caseiros”. Por exemplo, recomendar que se contrate ou jogue o jogador A ou B, o treinador C ou D ou os jogadores do clube E ou F, do país G ou H nos termos I ou J, não deveria ser ponto eleitoral, uma vez que deveria ser preocupação maior a existência de uma estrutura clara, racional e eficaz, assumida por pessoas competentes, criteriosas e responsáveis (e responsabilizadas) em cada uma das áreas de actuação. Por outro lado pode ser precipitado julgar certas decisões do actual elenco (ou de elencos passados) sem conhecer com precisão quem, como e porquê as tomou. Antes de enveredar por uma escolha, há que assegurar que todas as alternativas estão em cima da mesa, analisadas por todos os prismas, pesados os prós e os contras. E isto funciona para o bem e para o mal, se é que me entendem.

Equipas de futebol, SAD – “Variações” sobre o tema

Começando por “baixo” (com todo o respeito) e tal como referi no outro artigo, uma das “ferramentas” actualmente fundamentais para manter a coesão e a coerência no seio de uma equipa de futebol é o Código de Conduta. Não é uma declaração de princípios, é um anexo o mais vinculativo possível aos contratos profissionais, prevendo sanções claras e de aplicação uniforme. Deve promover um equilíbrio entre uma disciplina rigorosa e a justiça, sem no entanto cair em arbitrariedades ou condicionalismos extremos desfasados do que é a realidade do Clube e da equipa. E aí deve ser sublinhado que muitas situações são fruto de circunstâncias propiciadas pelos próprios responsáveis e não pelos jogadores ou técnicos. Mas nesta questão do código e pela mão de Rui Casaca (e Carlos Carvalhal?) creio que já tivémos progressos sensíveis.
Casos “práticos”?
A questão do jogador César Peixoto, pela negativa, abriu graves precedentes.
A questão das declarações dos jogadores emprestados, a meu ver, são naturais e antes de censurados os jogadores, que seja questionado o responsável pela contratação maciça e temporária de jogadores de clubes adversários (ou que queremos que sejam adversários).
A questão do jogador Brasília, pelo contrário, pareceu-me positiva. Por vezes é difícil tomar partido quando se tratava de um jogador aparentemente honesto, empenhado e interessante tecnicamente. Por outro lado o treinador não parecia ter (e não parece ter ainda) a simpatia suficiente dos adeptos para contar com um apoio incondicional. Mas quem decide, deve decidir... isto é, não pode deixar as coisas andar. Caso contrário pode prejudicar o “balneário” e diminuir drasticamente a autoridade do treinador, que tem de ser preservada. A menos que se entenda que o treinador não tem razão, hipótese cuja sequência natural só poderia ser uma (a demissão do mesmo). Por outras palavras, ou era Brasília ou era Carvalhal. E atendendo a todos os compromissos e ao projecto que bem ou mal existe, creio que se fez a opção correcta.
Outros casos terão ocorrido em que o exercício da autoridade não foi claro e terá sido ineficaz. Enquanto existir confiança da SAD num determinado técnico, a palavra deste deve estar sempre acima da de qualquer jogador (e até de outro membro da equipa técnica). Quando não existir essa confiança, demita-se o “mister”.Agora querer que este mande na equipa quando se tolera (e até fomenta) a desobediência, é dar tiros nos pés.
Já tivémos situações ainda mais caricatas, em que o responsável X da SAD garantiu a continuidade de certo “mister”, enquanto o responsável Y já preparava a vinda de outro técnico. O resultado visível foi a saída de Vítor Oliveira, dizendo que com aquela SAD não se entendia (e de facto poucas SAD’s existirão assim). Quanto ao plantel, poderemos imaginar a imagem com que ficaram do Clube. Quem não ficaria?

