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Golfinhos ou navegadores?



Na sequência do artigo do Henrique Amaral em articulação, salvo erro, com o Azinheira do nosso confrade blogue Belenenses Timor, sobre a atribuição de um nome mais condicente com a relidade do Belenenses, fazendo a associação dos Navegadores ao espaço específico onde se situa a nossa Sede Desportiva e todo o Complexo, aproveito o ensejo para dar continuidade à discussão, uma vez que em tempos foi determinante a acção da Direcção de Sequeira Nunes de nos associar aos Golfinhos.
Eu até gosto do bicho e muito brinquei com eles quando frequentava as praias do Sado, mas é indubitável que a associação do Belenenses a um bicharoco que apenas brinca, possuído, embora, de uma inteligência difícil de acreditar se com eles não convivermos, como foi o meu caso, para além de "clube simpático" que já somos, mais domesticados ficamos. Por culpa própria.
Desgosto da associação de bichos do tipo dos outros estarolas.
mas, nem tanto ao mar, nem tanto á terra.
Golfinho é simpático demais para quem quer posições europeias.
navegadores até gosto e propiciaria venda de produtos em abundância com o símbolo do clube.
Imagine-se um sextante, um padrão de descobrimentos, estandartes múltiplos, caravelas, naus, etc. com o emblema do Belenenses. Já imaginaram a fonte de receita que daria?
Vamos então à questão da hipótese dos golfinhos na prosa de Homero Serpa, publicado no jornal "A Bola":
Os golfinhos subiam o Tejo atrás das fataças que iam desovar nas valas ribatejanas. Saltavam,adoidados, das águas e eu, frequentador assíduo da muralha de Belém, observava-os,naqueles exercícios ondulantes e sistematizados.
Parece que as tainhas sobreviveram e ainda vivem no rio onde as cloacas despejam doenças emais insalubridades. Mas os golfinhos mudaram de residência, disseram adeus ao Tejo e,assim, o deixaram órfão de uma presença agradável.

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O mais belo e brincalhão animal do mar


Golfinho era o nome de um dos três submarinos da Marinha Portuguesa que, naquele tempo,habitavam a incipiente base instalada na doca de Belém, perto das instalações, também acanhadas, da Aviação Naval, de onde saiu aquela espécie de gafanhoto que atravessou o espaço aéreo do Atlântico Sul, navegado por Gago Coutinho e pilotado por Sacadura Cabral.
Dois daqueles navios descansavam das suas imersões atlânticas na placidez da doca, mas um terceiro ficava ao largo, ora com a proa apontada a montante, ora a juzante, ao sabor do ritual das marés.
O meu tio Mário, que jogara no Belenenses e tinha como episódio festivo um golo marcado do meio campo ao F. C. Porto, no campo da Constituição, era tripulante do Golfinho. Cada vezque o Golfinho partia, Tejo fora, a família ficava preocupada, embora o meu tio jamais tivesseposto em causa a segurança do submersível.
Numa tarde límpida e serena, da exígua ilha de areia que rodeava a Torre, vi o Golfinho recortado no horizonte cinabrino. Já tinha cruzado a barra e deixado a estibordo a silhueta original do Bugio solitário, navegava na direcção da base, dividia as águas do Tejo com desvelos de amigo. Não as fendia com arrogância, não levantava escarcéus de espuma, apenas deslizava suavemente por aquela sempre sonhada estrada do regresso. Por causa desse doce navegar, às praias da Trafaria, de Algés e de Pedrouços, não chegou ondulação que assustasse: as canoas e as chatas, fundeadas para além da rebentação, apenas balançaram um pouco, empinando-se como cavalos assustados, e os banhistas lamentaram não poderem brincar na crista das ondas como meninos na redoiça.
Só mais tarde soube pelo meu pai que o Golfinho, devido a qualquer problema ocorrido nas complexas entranhas, correra sérios riscos de se afundar no mar alto, a boa distância da costa. Podia ter caído no fundo lôbrego do oceano porque parece não ter respondido, em tempo normal, à manobra de emersão, acabando, porém, por subir à superfície num salto prodigioso que o libertou da morte. «Não houve medo, aguentámo-nos firmes nos nossos postos, mas foram minutos terríveis» - confessou o meu tio Mário durante um jantar em casada minha avó. ~

Foram dois factos recentes que me sugeriram o tema de hoje: o trágico afundamento do Kursk, necrópole de aço para 118 marinheiros russos, que foi buscar à minha memória oincidente do Golfinho, e a escolha do popular cetáceo para mascote do Belenenses.
Neste momento o golfinho que os belenenses adoptaram e fizeram entrar no nosso jardim de animais de pelúcia é o único que Belém conhece. Os golfinhos, esses seres superiores dosmares, deixaram de arribar ao Tejo; o submersível Golfinho, que, felizmente, nunca torpedeou qualquer barco, resistiu à corrosão e aos anos de serviço.. Morreu de velho e de bem com a consciência das suas tripulações.
Estou tentado a levar a ideia do Belenenses à conta de um devaneio com sabor marítimo,talvez seja apenas uma invenção comercial, uma descoberta que coloca o clube a par dos clubes lisboetas de mais nomeada, que vendem, nas suas lojas, animais de estimação.

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Será que é este o símbolo por nós a adoptar?

A adopção do golfinho como símbolo do Belenenses, um Belenenses cor-do-mar, um Belenenses da praia, um Belenenses ribeirinho, com milhares de adeptos espalhados por vários pontos do litoral, não traz mal ao mundo nem representa uma iniciativa pueril. Mas não pode ter o significado vasto e sensorial implícito no leão e na águia representados nos emblemas do Sporting e do Benfica, aliás ainda no do Sport Lisboa. Quando utilizamos os termos «leões» e «águias» mantemos realmente linhas alegóricas iniciadas no passado, falamos de caracteres profundamente enraizados na população desportiva. O Belenenses não pode nem deve desejar que o imaginem um golfinho. Desde sempre que os belenenses são designados por «azuis» ou por representantes da cruz de Cristo.
Mas a intenção não foi, com certeza, a de alterar os símbolos genuínos a favor de umaplástica nova. Enfim, o golfinho até merece, pela sua inteligência e sociabilidade, ahomenagem dos sucessores dos rapazes da Praia.



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