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Tolerância zero?



In RTP, por Joaquim Rita


Agora, resta mesmo saber se acabou a a bagunça ou, se ao invés, prevalece a chico-esperteci saloia


Com a serenidade, coragem e paz de espírito de um crente pagador de promessas, Hermínio Loureiro está a cumprir o que prometeu quando tomou posse da presidência da Liga de Futebol Profissional - mudar o futebol português.

Não me custa confessar que as movimentações iniciais de um homem da política a querer meter-se no grande futebol me despertou alguma desconfiança. Não pela ausência de passado futeboleiro de Hermínio Loureiro - que tem redundado numa enormíssima vantagem, quanto mais não seja pelo distanciamento e descomprometimento - mas pela sua proveniência.

O discurso de tomada de posse, revelando um caderno de encargos tão bem intencionado quanto melindroso, mais me aguçou a expectativa - a empreitada parecia volumosa e, porventura, geradora de conflitualidade. Afinal, o meu cepticismo tem vindo a ser desmentido e, reconhecidamente, o futebol português respira hoje melhor, por um amontoado de razões:

- a verdade desportiva tornou-se aparentemente mais transparente;

- a ideia de impunidade foi-se desvanecendo;

- os processos mais incómodos foram arrancados das bolorentas gavetas sem fundo;

- a justiça cumpre atempadamente o seu trajecto, embora sejam susceptíveis de discussão os mecanismos jurídicos que enformam as decisões dos Órgãos;

- o caudal competitivo foi engrossado com a Taça da Liga;

- os clubes retiraram proveitos financeiros do nascimento de mais uma competição.

Apesar destes passos saudáveis, os salários em atraso que têm infectado o futebol português constituem uma sombra negra, não sobre a verdade dos resultados, mas sobre a moral das classificações. Também esta maleita foi agora definitivamente erradicada, com a decisão da Liga de Clubes de punir severa e exemplarmente os incumpridores para com os seus jogadores ou treinadores.

Acabou-se a bagunça.

Já a partir da próxima época será obrigatório um (novo) requisito para que os clubes possam aceder às competições da Liga: a inexistência de dívidas salariais. Esta exigência data do passado dia 26, aprovada em reunião da Comissão Executiva, após parecer prévio favorável da Comissão Técnica de Estudos e Auditoria.

Acabou-se a bagunça.

O incumprimento financeiro relativo à época anterior (no caso a de 2007/08) constitui «fundamento para o impedimento de participação, desclassificação para a Divisão inferior, perda do direito de promoção ou de exclusão das competições profissionais». Assim, a prova de ausência de dívida dos seus profissionais (ou ex-profissionais) será feita através de uma «declaração emitida pelo clube (ou SAD), subscrita pelos seus legais representantes e certificada por Revisor Oficial de Contas ou Sociedade Revisora de Contas, da inexistência de situações de dívidas salariais a jogadores e treinadores com referência à época 2007/08».

Acabou-se a bagunça.

Mercê desta medida purificadora, todos os clubes passarão a estar em pé de igualdade, deixando de ser beneficiados ou protegidos (por ausência de legislação punitiva) os incumpridores. A imoralidade de ver descer de divisão clubes religiosamente cumpridores das suas obrigações salariais e outros, com meses e meses de salários por pagar, serem contemplados com a permanência, chegou ao fim.

É inegável que poderemos estar em presença de uma revolução no futebol português, mas ninguém de boa fé negará a justiça desta medida e, por arrastamento, o aplauso a Hermínio Loureiro. Ou muito nos enganamos ou começa a esboçar-se um sucessor para Gilberto Madail...

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