Continuando, referi também no primeiro artigo a questão dos objectivos. E aqui creio que temos muito por fazer. Embora seja natural que não saibamos tudo o que está posto em prática (e o segredo nestas coisas é salutar), o que tem sido visível é que o alcance e a adequação das políticas de objectivos deixam muito a desejar. Uma vez ficámos a saber que se queria um 5º lugar, sem que o orçamento, a filosofia, o balneário e a política de contratações fossem minimamente consentâneos com esse objectivo. Pede-se a repetição de proezas de outrora quando aos próprios responsáveis falta quase tudo o que tinham os responsáveis desses tempos: ambição e intervenção. Quando falo em intervenção não falo nuns quantos berros ou murros na mesa no balneário da equipa. A legitimidade e a credibilidade para que tais procedimentos sejam eficazes depende de muito mais coisas. É preciso por exemplo que essa veemência e rigor se façam sentir nas instâncias do futebol. Não podem querer que os nossos jogadores sejam “lobos” quando os dirigentes adoptaram como apêndice definitivo uma pele de cordeiro, perante os outros clubes, a Liga, os adeptos e, porque não, a sociedade em geral.
E se parece que nos nossos dias não conseguimos “capturar” o que de bom - e aproveitável - teve o nosso passado, insistimos por outro lado em certas posturas e procedimentos que são desfasados da realidade do futebol actual. Não chega mostrar a Sala de Troféus e repetir ladaínhas sobre o Pepe ou o Matateu (grandiosos no seu tempo, que ninguém duvide). Seria quase o mesmo levar certos empresários nacionais a contemplar o Mosteiro dos Jerónimos e com isso esperar a sua inspiração para, à semelhança dos tempos idos, elevar de novo Portugal ao estatuto de potência mundial. Não se pense porém que da grandeza passada transpiram apenas ilusões (no sentido bem português do termo, para que não hajam equívocos). Mas aqui a mensagem principal é para os adeptos e os responsáveis. Não queiram acordar todas as manhãs a olhar para um recorte de jornal (de 1946, emoldurado na parede) e pensar: “o meu clube é um Grande Clube, isso ninguém nos tira. Se hoje não ganharmos, paciência”. Não olhem a nomes (muitos já falecidos), nem a métodos de outros tempos. Assumam o principal: A META. O Belenenses não pode ser um “grande” com prazo de validade ultrapassado. Isso, quer gostem quer não, já não é ser grande. É ser um grande “estragado”.
Mas voltando à questão dos objectivos, todos os elementos da SAD devem ter os seus. Objectivos que devem ser escrupulosamente controlados. E cada elemento da SAD deve ter presente o rumo, definida a estratégia e as medidas (e também os eventuais obstáculos) que o separam do cumprimento desses objetivos. No momento de aceitar essas metas e reptos, é caso para dizer: diga sim ou cale-se para sempre.

E daqui passamos para a análise de um cargo que no futebol de hoje é central: o Director (no nosso caso, falo director-geral). Este deve ter ampla perspectiva E autoridade sobre todo o “universo” das nossas equipas. Com o apoio do Director técnico deve gerir tudo o que seja relacionado com a equipa profissional de futebol. Deve estabelecer objectivos à equipa técnica (neste caso desportivos) e controlar o seu cumprimento. Em colaboração com esta deve estabelecer também objectivos para os jogadores. Mas relembrando o que referi acima, deve saber onde começa a autoridade – e também a responsabilização – do treinador.
Como também referi anteriormente, o DG deverá ser também o homem-forte na coordenação da prospecção e formação/camadas jovens. Não faz sentido que seja de outra forma, isto é, que tanto a prospecção como a formação existam como “corpo” independente com objectivos parcialmente dissociados ou desajustados da gestão da equipa principal. O principal objectivo destas, se é que alguma vez não ficou claro, é receber, formar e permitir lançar jogadores de valor para a equipa principal. Não é sermos campeões nas camadas jovens para logo dispensar a maioria porque consta que gostam de diversão ou disseram que têm outro clube no coração. Miúdos com menos de 18 anos não se podem formar por si, a nossa formação tem que ser isso mesmo, uma escola integral, onde se formem bons atletas e homens responsáveis. A responsabilidade de um clube de futebol é enorme neste aspecto, não pode ser uma brincadeira. A grande maioria dos jovens abdica de estudos e de outras oportunidades de trabalho para enveredar numa carreira onde a glória é difícil e traiçoeiramente efémera. Assim sendo não tenho pejo em dizer que um clube tem, nestes aspectos, um papel ao nível da família ou do próprio Estado. E o apego dos próprios jovens ao nosso emblema será proporcional, não duvidemos, à medida em que o Clube tenha sido capaz de os formar adequadamente (e de novo não bastam livros de história).
Assim sendo o DG e os Directores dos departamentos em causa devem levar a cabo um trabalho coordenado e sinérgico. Também reconheço que já muita coisa foi feita, da qual destaco a questão do Lar do jogador, sem o qual o Belenenses se via privado de aliciar jovens de paragens pouco mais distantes. Pela negativa estranhei a dispensa de um técnico que teve bastante sucesso. É que a razão aparente foi a de ter apontado todas as carêncisa do Clube nesta área. É certo que os jornais não são o melhor sítio para discutir assuntos do foro interno, mas também é certo que a preocupação com essas carências só se tornou evidente depois dessas denúncias. Pelo que vejo ser tornado público...
Por outro lado e repousando a palavra maior na figura central do DG poderão ser evitados conflitos entre “prospectores”, “formadores” e até outros elementos que insistam em intervir na formação do plantel profissional a seu bel-prazer. E aqui sou extremamente crítico para com as contratações promovidas por presidentes e/ou dirigentes não especializados. Em analogia do que disse para o técnico, se uma SAD não está confiante de que tem um grande e competente entendedor do “mundo da bola” como Director-Geral, mais vale destituí-lo. Só em casos muito excepcionais aceito sem reservas que outros dirigentes interfiram e estabeleçam vínculos que deveriam ser da competência do DG. E mesmo assim e no mínimo deveria ser consultada a sua concordância. Porque ao DG os responsáveis devem dar e querer em troca coisas muito simples. Dão o orçamento (e vigiam o seu cumprimento) e exigem objectivos genéricos sobre a equipa principal (X lugar, presença nas competições europeias, por exemplo), a propecção (lista de jogadores referenciados, por exemplo) e a formação (conseguir lançamento de um número razoável de jovens jogadores, por exemplo).
Se porventura existir algum dirigente que por circunstâncias especiais seja afinal um grande entendido nas matérias em causa, não ponho de parte que possa colaborar mais activamente, mas para mim isso é muito, muito raro. Pelo contrário, as nossas últimas décadas provam que é preciso muita sorte para que haja um dirigente “pastel” com conhecimentos suficientes e adequados. E mesmo que haja, repito, deve trabalhar “unha com carne” com o DG, esse sim, o especialista (com provas dadas a nível nacional, no mínimo). E os especialistas pagam-se, claro, pelo que a profissionalidade do DG, por esta e por muitas mais razões, deve ser um dado adquirido.

Manifesto o meu agrado em relação à manutenção de Rui Casaca, publicitada por um candidato e previsível no caso de outro. Não é um homem que tenha conseguido um “brilhante” 7º lugar do Belenenses em 1900 e tal e meio, não é um dedicado seccionista que até conseguiu ser campeão azul no berlinde em 1142. É um homem que integrou como jogador uma equipa de futebol vencedora, habituada a “pisar” nas últimas décadas os calcanhares dos três de forma consistente (outras questões à parte). É um homem que posteriormente integrou a estrutura principal de clubes competitivos e ambiciosos (e mais estáveis desportivamente que o Belenenses). É um homem que, no meu entender, tem a visão do muito que nos falta... e existe nesses outros clubes.

Uma palavras sobre a prospecção. Pode-se deduzir do que enunciei que não estou de acordo com uma independência em demasia do responsável pela prospecção em relação ao responsável máximo pelas equipas de futebol (que entento deve ser o Director-Geralm repito). Por outro lado sei que se tentou fazer mais, como já referi, mas é nítido que ainda está muito por fazer. Já em vários espaços azuis (noutros blogues e na ML, já há mais anos) se esboçaram planos interessantes para um Gabinete de Prospecção (que por aqui chamo de Departamento, tanto faz). Se muito do que se disse já tivesse sido passado à prática o Belenenses poderia ser já um interveniente de “peso” no mercado de transferências. Por enquanto parece vingar ainda muito improviso e o aproveitamento da ocasião. Mas para não maçar os leitores com idéias que outros já avançaram (e muito bem), nomeadamente sobre a criação e manutenção de uma rede de olheiros qualificados, há só um aspecto que gostaria de destacar. É relativo a... “comissões”. Tradicionalmente quando se fala da existência de comissões para técnicos e/ou empresários (ou amigos e/ou familiares destes) logo tememos que o principal critério para certa uma contratação tenha sido de ordem pessoal (o enchimento do bolso dos ditos) do que propriamente o de beneficiar o Clube. Infelizmente foram dezenas e dezenas os casos que fundamentaram – e fundamentam - esses receios. E no que toca aos referidos técnicos e empresários, partilho totalmente desses receios. No caso de elementos designados pela SAD para a prospecção, porém, admito que se abra uma excepção. Mais, à falta de um modelo profissional, sou favorável a que se permita uma a entrega de uma “comissão”. Como prémio por boas prospecções, digamos. Como é que isto poderia funcionar? Bom, em primeiro lugar deve ficar uma vez mais claro que não é o “prospector” que decide a contratação, ao contrário de um técnico. As duas “mãos” têm de estar separadas. A de quem escolhe e a de quem aceita (ou não). Em segundo lugar há que prevenir obviamente qualquer situação de conluio, entre o “prospector” e quem decide as contratações ou entre o “prospector” e empresários, por via de quem decide. A solução reside no compromisso e na confiança. Há que estabelecer um vínculo forte e objectivos claros (uma vez mais) para o responsável pela prospecção. Respondendo directamente ao Director-Geral, ficará nas suas mãos, por assim dizer, se alguma vez se entender que não está a ser escrupuloso. Por outro lado e à semelhança do que ocorre actualmente, deve ser dada preferência a antigos e destacados atletas ou técnicos do Clube para chefiar e integrar a equipa. Sinceramente acho que o nosso Vítor Godinho ainda está um pouco “perdido” nas suas funções, ele que foi um esplêndido jogador formado com cunho “azul”. Poderá aprender e cumprir bem com o seu papel, mas o perfil ideal seria para mim um pouco diferente do seu. Mas repito, as tais “comissões” poderão ser um incentivo justo e motivador para que tenhamos um trabalho mais consistente e profissional, mesmo que os responsáveis não venham a ser profissionais – tout-court - da coisa.
E se é para “enriquecer” alguém, que sejam ex-atletas Belenenses (tantas vezes maltratados) e não técnicos e empresários! Estou meio a brincar, mas no meio disto tudo ainda vale muito a boa-fé. Porque se não nos calhar uma Direcção séria e honesta, comem todos e não há moralidade (já aconteceu). Ou se nos calhar uma Direcção que, sendo honesta, anda a leste do paraíso, comem muitos na mesma (também já aconteceu). Em suma e uma vez mais, “chuto” a responsabilidade para cima (e não é assim que deve ser?). Mas isso é algo subjectivo, a ver nas candidaturas que se apresentam.

Daqui passo a outro assunto que optei por centralizar de igual forma na figura do Director Geral: a execução da política de contratações/renovações. Como referi acima e no artigo anterior, tudo deve passar pelo Director-Geral, com o devido suporte do Director técnico e obtida, na medida do possível, a concordância do “mister”, uma vez que este é a pessoa mais qualificada – directamente envolvida - para entender quais são as carências do plantel (se não é, está lá a mais, claro). De outra forma os objectivos que se venham a traçar poderão ser um presente envenenado e o banco do Belenenses seja aliciante apenas para treinadores que não têm nada a perder e tanto lhes dá... ou não fazem mais do que perder. Quando e se porventura ocorrer alguma mudança de técnico, aí sim, o Director-Geral deverá ficar com poder de decisão acrescido nestas questões.

Dentro da política de contratações tem gerado bastante controvérsia a questão dos empréstimos. Como encaixa em tudo o que tenho vindo a dizer? Esta questão poderá ser tanto mais delicada quantos os vectores concorrentes e revestir-se de importância diversa consoante o momento.
Por princípio creio que é unânime dizer que vale a pena ter jogadores emprestados só quando estes constituam uma valia indiscutível, não sendo possível o “recrutamento” por outra via devido a diversos impedimentos: primeiro porque existe a lacuna evidente no plantel, porque contratar em “definitivo” um jogador de tal valia é demasiado caro (ou já não há tempo) e as outras alternativas (dentro do plantel principal ou das camadas jovens) não dão garantias suficientes. Estruturando o raciocínio, facilmente se entende que a contratação por empréstimo deve ser um recurso subordinado à exaustão dos restantes: prospecção e formação. Por outras palavras, um último recurso. E porquê?
A primeira razão é óbvia, um jogador emprestado é acima de tudo um elemento que está de forma temporária na equipa. Se é proveniente de uma equipa forte (ou clube rico) é natural que para lá queira voltar e mais, assim voltará se de facto fôr um excelente jogador. Se não voltar, das duas uma. Ou acabámos de descobrir um jogador útil para nós mas que não o é para equipas de topo (raríssimo, mas não impossível), ou então não tem a valia esperada (mais frequente). Sendo que neste último caso é de questionar seriamente o facto de terem-se preterido outras alternativas.
Note-se que quando refiro os empréstimos refiro-me a clubes que estão acima. Não é lógico nem natural que encontremos e queiramos lançar na ribalta jogadores de clubes de menos projecção ou valor que o nosso (nesse caso devíamos ter poder para contratá-los em definitivo).
Mas continuando, os jogadores emprestados têm uma utilidade muito reduzida para quem quer obter sucessos sustentados a médio e longo prazo. Desta forma a “espinha-dorsal” de uma equipa simplesmente não pode ter emprestados.
E quando digo emprestados há que ter em atenção que não são só aqueles que pertencem ao clube A ou B. Há muitos que detêm o próprio passe ou este pertence a terceiros que não um clube. Num aspecto fundamental todas estas formas de “empréstimo” (estou-me a lembrar do Guga, por exemplo) são similares: não oferecem garantias de um vínculo minimamente estável (aliás nenhuma garantia a mais de um ano, na maior parte dos casos). E isso reflecte-se no rendimento desportivo dos próprios jogadores, mais propensos a “saltos” (a custo zero) que os outros, que têm vínculos mais “blindados”. O problema é que para o “salto” por vezes bastam umas excelentes exibições face a certos clubes, sendo secundário o sucesso da equipa como um todo. É claro que isto depende da honestidade de cada jogador, mas é um risco totalmente em aberto.
Mas para finalizar esta questão vou abordar finalmente o aspecto que tem sido destacado por muitos consócios como o mais “problemático”, que são os actuais empréstimos obtidos dos “dois”. Se repararem no critério que acima expus, sem referir o clube A ou B, desde logo não faria sentido ter a maioria dos emprestados que temos. Eu suponho que a concordância (não penso que tenha sido a iniciativa) do actual técnico para com os empréstimos recebidos se tenha devido aos impedimentos que acima referi. Nesse sentido não é novidade, quase todos os técnicos do Belenenses, pressionados pelo tempo e pelos resultados, optam por ter jogadores “temporários” mas que aparentemente dão garantias (como Marinho Peres com os brasileiros). Será que os actuais dão garantias? Será que têm a valia indiscutível? A resposta é não. E é não porque na sua maioria são jovens ainda em formação, não porque não possam ser bons jogadores no futuro (mas o futuro não vai ser cá, nesse caso!). Ou seja, os que cá estavam não serviam, os que estamos a formar nas nossas camadas não serviam, pelo que optámos por formar e promover um pouco mais os jogadores de “canteras” alheias. Atudo isto juntamos o facto de pertencerem a clubes tradicionalmente rivais, senão mesmo muitas vezes inimigos do Belenenses. Com isso e para além da vassalagem a clubes que deviam ser adversários e “não senhores”, fica a perder a identidade da equipa (e do Clube) perante os sócios e adeptos. Quanto à questão dos jornais e da exagerada e tendenciosa cobertura dos jogadores dos seus clubes, sinceramente não me chateia por aí além. E quanto às declarações dos jogadores, como referi no início, têm sido o mais naturais possível dadas as circunstâncias. Uma vez que cá estão, preocupa-me o seu desempenho. Se se conseguirem motivar e empenhar como os outros (ou até mais, o que não deixa de ser meritório), não tenho nada a apontar enquanto vestirem de azul.
Mas se de facto estes são uma solução de recurso, há que preparar soluções definitivas. Veja-se por exemplo o caso dos nossos pontas-de-lança. O nosso Antchouet, com muita compreensão minha, pretende escolher outras paragens para não estagnar nesta Supercoisa, algo que já tinha avisado há mais de um ano (entretanto continua a dar ao litro, como profissional brioso). Ora, se o Lourenço agradar ao Sporting, ele aí vai. Se o Rodolfo agradar ao Benfica, ele aí vai. Resultado: temos que refazer toda a frente de ataque daqui por uns meses. A menos que... o Lourenço e o Rodolfo fiquem, o que não é exactamente reconfortante. Se não servem para Sporting e Benfica, porque hão-de servir para nós? Quando é que voltamos a ter jogadores formados por nós e cobiçados pelos outros?
Concluindo esta questão, volto ao princípio. Como idéia forte a transmitir aos nossos responsáveis, antes de “escolher” o sim ou não a empréstimos de A ou B, sou pelo estabelecimento de uma política clara com critérios claros, uma vez mais. No que toca aos critérios desportivos - e apesar de achar que devem ser competência dos técnicos e do DG – creio que é claro que quaisquer empréstimos são pouco benéficos para o sucesso a médio e longo prazo. Nesse sentido, mais do que 2 ou 3 “emprestados” já é muito. Mas mesmo acima da política, devem vir as questões estruturais e de competências. Se é pedido o sucesso a médio e longo prazo tendo em conta determinadas restrições orçamentais, é muito importante que os responsáveis técnicos (“mister” e também DG) tenham competência e a perfeita noção se têm uma estratégia adequada (ou não) para o efeito. E aqui só tenho clara uma coisa, o que serviu para esta época não vai servir para a próxima. Porque vamos pedir mais, não apenas esquecer a quase-descida da época anterior e ganhar tranquilidade.
Com isto poderão dizer alguns que a actual equipa técnica não faz mais do que tentar desenrascar privilegiando o recurso a jogadores dos “dois”, pelo que não merece uma atribuição de poderes acrescida. Será assim? Quem terá decidido que seriam Sporting e Benfica os “fornecedores” de recurso? Terá sido uma opção meramente técnica? A mim parece claramente que não. E então? Só me resta subir de novo o patamar e tentar formular tudo isto de forma estrutural e abrangente. Vou resumir então: os critérios principais para a escolha de jogadores deverão ser de ordem técnica, excluídos apenas os casos “irreais” (financeiramente falando); em seguida devem ser privilegiados os jogadores que possam vingar a médio prazo na nossa equipa, tendo valor acrescido os da “cantera”, supostamente mais imbuídos do espírito do Clube, mas também outros jovens de outros clubes que possam vincular-se definitivamente: ou seja, entra a formação e a prospecção selectiva; em seguida e de forma incontornável virá o aspecto financeiro. E é aqui que os emprestados, tendo passado todos os “filtros” anteriores, podem ser uma alternativa admissível. Se foi por aqui que chegámos à situação actual, não posso deixar de compreendê-la em parte. Mas o pior é se houve OUTRO critério ainda, do qual suspeito mas gostaria que não fosse verdade: que as relações político-institucionais com aqueles clubes tenham determinado os empréstimos. Que a vinda de dois jogadores do SLB, apesar de desmentido, tenha sido parte do recebimento compulsivo relativo ao caso “Paulo Madeira”. Que a vinda dos emprestados tenha sido um gesto de amizade institucional para cair nas boas graças dos outros grandes de Lisboa. Que qualquer uma destas razões ou semelhantes tenham influenciado os empréstimos. Isso não é admissível e só encontro determinados responsáveis como prováveis mentores de tal coisa. Não pode ser. Repito, os critérios têm que ser técnico-deportivos, logo financeiros e só depois (e se fôr relevante), “políticos”. Não digo que a “política” não possa determinar algo. Os técnicos podem por exemplo solicitar a contratação de jogadores pertencentes a clubes ou associados a indivíduos indesejados. Aí sim, e como referi no primeiro artigo, cabe ao grande “chefe” o direito de veto. Mas que não se invertam os critérios e as responsabilidades. Uma vez mais, essa é a minha grande mensagem.

Outro assunto de contratações que gerou algum “sururu” foi a do Renato. A informação sobre o processo foi vaga, sendo de notar algum desconforto do técnico, logo quando descobriu que tinha um central a mais e um lateral a menos (o Cristiano). Será que, contrariamente ao que advogo, a aplicação dos critérios técnicos não foi entregue em primeiro lugar aos técnicos/Director-Geral? Se assim não foi, não acho a situação muito “saudável”. Atenção, não digo que o Renato não possa ser bom, nem que o nóvel e ainda pouco experimentado recurso a fundos de jogadores não seja interessante. Bem pelo contrário, como aliás gostaria de analisar num artigo futuro (existem alguns “senãos”). Mas espero sinceramente que pelo menos o Director-Geral tenha sido envolvido na tomada de decisão. Senão a situação poderá ser ingrata para o próprio jogador, um jovem que parece tímido e bem-intencionado. Repito, em circunstâncias normais e se tudo estiver conforme, o interesse dos fundos em lançar jogadores no nosso Clube até é de certa forma lisonjeiro (que dizer que ainda mantemos uma projecção mínima!).

Perante tudo isto não penso porém que o papel dos restantes dirigentes (acima do DG, fundamentalmente o Presidente da SAD) deva ser menos interventivo. Sim, defendo menos intervenção - mas MAIS exigência - em certas questões, mas o seu papel é essencial noutras. Mas houve um caso passado que reflecte ainda melhor as dificuldades do Belenenses em todas estas questões. Sucedeu-se aqui há uns anos, mas como envolve um dos candidatos, falarei nele mais adiante. Como já referi, farei a apreciação das candidaturas depois de expostas as minhas idéias.

Existe um outro grande tema de reflexão que opto por deixar de fora, precisamente porque requer muitíssima reflexão e não é de todo consensual. Estou a falar da eventualidade de termos uma SAD controlada por um accionista maioritário que não o Clube. Já acontece lá fora, nalguns casos com muito, muito sucesso, noutros já não tanto, quando não mesmo desastres completos. Por ser um assunto que testa as fronteiras actuais do futebol europeu é prematuro fazer juízos. Já chega de areia para a nossa camioneta! Mas vale a pena reflectir, algo que procurarei fazer também noutro artigo.
Assim sendo e no que ao futebol da nossa SAD diz directamente respeito, fico por aqui.
Falarei nos artigos seguintes nas outras questões referidas no primeiro artigo, sobre a Imagem e Relações Públicas, Finanças, o Marketing/Merchandising para o futebol, Parcerias, outras áreas de negócio (como o Imobiliário) e o papel da SGPS. Ainda com os olhos na SAD, ainda com os olhos no centro do que é o meu Belenenses, o Grande Clube de Futebol “Os Belenenses” (ainda que seja “Os Belenenses SAD” o nome).



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